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13 de setembro de 2017

Setores público e privado se unem para aprimorar segurança nas estradas

Os números mundiais impressionam. Por ano, 1,3 milhão de pessoas morrem em acidentes com veículos, e entre 20 milhões e 50 milhões ficam feridas – um contingente semelhante ao da população de Minas Gerais ou da Austrália. A urgência em frear essas cifras fez a Organização das Nações Unidas (ONU) lançar, em 2011, a Década de Ação pela Segurança no Trânsito, coordenando esforços para reduzir os índices pela metade até 2020.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), braço da ONU que capitaneia a campanha, deixou claro que seria necessária a participação de todos os segmentos, não só dos governos. Um grupo de empresas engajou-se no tema e criou, em 2014, a iniciativa Together for Safer Roads (TSR, Juntos por Rodovias mais Seguras). A ideia é fazer com que “conhecimentos, dados, tecnologias e redes de contatos sejam usados colaborativamente com governos, legisladores e outros interessados no assunto da segurança nas estradas”, explica o presidente da entidade, David Braunstein.

No início, eram três companhias. Hoje, são 15. “O crescimento é sinal da importância que o setor privado tem dado ao tema desde a implantação do programa das Nações Unidas”, avalia Braunstein.

Entre seus membros estão empresas tão diferentes quanto a gigante de bebidas AB InBev (dona da Ambev), a seguradora AIG, a empresa de entregas UPS, a companhia de tecnologia IBM e a administradora espanhola de rodovias Abertis – acionista, ao lado da Brookfield, da Arteris (estão sob sua gestão nove concessionárias, entre elas as responsáveis pela Régis Bittencourt e pela Fernão Dias).

União de esforços

A diversidade de negócios representada na TSR é um indicativo, segundo Braunstein, de que “todas as empresas, não importa seu campo de atuação, precisam tornar mandatório o investimento na segurança do trânsito”.

Esse engajamento se justifica por si só – reduzir o número de óbitos já é motivo suficiente –, mas há outro fator essencial: o problema afeta diretamente o setor privado. Segundo a TSR, do 1 bilhão de veículos em circulação no mundo, 300 milhões são corporativos.

Além disso, colisões, atropelamentos, capotamentos e ocorrências similares custam dinheiro. A OMS estima que as perdas ligadas a ferimentos e mortes nas estradas cheguem a US$ 518 bilhões ao ano, boa parte relacionada a despesas com serviços de saúde e reabilitação. Os jovens são vítimas frequentes – acidentes representam a principal causa global de morte entre pessoas com 15 a 29 anos.

Como a questão atinge todos os tipos de países (embora os pobres sofram mais), a diversidade geográfica de atuação da TSR é tão ampla quanto os ramos de negócios de seus membros, e abrange basicamente todos os lugares em que eles atuam.

Os resultados estão aparecendo.

Na cidade chinesa de Xangai – onde se registravam 3,73 mortes no trânsito para cada 100 mil pessoas, o dobro de Hong Kong (1,7) e Tóquio (1,6) –, a TSR estabeleceu uma colaboração entre setor privado, governo, academia e organizações não governamentais. A finalidade, conta Braunstein, era identificar pontos de colisão, melhorar a segurança na condução de veículos comerciais e educar os motoristas. De 2015 a 2016, segundo o presidente da entidade, a força-tarefa conseguiu zerar as fatalidades na rodovia Longwu, uma das principais da região.

Programa-modelo

E no Brasil? Muitos membros da TSR têm negócios por aqui, então o País também entrou em seu raio de ação. E com resultados tão bons que uma das iniciativas está sendo levada a outros lugares do mundo.

Trata-se do programa Vida Dê Preferência: Movimento Paulista de Segurança no Trânsito, que une o governo de São Paulo e parceiros privados como a Ambev e a Arteris. Um dos eixos do programa é levantar dados precisos sobre acidentes (local, per l da vítima, tipo de veículo) para, então, traçar políticas públicas que combatam o problema.

De 2015 a 2016, o programa paulista trouxe um declínio de 5,8% nas mortes. Em 15 municípios prioritários, a queda foi ainda maior, de 10,7%. E a estimativa é que 2017 se encerre com novo recuo, de 8%. “A TSR apresentará o projeto em um encontro internacional sobre segurança nas rodovias com o objetivo de buscar sua adoção global”, conta Braunstein.

Na Régis Bittencourt, uma série de medidas – incluindo melhoria em infraestrutura e manutenção frequente de pista e sinalização – conseguiu diminuir pela metade a quantidade de óbitos, cumprindo a meta da ONU.

“Nós cuidamos de 3.250 quilômetros de vias, e sabemos sobre cada ponto onde há um acidente: o porquê, mapeamos os locais críticos e atuamos”, diz o diretor presidente da Arteris, David Díaz. “Por exemplo, podemos mudar o traçado da estrada ou, em casos de atropelamentos, construir passarelas.”

Ações colaborativas

Uma medida fundamental para conseguir melhorias como essas é recorrer a mobilizações intersetoriais – uma das diretrizes preconizadas pela TSR. “Fazemos um trabalho com caminhoneiros para ressaltar a importância do descanso e da alimentação saudável na prevenção de acidentes nas rodovias”, conta Díaz. “Também incentivamos a manutenção dos caminhões, principalmente em regiões serranas.”

A companhia mantém ainda parcerias com a academia – há projetos com a Universidade Federal de São Carlos (pesquisa sobre tipos de fiscalização mais e ciente) e com a Escola Politécnica da USP (cátedra para incentivar estudos de engenharia e segurança de trânsito).

Até mesmo quem ainda não dirige está no foco da empresa. “Temos um projeto de médio e longo prazo para promover educação para o trânsito”, conta Díaz. Iniciativas similares vêm sendo adotadas pela Abertis nos outros países onde administra rodovias.

“Fazemos muitas ações de pedagogia, temos de acompanhar as pessoas durante toda sua vida”, declara o diretor de relações institucionais da multinacional espanhola, Sergi Loughney. “Os jovens, por exemplo, precisam saber que não são super-homens. Após os 65 anos, já entram questões médicas em jogo.”

A educação tem papel crucial na meta mais ambiciosa da Abertis: zerar a fatalidade no trânsito. “Por mais que melhoremos a infraestrutura das estradas, há questões que só se resolvem educando os motoristas”, comenta Loughney.

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