Revista SIM

02 de outubro de 2018

Infraestrutura como motor do crescimento econômico

David Díaz (foto acima) é, desde 2013, presidente da Arteris, uma das maiores operadoras de rodovias do Brasil, que administra nove concessões, com mais de 3,4 mil km, nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. O Grupo, que investiu no último ano R$ 2,2 bilhões no País, atua para impulsionar o desenvolvimento da infraestrutura necessária ao crescimento sustentável do Brasil. A entrega da segunda pista da Serra do Cafezal, na rodovia Arteris Régis Bittencourt (foto abaixo), é exemplo desta contribuição. Uma das obras mais desafiadoras dos últimos tempos permitiu ampliar as condições de segurança e de tráfego deste importante corredor logístico nacional. O compromisso da Arteris com a redução de acidentes e fatalidades no trânsito e a busca constante por aprimorar os serviços prestados também inspiram a companhia a olhar para as transformações do futuro próximo, aceleradas pelas novas tecnologias, que geram oportunidades para promover rodovias mais inteligentes que salvam vidas.

Nesta entrevista, Díaz analisa a importância do investimento em infraestrutura para o avanço econômico brasileiro, aponta as oportunidades e desafios para o desenvolvimento do setor de concessões rodoviárias e, em um cenário de transformação da mobilidade, reflete sobre como a inovação pode contribuir para aprimorar as condições de segurança viária e da prestação de serviço aos usuários das rodovias no País.

Como vê a situação econômica e a contribuição que o setor de infraestrutura rodoviária pode dar para o avanço do país neste momento?

David Díaz: O Brasil está saindo de uma das  maiores crises de sua história, e precisamos ser otimistas quanto ao seu futuro. É um país enorme, com um mercado doméstico muito grande, recursos naturais e uma população ainda jovem. Trabalhamos com visão de longo prazo, assim entendemos que o Brasil apresenta muitas oportunidades. Uma ação necessária, e que será um dos motores do crescimento econômico, é melhorar a sua infraestrutura. O Brasil é a 8ª economia do mundo, mas figura ao redor da 70ª posição em rankings mundiais de qualidade de infraestrutura, um lugar distante do que o País pode e precisa alcançar. O caminho, então, passa por novos investimentos em infraestrutura para aumentar a produtividade e a competitividade, e para reduzir o custo Brasil – sem contar o efeito multiplicador que os investimentos em infraestrutura têm sobre toda a economia, gerando mais empregos, riqueza e renda. Nos últimos anos, o Brasil vem aplicando em média 2,14% do PIB em infraestrutura – no ano passado, foi 1,69%, o equivalente à depreciação da infraestrutura existente. Estudos sugerem que o Brasil precisa multiplicar esse valor por três ou por quatro para começar a reduzir o déficit de infraestrutura estimado em mais de R$ 1 trilhão. Países em desenvolvimento, como a China, a Índia, o Peru, a Colômbia, investem percentuais muito superiores.

Como conciliar a necessidade de investimento com a difícil situação fiscal do País?

David Díaz: O Brasil hoje tem um déficit fiscal importante. Seguramente esse será o maior desafio do próximo governo. Pelo tamanho das necessidades de infraestrutura, o investimento público continuará sendo muito necessário, mas é preciso estimular o investimento privado no setor – e as concessões constituem um bom instrumento nesse sentido. Mesmo com todas as dificuldades, o Brasil continua atraindo muito investimento direto estrangeiro, na casa dos US$ 80 bilhões por ano, pois as empresas globais sabem que precisam estar aqui — um mercado com mais de 200 milhões de consumidores.

 

Como aumentar os investimentos em infraestrutura?

David Díaz: Investimentos em infraestrutura são por natureza de longo prazo – 25, 30 anos, até mais. A decisão do investidor então depende de uma análise ampla que envolve fatores e condições como boa qualidade de projetos, marco jurídico sólido e estável, respeito aos contratos, taxas de retorno atrativas, agências reguladoras sólidas e estabilidade política e econômica. É importante que o país continue avançando no planejamento de infraestrutura de longo prazo, que tenha um plano não de governo, mas sim de Estado. Se tiver essas premissas atendidas, o capital privado, seja ele nacional ou estrangeiro, virá.  Financiamento de longo prazo também é uma questão importante, mas não considero que seja hoje um dos maiores desafios. Temos o BNDES e o mercado de capitais, agora com as debêntures de infraestrutura incentivadas, crescendo muito também, demonstrando que não faltam recursos privados para financiar bons projetos administrados por acionistas de qualidade.

E quais são os desafios no próprio setor necessários para acelerar o desenvolvimento das concessões de infraestrutura?

David Díaz: É muito importante que se priorize o fortalecimento dos quadros das agências reguladoras, dando maior autonomia política e econômica, de forma que tomem decisões com base em critérios exclusivamente técnicos, e não políticos. Também é preciso maior clareza sobre as fronteiras de atuação delas e dos órgãos de controle, além de maior celeridade à tomada de decisões por parte dos órgãos públicos. Mas as coisas vêm avançando. A nova Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro aumentou a segurança jurídica do funcionário público, favorecendo ao mesmo tempo decisões mais ágeis, por exemplo, nas próprias agências. Tem havido também um diálogo transparente entre os setores público e privado. Várias entidades, como a Associação Brasileira de Concessões de Rodovias (ABCR), a Associação Brasileira de Infraestrutura de Base (Abdib) e própria Confederação Nacional dos Transportes (CNT), têm elaborado importantes propostas para aprimorar todo o sistema.

Novas tecnologias estão sendo desenvolvidas no mundo para aprimorar o setor de transportes. Como esse movimento impacta as rodovias?

David Díaz: Essas inovações vão ajudar muito o setor. Um dos nossos principais desafios, por exemplo, é a segurança viária. Estamos absolutamente empenhados em reduzir os acidentes e as fatalidades – e essas tecnologias contribuirão muito para isso. Elas também ajudam a melhorar a qualidade das rodovias e o nível do serviço que prestamos aos usuários. Vou citar alguns exemplos – mas existem muitos outros já em funcionamento ou em desenvolvimento: temos parceria com o Waze para troca de informações entre usuário e concessionária sobre as condições das rodovias; câmeras OCR (Optical Character Recognition), que leem as placas dos veículos; painéis de mensagens variáveis, que alertam os usuários sobre situações nas rodovias. Iremos também implantar rede wi-fi em nossa concessão Arteris ViaPaulista, que facilitará a comunicação dos usuários com nossas equipes de atendimento. Também empregamos novas tecnologias em asfalto que conferem maior atrito ou capacidade de drenagem, para aumentar a segurança na chuva, e dispositivos como defensas metálicas e barreiras de concreto, que reduzem a gravidade dos acidentes e suas consequências. Nossas rodovias também são equipadas com câmeras inteligentes que identificam automaticamente condições anormais, como andarilhos caminhando no acostamento ou veículos parados, emitindo alerta para as equipes de Operação. Adotamos ainda um sistema de telemetria para monitorar a movimentação dos nossos veículos de serviço, o que reduz o envolvimento deles em acidentes e até o consumo de combustível. Já para um futuro próximo, acreditamos que a inteligência artificial e a big data vão gerar muitas oportunidades para aprimorar nossos serviços, como o recurso de chatbot, que estamos desenvolvendo para atendimento dos nossos usuários no ambiente digital.

Quais são os desafios para melhorar ainda mais a segurança nas rodovias?

David Díaz: No Brasil morrem mais de 40 mil pessoas por ano, muitas delas jovens, provocando prejuízos incalculáveis para suas famílias e para o País. Um dos maiores desafios para reduzir esse quadro é mudar o comportamento dos usuários. As pesquisas que fazemos mostram que muitas pessoas ainda dirigem em excesso de velocidade, não utilizam o cinto de segurança, caminham no acostamento ou cruzam as rodovias em locais proibidos, quando há passarela perto – sendo que um terço das fatalidades envolvem pedestres. A Arteris está trabalhando forte nisso. Temos o Projeto Escola Arteris, cujo objetivo é formar jovens por meio de valores, exercício da cidadania e estímulo do convívio social, para que eles sejam embaixadores de um trânsito mais humano e seguro. Temos também vários programas voltados a motociclistas, caminhoneiros e motoristas de um modo geral, que reforçam a importância de respeitar as leis. Fazemos também um trabalho cuidadoso, baseado em registro e análise de dados, para identificar os pontos críticos e agir em relação a eles de forma preventiva, visando reduzir acidentes e fatalidades. A resposta rápida da ambulância, do atendimento pré-hospitalar, é outra medida importantíssima que tem salvado muitas vidas. Todo este grande esforço já resultou na redução de 34% das fatalidades nas rodovias administradas pelo Grupo, nos últimos quatro anos.

Como melhorar ainda mais a segurança dos caminhoneiros?

David Díaz: Transportadores de carga representam um dos nossos principais clientes – e garantir a segurança desses usuários é uma das nossas prioridades. Caminhoneiros têm jornadas de trabalho muito longas; então, a perspectiva é de viabilizar áreas de descanso e de transbordo de materiais em locais seguros e confortáveis para eles. Outra preocupação importante é conscientizá-los em relação aos riscos do excesso de carga – um fator responsável por grande parte dos acidentes de maior gravidade. Uma inovação importante nesse sentido são as balanças dinâmicas, que pesam o caminhão em movimento com grande precisão, ligadas a sistemas que identificam a placa do veículo. Essas balanças estão em processo de homologação, e sua implantação está prevista na concessão da Arteris ViaPaulista. Elas darão uma contribuição importante para a redução de acidentes.

Como vê a relação entre grandes companhias, como a Arteris, e startups e outros atores envolvidos no desenvolvimento dessas inovações?

David Díaz: Desenvolver novas tecnologias exige agilidade e capacidade de assumir riscos. As startups fazem isso muito bem. Queremos impulsionar o trabalho delas, colaborar, fazer a ponte entre elas, as universidades e as grandes companhias, formando uma combinação de forças que consideramos ideal para promover a inovação. Estamos muito empenhados em estimular esse ambiente de cooperação.

Como você acredita que serão as rodovias do futuro?

David Díaz: Um ponto importantíssimo será a informação. Assim como as smart cities (cidades inteligentes), teremos as smart roads (rodovias inteligentes), onde haverá muita informação sendo compartilhada, por meio de todas essas tecnologias, entre as rodovias e os veículos, que serão avisados de obstáculos, acidentes, possibilidade de chuva e outras condições durante todo o percurso. Outra característica esperada das rodovias do futuro será a contribuição para a questão energética, tendo no pavimento da rodovia, com a passagem dos veículos sobre a superfície, uma possível fonte para geração de energia. Se isso vai se tornar viável ou não, não me atreveria dizer, mas é uma possibilidade que pode ser explorada. Sem dúvida todos ganharemos com rodovias de maior qualidade, mais eficientes e seguras.

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