Revista SIM

02 de outubro de 2018

Inovações por um trânsito melhor e mais seguro

A demanda por transporte crescerá muito nos próximos anos – um fator de risco para o aumento de congestionamentos e acidentes. A boa notícia é que novas tecnologias estão sendo desenvolvidas no mundo para tornar as rodovias mais eficientes e seguras, como os veículos autônomos, a inteligência artificial e a fiscalização de tráfego inteligente. Implantá-las no Brasil será um grande desafio, mas ele pode ser superado por meio da união de esforços entre governos, universidades, concessionárias de infraestrutura rodoviária, indústria automobilística, startups e outros atores da sociedade.

Esses temas foram tratados no 5º Fórum Arteris: Segurança, Inovação e Mobilidade, realizado em São Paulo no dia 11 de setembro. O evento, voltado a profissionais que atuam na área, teve palestras de representantes de empresas como Abertis, Google, Waze, Mercedes-Benz, Localiza, Telefônica, Itaú e Natura, startups como TruckPad e RoutEasy, comandantes da Polícia Rodoviária, diretores da Arteris e outros especialistas.

Na abertura do evento, o presidente da Arteris, David Díaz, falou sobre a importância do trabalho colaborativo entre diferentes elos da cadeia dos transportes para aproveitar as enormes janelas de oportunidade que se abrem no mundo para a adoção de inovações que melhoram a mobilidade. “Startups e outros protagonistas da economia criativa no setor de pesquisa devem atuar em conjunto com as grandes companhias para se adaptar a esse novo contexto”, afirmou. “As mudanças da indústria automotiva, como o advento dos veículos autônomos e elétricos, aceleram também as discussões sobre as rodovias, que podem ser muito mais eficientes e sustentáveis.”

Presidente da Arteris, David Díaz, acompanhou os debates juntamente com profissionais que atuam no setor de transportes; no destaque, painel sobre a importância da fiscalização para garantir a segurança viária

Responsabilidade social

O primeiro painel tratou de “Como o propósito vem guiando os negócios para o futuro” e reuniu a superintendente de Relações Governamentais e Institucionais do Itaú Unibanco, Luciana Nicola; a vice-presidente de Marketing, Inovação e Sustentabilidade da Natura, Andrea Alvares; e a diretora de Comunicação, Marketing e Sustentabilidade da Arteris, Alessandra Silva de Vasconcelos. Em uma conversa mediada pelo diretor-geral da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), Hamilton dos Santos, elas falaram sobre a valorização cada vez maior que a responsabilidade social das empresas vem ganhando aos olhos da sociedade como um todo – especialmente de clientes e colaboradores das empresas.

A diretora da Arteris explicou que o propósito dá mais sentido ao trabalho. “É algo que inspira, que motiva”, disse Alessandra Vasconcelos. Segundo ela, a segurança das pessoas – dos usuários aos trabalhadores que executam obras nas rodovias – é uma causa abraçada por todos os colaboradores da empresa.

Na sequência, foram apresentados trabalhos realizados pela Arteris, no Brasil, e pela Fundação Abertis (do grupo de mesmo nome que é acionista da Arteris, juntamente com a Brookfield), em diferentes países, para educar e conscientizar crianças e jovens sobre segurança no trânsito. “Crianças e jovens vivem em um mundo feliz, pensando que são super-homens e que nunca lhes vai acontecer nada de mal. Infelizmente, as fatalidades acontecem”, disse Sergi Loughney, diretor da Fundação Abertis. “Os jovens precisam ter uma visão real das consequências que têm o consumo de álcool, de drogas e a falta de responsabilidade ao volante.”

Ele elogiou o Projeto Escola Arteris, que há 17 anos atua na promoção de um trânsito mais humanizado e seguro e já impactou mais de 17 mil professores e 300 mil estudantes de 630 escolas, em 150 municípios, por meio da inclusão de segurança no trânsito, cidadania e responsabilidade social na grade curricular dos alunos.

Painel sobre inteligência artificial: impactos até no transporte de cargas

Transformação das pessoas

A socióloga Luiza Futuro mediou um painel sobre “As pessoas do novo mundo exponencial”, que discutiu as transformações que vêm ocorrendo no comportamento humano com os novos horizontes abertos pela internet, pelos smartphones e por outras inovações. O country manager do Waze no Brasil, Leandro Esposito, falou sobre como o aplicativo vem ajudando a tornar o trânsito mais eficiente e seguro. A Arteris e o Waze mantêm parceria para o compartilhamento de informações sobre a situação das rodovias.

O gerente de Marketing e Vendas da Localiza, Gabriel Andrade, mostrou as ineficiências que podem ser eliminadas com o compartilhamento dos veículos, em substituição ao modelo de propriedade individual que “faz um ativo valioso como o automóvel ficar 22 horas do dia parado”. E abordou também a mudança de paradigma que faz com que novas empresas de tecnologia sejam ao mesmo tempo clientes, parceiras e concorrentes das companhias tradicionais.

A diretora de Pessoas e Organização da Arteris, Eliana Cachuf, lembrou que a empresa implementará a oferta de conexão Wi-Fi na Arteris ViaPaulista, melhorando a prestação de serviço aos usuários.

O piloto e empreendedor Lucas Di Grassi, envolvido em projetos de desenvolvimento e difusão de veículos de corrida elétricos e autônomos, fez uma palestra sobre os benefícios que essas tecnologias trarão para a sociedade. Ele ressaltou a importância da educação de motoristas e pedestres e da fiscalização do tráfego para a redução dos acidentes, mas disse acreditar que o grande salto disruptivo para salvar vidas no trânsito virá das novas tecnologias. “Um carro autônomo sempre vai obedecer às leis de trânsito, o que já vai melhorar muito a segurança”, afirmou.

Ele lembrou dos benefícios ambientais dos carros elétricos e disse também que essas tecnologias tornarão o transporte mais barato do que hoje, considerando o custo total de compra, manutenção e uso dos veículos. Ele citou um estudo realizado no ano passado pela Bosch que calculou o custo de operação de um táxi convencional atualmente e no futuro. “Hoje, custa US$ 2,89/km. No futuro, um veículo autônomo e elétrico vai custar US$ 0,43”, afirmou.

Di Grassi já foi campeão mundial da Fórmula E, primeira categoria do automobilismo a utilizar veículos totalmente elétricos. E está envolvido no lançamento, previsto para o próximo ano, da primeira classe dedicada aos autônomos, que dividirão a pista com pilotos humanos.

Philippe Fenain, da Abertis: é preciso preparar a infraestrutura para receber as inovações que despontam no setor de transportes

Inteligência artificial

Em outro painel, o gerente de Inovação da Mercedes-Benz, Fabain Seifarth, e empreendedores responsáveis por duas startups voltadas ao transporte de cargas – Caio Rena, CEO da RoutEasy, e Leandro Morais, da TruckPad – debateram como a inteligência artificial está ajudando a melhorar a segurança e a eficiência do setor. “De 30% a 40% dos caminhões trafegam vazios pelas rodovias”, lembrou o gerente da Mercedes-Benz, que no ano passado comprou parte da TruckPad, empresa que conecta caminhoneiros a donos de cargas, como uma espécie de Uber dos fretes. “Eliminar essa ineficiência é uma grande oportunidade”, afirmou Seifarth. Já o CEO da RoutEasy contou como a startup utiliza inteligência artificial para ajudar as empresas a ocupar melhor seus caminhões e definir roteiros de entrega mais eficientes.

Como serão os veículos e as rodovias no futuro? Esse foi o tema de uma mesa que reuniu o jornalista especializado Marcelo Moura, da revista Época Negócios; o diretor de Parcerias Estratégicas do Google para a América Latina, Alessandro Germano; e o diretor de Operações, Qualidade e Segurança da Abertis, Philippe Fenain; e com a mediação de Sylvio de Barros, empreendedor brasileiro responsável pela criação da WebMotors. Eles falaram sobre como as novas tecnologias podem ajudar o Brasil a melhorar o trânsito e reduzir as fatalidades.

O diretor da Abertis chamou a atenção para a necessidade de preparar a infraestrutura rodoviária para receber essas inovações. “Elas podem melhorar muito a mobilidade e a segurança do trânsito”, afirmou Philippe Fenain. “Mas será preciso fazer grandes investimentos.” Veículos elétricos, autônomos, conectados e compartilhados exigirão estradas com maior capacidade de transmissão de dados e com postos para recarga elétrica dos carros, só para citar dois exemplos. Diferentes países têm adotado formas próprias de enfrentar esse desafio, de acordo com as suas condições. Mas elas geralmente combinam recursos do setor público com parcerias que viabilizem os investimentos da iniciativa privada.

O 5º Fórum Arteris contou também com uma apresentação de Vilfredo e seu filho David Schürmann, da famosa família de velejadores brasileiros. Eles falaram sobre a importância que a determinação, o planejamento, o trabalho colaborativo e o cuidado com os detalhes tiveram na bem-sucedida decisão da família de trocar uma vida confortável no Brasil pelo sonho de velejar pelo mundo. O exemplo serviu de inspiração aos participantes do evento que têm o ideal de contribuir para tornar o trânsito brasileiro mais seguro e eficiente.

Fiscalização mais eficiente

As novas tecnologias também prometem melhorar o trabalho de fiscalização nas rodovias. Esse tema foi debatido em um painel mediado pelo gerente de Operações da Arteris, Elvis Granzotti, com a participação do diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Renato Dias; do comandante da Polícia Militar Rodoviária de São Paulo, Luís Henrique Di Jacintho Santos; e do diretor da Telefônica Inteligência e Segurança, Cristiano Alves de Oliveira.

O diretor da PRF falou sobre como as novas tecnologias tornam o trabalho da polícia mais eficiente. No passado, segundo ele, os agentes paravam dez veículos para registrar uma ocorrência de irregularidade. Radares e sistemas modernos, como o que lê a placa do carro e consulta automaticamente bancos de dados que informam se há pendências com o veículo ou o proprietário, fizeram esse índice cair para três abordagens por ocorrência.

Já o diretor da Telefônica citou a oportunidade de implantar sistemas de pesagem de caminhões em movimento para combater o excesso de carga, considerado uma das principais causas de acidentes com mortes. “Essa tecnologia já existe, funciona e foi implantada com sucesso em países como Polônia e República Tcheca”, afirmou Cristiano Oliveira. “Precisamos unir esforços para viabilizar sua implantação nas rodovias brasileiras.”

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