Revista SIM

02 de outubro de 2018

O desafio de mudar o comportamento dos motoristas

Mais de 90% dos acidentes são causados por falha humana.  A imprudência continua sendo uma das principais causas de fatalidades nas estradas. Pelo Atlas da Acidentabilidade no Transporte Brasileiro, feito pelo Programa Volvo de Segurança no Trânsito (PVST), excesso de velocidade, pouca distância em relação ao veículo à frente e ultrapassagem indevida resultaram em 1.140 mortes e 8.028 acidentes nas vias federais do País no último ano. Duas em cada 10 fatalidades foram em consequência desses fatores.

Segundo o especialista Pere Navarro, diretor-geral de Tráfego da Espanha, um dos maiores desafios para reduzir os acidentes é mudar o comportamento humano ao volante – e essa é uma missão de todos. “A sociedade precisa condenar com mais vigor os comportamentos de risco. Não é suficiente não dirigir se tiver bebido. Você também é responsável por evitar que alguém que bebeu com você saia dirigindo”, exemplifica. “Outra frente importante é incorporar a cultura de segurança viária nas empresas. Empresários e trabalhadores têm um efeito multiplicador.”

Leis e fiscalização

Para José Aurélio Ramalho, diretor-presidente do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), é preciso agir sobre as razões que fazem pessoas gentis na vida cotidiana se tornarem agressivas e violentas quando assumem a direção. “O mesmo indivíduo que segura a porta do elevador para seu vizinho entrar não dá passagem para outro veículo na rua. Há uma transformação quando a pessoa entra no carro”, aponta.

A questão da legislação é ponto crucial na opinião dos estudiosos de segurança viária. Punições mais severas forçam a mudança de comportamento.

Segundo a Bloomberg Philantropies, que atua em campanhas de segurança no trânsito em nível mundial, a maioria dos países não tem leis adequadas para combater negligências graves cometidas no trânsito.

Conscientização desde o ensino básico

A mudança de comportamento de motoristas passa também pela educação. O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) prevê ensino de normas de trânsito desde a pré-escola, mas há poucas iniciativas nesse sentido. Segundo Ramalho, do ONSV, países que reduziram os acidentes de trânsito adotaram, paralelamente à punição severa, três medidas no campo da educação: formação mais rigorosa de condutores, campanhas de conscientização sobre segurança viária e abordagem do tema desde o ensino básico. “É fundamental levar a educação de trânsito para as escolas da primeira à nona séries”, diz.

As campanhas também são importantes. Um bom exemplo é a campanha anual do Maio Amarelo, que registrou quedas significativas de acidentes com mortes em várias cidades, como Santo André (-33%), Petrópolis (-29%) e Campo Grande (-28%).

A Operação Lei Seca, no Rio de Janeiro, é considerada outro caso de sucesso. Em nove anos de atuação, a iniciativa resultou na redução de 45% no número de embriagados ao volante. Ao mesmo tempo, houve queda de 28% no registro de vítimas fatais e de 32% no número de feridos em acidentes de trânsito em todo o estado – mas principalmente na capital e na região metropolitana.

Educação de jovens para o trânsito

O Projeto Escola Arteris atua na promoção de um trânsito mais humanizado e seguro. São 17 anos de trabalho, com mais de 300 mil alunos de 630 escolas em 150 municípios impactados com a ação em todas as regiões de atuação da Arteris. São mais de 17 mil professores capacitados, para a inclusão dos itens segurança no trânsito, cidadania e responsabilidade social na grade curricular dos alunos. Em 2017, o Grupo iniciou uma nova etapa do Projeto, acolhendo, também, alunos de unidades da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) dos cinco estados em que atua.

Alunos das escolas da rede pública de ensino e estudantes das APAEs participam também do Fórum Arteris da Juventude pela Segurança no Trânsito, que busca formar embaixadores do trânsito, transformando os alunos em agentes de mudança.

O material didático é próprio do Projeto Escola Arteris e já está em uso nas atividades de capacitação de docentes. Ele traz conteúdos para abordagem com estudantes de várias faixas etárias e diferentes necessidades, disponibilizado também em braile. Este ano, para ampliar ainda mais a inclusão de deficientes, o Projeto Escola Arteris desenvolveu conteúdos multimídia com legenda em libras. Com isso, cada vez mais, a inclusão vem se constituindo como um eixo central do Projeto.

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