Revista SIM

01 de outubro de 2018

Fiscalização inteligente

No passado, os agentes rodoviários contavam com poucos recursos para garantir a boa fluidez e o respeito às regras de trânsito nas estradas, limitando-se basicamente à sinalização fixa e às blitze em pontos estratégicos. Mas esse cenário mudou bastante nas últimas décadas – e deve evoluir muito mais daqui para a frente. No mundo todo, novas tecnologias vêm aumentando a eficiência e o alcance das iniciativas para orientar e fiscalizar o tráfego.

A lista inclui câmeras e radares mais potentes, sinalização dinâmica, comunicação com aplicativos de navegação e até mesmo o emprego de drones na fiscalização rodoviária. E engloba também sistemas inteligentes que integram e analisam volumes cada vez maiores de dados em busca de padrões que orientem melhor as ações.

Essas tecnologias são fundamentais em uma nação com as dimensões do Brasil. Segundo a Confederação Nacional dos Transportes (CNT), o País conta com cerca de 210 mil km de rodovias pavimentadas, o que representa cinco vezes a circunferência da Terra. Só a Polícia Rodoviária Federal (PRF) é responsável pela fiscalização de 70 mil quilômetros de estradas. Mesmo contando com 10 mil agentes na ativa, não conseguiria dar conta de suas atribuições sem a ajuda da tecnologia.

Mais do que fotografar

O monitoramento é o principal foco dos sistemas inteligentes de controle de tráfego. Além dos sensores de velocidade fixos, a PRF conta hoje com centenas de radares móveis disponíveis para flagrar excessos na pista – boa parte já com a tecnologia a laser, que duplica o alcance do equipamento. As câmeras são outra fonte importante para o direcionamento das ações dos agentes. Mais do que simplesmente fotografar veículos cometendo infrações, elas são fundamentais para monitorar o fluxo de veículos, apontar congestionamentos, identificar veículos irregulares e comportamentos suspeitos.

Em março, a PRF lançou o Alerta Brasil, um sistema inteligente que lê a placa do veículo e cruza essa informação com diferentes bancos de dados, permitindo saber se ele consta na lista de carros roubados e se há problemas em sua documentação. O diretor-geral da PRF, Renato Dias, conta que o sistema avalia até mesmo inconsistências como a impossibilidade de um mesmo veículo trafegar em duas rodovias muito distantes em um curto espaço de tempo. “Isso nos ajuda a identificar veículos clonados”, afirma. O Alerta Brasil já está em operação em 300 pontos do País.

O comandante Luis Henrique Di Jacintho Santos, da Polícia Militar Rodoviária do Estado de São Paulo, também reforça a importância do uso de imagens para aumentar a segurança viária. “Com esse suporte, direcionamos esforços para os locais onde há um indicativo de maior número de veículos e maior probabilidade de acidentes”, diz. “O policial encarregado de monitorar essas câmeras pode identificar comportamentos inadequados ou anormais e encaminhar o agente mais próximo para fazer a abordagem.”

Telemetria

Outra iniciativa é o programa de telemetria desenvolvido pela Arteris Fluminense (BR-101) para controlar o desempenho dos 40 veículos que integram a sua frota de operação, cujos motoristas foram treinados e orientados a sempre respeitar os limites de velocidade, mesmo a caminho de atender ocorrências.

Os painéis dinâmicos, como os de LED, representam outro avanço importante, de acordo com os especialistas, ao possibilitar mudanças na sinalização conforme as condições específicas da rodovia em cada momento. Os aplicativos de navegação também contribuem muito nesse sentido. Eles permitem que informações importantes geradas pelos veículos – como congestionamentos ou acidentes – sejam levadas até os centros de controle operacional das rodovias. E viabilizam também a comunicação em sentido inverso, melhorando a qualidade dos alertas que os aplicativos emitem aos motoristas.

A tecnologia dos smartphones levou também para as mãos dos agentes de trânsito equipamentos que melhoraram muito a eficiência do seu trabalho, permitindo consultar rapidamente dados sobre o veículo e o motorista e emitir os autos de infração.

Outra tecnologia que integra o moderno arsenal de recursos à disposição da fiscalização rodoviária são os drones. A Polícia Rodoviária paulista já utiliza o equipamento para operações de segurança voltadas ao combate do roubo de cargas e do contrabando de mercadorias. Futuramente, os drones poderão ser usados também para monitorar o tráfego.

Com as tecnologias que já existem e com as que surgirão nos próximos anos, na esteira de inovações como os veículos elétricos, autônomos e conectados, espera-se que os sistemas de controle de tráfego se tornem ainda mais inteligentes no futuro. E as rodovias, mais seguras.

Trabalho em parceria

Um passo importante para o aumento da eficiência na fiscalização, segundo os especialistas, é a cooperação entre diferentes órgãos e empresas que atuam no transporte rodoviário. “Mantemos vários acordos de cooperação entre órgãos federais, estaduais e municipais – além da iniciativa privada – para compartilhar sistemas de monitoramento”, afirma Diego Brandão, porta-voz da Polícia Rodoviária Federal.

O comandante Luís Henrique Di Jacintho Santos, da Polícia Militar Rodoviária do Estado de São Paulo, destaca a importância da parceria dos órgãos públicos com as concessionárias de rodovias. “Essa colaboração ajuda a tornar as ações muito mais efetivas”, afirma. Além do compartilhamento de dados e imagens, ele cita o trabalho de inteligência que é feito para transformar as informações brutas em conhecimento sobre pontos críticos do sistema.

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