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14 de setembro de 2017

Mesmo na estrada, 48% dos passageiros não usa cinto no banco de trás

A necessidade de usar cinto de segurança, inclusive no banco traseiro, já foi destacada em várias campanhas, mas ainda assim grande parte dos brasileiros dispensa esse hábito – mesmo em estradas, onde a velocidade costuma ser maior.

É o que indica uma pesquisa que, em junho deste ano, monitorou o comportamento de motoristas e passageiros na Régis Bittencourt, altura dos municípios de Registro e Juquiá (ambos em São Paulo). Técnicos da concessionária Arteris, administradora da rodovia, percorreram de carro uma rota predeterminada, observando os outros veículos. Notaram que em praticamente metade dos casos (48%) quem estava no assento de trás ignorou o equipamento.

Detentora de concessões também em outros países, a Abertis fez levantamento semelhante na Espanha, onde a regra é a mesma. Lá, a proporção de infratores é significativamente menor (21%). Nos dois países, os motoristas mostraram-se mais cautelosos que os passageiros: a utilização do acessório é quase unânime entre os espanhóis (só 0,2% não o fazem) e os brasileiros (1%).

“No banco dianteiro, temos um alto índice de uso menos por precaução do que por medo de levar multa”, comenta o gerente corporativo de operações da empresa, Elvis Granzotti. “Atrás, porém, é difícil fiscalizar, então o condutor, responsável pela segurança de todo o veículo, deixa de cobrar”, compara. “Importante lembrar que, além de o passageiro de trás correr o mesmo risco em acidentes, ainda pode ser lançado e ferir quem está à frente.”

O resultado é preocupante não só porque se trata de uma rodovia, mas porque parte dos motoristas trafega em velocidade superior à permitida. Equipamentos instalados pela Arteris para executar a pesquisa detectaram que 30% dos veículos leves andaram acima dos 110 km/h permitidos, enquanto 25% dos pesados ultrapassaram a barreira dos 90 km/h. As cifras, contudo, são menores que na Espanha (38%) e na França (41%), onde esse dado também foi coletado.

“Quando você aumenta a velocidade, cresce o risco e a gravidade dos acidentes”, observa Granzotti. “A sinalização é feita considerando esses limites e, se o motorista vai mais rápido, pode não ver adequadamente as placas”.

O estudo abordou ainda uso de setas (58% não sinalizam mudança de faixa), celular ao volante (1% dos casos, surpreendendo os técnicos) e a distância entre veículos (16% dos leves e 15% dos pesados andam a menos de dois segundos do carro à frente, o exigido por lei).

A empresa recorre a esses levantamentos para formular estratégias de segurança viária. Os trabalhos vão ajudar a formatar campanhas focadas na mudança de comportamentos perigosos nas estradas. A efetividade das ações será reavaliada em novas pesquisas. “O comportamento é a chave para zerar as mortes no trânsito: mais de 90% dos acidentes têm como causa a ação humana. Melhoramos as condições das rodovias, mas chega-se a um ponto em que apenas a conscientização é capaz de reduzir o número de acidentes”, diz Granzotti.

Duplicação de trecho de serra deverá reduzir número de acidentes

Inaugurada em 1961, a Régis Bittencourt começou a ser duplicada nos anos 70. A ampliação das pistas no trecho mais importante (de São Paulo a Curitiba) da via está em fase final. E o que ficou por último é justamente o segmento mais complexo e sinuoso: a Serra do Cafezal, no Vale do Ribeira, uma região cortada pela Mata Atlântica.

A Arteris, administradora da rodovia, afirma que a duplicação dos 30 quilômetros que cruzam a serra, entre os municípios paulistas de Miracatu e Juquitiba, deve contribuir para aumentar a capacidade do fluxo de veículos, diminuir tempos de viagens e dinamizar o transporte de cargas e passageiros no principal corredor econômico do Brasil. Como maior benefício, é esperado uma redução de acidentes nesse local. Com as melhorias, estima a empresa, o fluxo diário de mercadorias passará das 168 mil toneladas atuais para 260 mil em 2022.

O trecho abrange apenas 7,5% da extensão da Régis, mas é a parte mais desafiadora. Desde que assumiu a concessão, em 2008, a Arteris investiu R$ 1 bilhão no trabalho. As obras tiveram início em junho de 2010. Inicialmente, o acostamento no sentido São Paulo recebeu novo asfalto e foi transformado em faixa de tráfego. Assim, foi possível realizar a duplicação sem interromper a passagem de automóveis.

Cerca dos 60% dos 22 mil veículos que trafegam todos os dias pelo local são caminhões, o que compromete o fluxo da rodovia, segundo Eneo Palazzi, membro do conselho de administração da Régis Bittencourt. “Em 2010, registramos 995 quilômetros de lentidão apenas na região da serra. Em 2016, com 20 quilômetros duplicados entregues, esse número já caiu para 512”, compara.

Um dos desafios primordiais era realizar o serviço de modo a preservar a Mata Atlântica. Evitou-se, por exemplo, levar equipamentos pesados às encostas – boa parte das fundações teve de ser feita manualmente. “O tráfego da serra di cultava o envio de materiais, e as condições climáticas prejudicavam o armazenamento. Por isso, investimos em soluções de engenharia que possibilitaram que as nossas 39 pontes e viadutos tivessem o mínimo de pilares possível”, explica Palazzi.

Outra maneira de impedir a derrubada de árvores foi construir túneis. Os 10,5 quilômetros que faltam ser duplicados possuem quatro dessas estruturas, totalizando 1.684 metros. Esses túneis contarão com moderno sistema de automação e controle.

“O tráfego será monitorado por câmeras que chegam até o Centro de Controle de Operações da concessionária. Em situações de emergência, o sistema realiza a detecção de incidentes de forma automática e as equipes de operação podem agir rapidamente. Também, caso algum tipo de fumaça ou acúmulo de gases sejam identificados no interior dos túneis, os ventiladores de emergência são acionados para garantir maior nível de segurança aos usuários”, diz o Superintendente de Tecnologia e Inovação da Arteris, Ricardo Casagrande.

Projetos investem na conscientização de motoristas 

Duplicar pistas, recuperar pavimento, reforçar sinalização, instalar controladores de velocidade. Essas ações são essenciais para salvar vidas na estrada, mas teriam menos efetividade se um detalhe fundamental fosse deixado de lado: a conscientização do motorista. É por isso que a Arteris há anos vem desenvolvendo uma série de iniciativas ligadas à educação para o trânsito. Um dos destaques é o Projeto Escola, criado em 2001. Realizado em escolas públicas de 132 municípios cortados por rodovias administradas pela concessionária, o programa trabalha a humanização do trânsito por meio da cidadania, da ética e do convívio social.

Em cerca de 16 anos, 287 mil alunos dos ensinos médio e fundamental — incluindo alunos da EJA (Educação de Jovens e Adultos) — passaram pelo projeto, que beneficia atualmente 590 escolas e já capacitou 16 mil professores. Maria José Finardi, coordenadora de Sustentabilidade da Arteris, explica que após ser selecionada, a instituição de ensino indica dois docentes e um coordenador. Eles recebem instruções em um curso com duração de três dias e, posteriormente, participam de reuniões periódicas, em que aprendem a usar os recursos pedagógicos e a abordar temas ligados ao trânsito dentro de cada uma das áreas do currículo.

Uma das características mais interessantes da iniciativa é que ela leva em conta as necessidades de cada realidade. Em um primeiro momento, os professores são estimulados a fazer um diagnóstico dos problemas da escola e a buscar soluções baseadas na ideia de cidadania. “Temos relatos de casos em que alunos, professores e familiares mudaram seu comportamento. Nosso foco central é trabalhar valores, pois se tivermos um ser humano melhor, teremos um motorista, um passageiro, um ciclista e um pedestre também melhores”, argumenta.

Além do aprendizado em sala de aula, alunos e docentes das escolas ligadas ao projeto realizam visitas aos centros de controle operacional das rodovias da Arteris, onde recebem orientações por meio do Projeto Escola, participam de jogos e simulações, assistem a palestras sobre segurança no trânsito ministradas pela Política Rodoviária Federal e pela Polícia Militar Rodoviária. O inverso também acontece. Equipes da concessionária visitam as instituições de ensino, desenvolvendo jogos, palestras e realizando simulações de atendimento pré-hospitalar.

O sucesso do Projeto Escola não é refletido apenas nos resultados que obteve ao longo de sua existência, mas também nos reconhecimentos que conquistou. Entre eles, destacam-se o Prêmio Denatran de Educação no Trânsito (2009 e 2016), o Prêmio Volvo de Segurança no Trânsito (2002 e 2008) e o Prêmio IBTTA Toll Excellence 2005, da Associação Internacional de Pontes, Túneis e Rodovias Pedagiados (IBTTA).

“Trabalhei 20 anos em escolas e sei quantos projetos caem de paraquedas e não vão adiante. O diferencial é que temos um acompanhamento muito próximo junto aos professores. E eles abraçam o programa, pois a iniciativa auxilia toda a comunidade. As pessoas ficam mais unidas, solidárias, e os pais se envolvem mais e vão para dentro da escola”, destaca a coordenadora de Sustentabilidade da Arteris.

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