Eficiência energética é a bola da vez. Com populações e economias em crescimento, o mundo começa a discutir como usar melhor as fontes renováveis de energia, garantindo que estejam disponíveis para as próximas gerações. Como fazer isso e como o Brasil se encaixa nesse contexto foram alguns dos temas do encontro “Eficiência Energética”, realizado no último dia 13 na Casa do Saber, em São Paulo. O evento contou com a participação de Alexandre Moana, presidente da Abesco (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia), Guilherme Mendonça, vice-presidente sênior da divisão Energy Management da Siemens, e Paulo Becker, diretor da CPFL Energia. O primeiro ponto discutido pelos especialistas foi o custo da energia no Brasil, o que torna o conceito de ganhos de eficiência ainda mais necessário por aqui.
Moana lembrou que a energia do País é, de fato, uma das mais caras do mundo, mas que este valor tem variações, em especial porque está atrelado à taxa cambial. Por outro lado, ressalta que há uma distinção a fazer. “A conta pode ser a mais cara, mas em alguns momentos temos energia muito barata sendo oferecida no mercado livre”, afirma. Para o executivo, a questão é a crise de eficiência generalizada vivida pelo Brasil.
Segundo Mendonça, da Siemens, hoje o Brasil tem uma sobra estrutural de energia de cerca de 10%, situação que contrasta com o risco de apagão vivido há dois anos. Mas essa sobra não ocorre por conta de investimentos em estrutura e geração, mas sim devido à recuperação hídrica trazida pelo longo período de chuvas e pela crise econômica, que reduziu o consumo. “O setor elétrico só não entrou em colapso porque a economia entrou em colapso antes”, avalia Mendonça. E aí está o risco. Quando o País se recuperar da crise, e o consumo voltar a crescer, a crise energética pode retornar. “Corremos o risco de superar a crise econômica e parar em uma crise energética”, diz.
Mudança de modelo
Enquanto o Brasil enfrenta a necessidade de novos investimentos, o setor elétrico mundial passa por um profundo processo de transformação. Mendonça, da Siemens, explica que o modelo energético clássico sempre foi caracterizado por ser composto de uma grande fonte de geração, como as grandes usinas hidrelétricas; uma longa linha de transmissão; e os consumidores recebendo essa energia na ponta. No Brasil, esse modelo se traduz na maioria das fontes geradoras instaladas nas regiões Norte e Nordeste e na maior parte dos consumidores concentrados nas regiões Sul e Sudeste.
Esse modelo, além de encarecer o sistema pela sua extensão e necessidade de manutenção, sempre esteve sujeito a perdas ao longo do caminho. A tendência hoje é a descentralização da geração, trazendo-a para mais perto do consumo. “Isso reduz perdas e pode ser feito com o uso de fontes geradoras alternativas, como biomassa, biogás e energia solar”, afirma Mendonça, lembrando que hoje a Alemanha consegue gerar energia equivalente a uma Itaipu e meia com o uso de energia solar. O Brasil começa a contar com a geração renovável, eólica e solar, em sua matriz energética. “A geração eólica está consolidada, crescendo muito. A solar ainda é incipiente, mas acreditamos que deve crescer”, diz.
Becker, da CPFL, lembra que quando se fala em eficiência energética na indústria, por exemplo, a maior parte das pessoas pensa em como fazer o motor consumir menos, ou em como reduzir a conta de luz da fábrica. “Na verdade, o conceito fala de eficiência da sociedade como um todo. Quando o cidadão fica horas no trânsito para chegar ao trabalho, estamos falando de eficiência. Por isso, ela passa pela conscientização para não desperdiçarmos investimentos”, defende.
Indo além, Moana mostra como o conceito vem mudando na prática. “Até bem pouco tempo, a aplicação mais comum do conceito de eficiência energética era fazer um diagnóstico e, a partir dele, executar uma ação. O novo conceito é de acompanhamento contínuo. Não se trata de observar aquele ponto, mas de buscar aprimoramento constante”, explica. Mas como buscar esse aprimoramento? Na indústria, por exemplo, Mendonça, da Siemens, lembra que o parque industrial brasileiro é, em média, quatro vezes mais velho do que o de países desenvolvidos. “Os empresários sabem disso, mas falta capacidade de investimento e segurança para que esses investimentos sejam feitos”, diz.
O executivo reconhece que a eficiência energética na área industrial é uma questão de sobrevivência, mas lembra que o empresário brasileiro tem outras questões de sobrevivência mais críticas. “Ações para adoção de novas tecnologias custam dinheiro e, se o empresário não tem esse dinheiro, vai deixar como está. O empresariado tem consciência da necessidade, mas falta capital para fazer”, diz.
Mais do que isso, falta um posicionamento mais claro do governo em favor da eficiência energética: o País hoje conta com linhas de crédito para quem quiser investir em geração de energia, mas não para estimular a eficiência energética, reduzindo a necessidade de mais geração. No setor privado, isso começa a acontecer. A CPFL, por exemplo, por meio da CPFL Eficiência, vende soluções para que seus clientes encontrem formas mais eficientes de consumo. “Temos um cliente que reduziu seus custos em 27% utilizando painéis solares e otimizando o uso de ar condicionado e iluminação”, comenta Becker. E essa economia pode vir não apenas de novas tecnologias, mas de novas atitudes. “Apagar a luz em ambientes que não estão sendo utilizados economiza mais do que trocar as lâmpadas antigas por novos modelos”, compara Mendonça.
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