O custo da energia é fator de impacto da produtividade e competividade da indústria brasileira? A resposta vai variar. Especialistas do setor divergem sobre o assunto. Em comum, apenas a crença de que a energia é, sim, parte do conjunto de itens que definem a competitividade nacional e de que, por menor que seja o impacto, as empresas brasileiras pouco fazem para racionalizar o seu uso.
Luciano Salamacha, professor do Instituto Olímpico Brasileiro e da FGV Management, explica que o impacto vai variar de acordo com o produto e de sua dependência no processo produtivo. “Produtos como o alumínio têm uma forte demanda de energia para serem produzidos (hoje ultrapassa 30% do custo produtivo) e, por consequência, são mais suscetíveis às variações de preços como se observou nos últimos anos no Brasil”, afirma.
Dados da Abesco (Associação Brasileira das Empresas de Conservação de Energia) dão conta que a tarifa de energia elétrica no Brasil, que já foi a mais alta, está entre as cinco mais caras do mundo. Além disso, Salamacha estima que a energia chega ao setor produtivo no Brasil por, no mínimo, 50% a 100% a mais que em outros países que oferecem esse tipo de informação de maneira oficial.
“Entre esses países estão os grandes concorrentes mundiais do Brasil, como Rússia, Índia e China, além de nações mais desenvolvidas como EUA e países europeus”, diz, lembrando que em 2007 o Brasil apresentava custo de energia ao setor industrial cerca de 20% mais baixo que a China e que atualmente essa diferença é superior a 140%. Com isso, o professor acredita que qualquer variação no custo da matriz energética brasileira tem um efeito multiplicador por que seu custo atinge todos os elementos da cadeia produtiva e de abastecimento, desde o produtor, passando pela indústria, comércio e serviços.
O efeito existe, mas, de acordo com Alexandre Moana, presidente da Abesco, não é tão grande como se imagina. Ele lembra que grande parte da fama do custo da energia brasileira se deve à questão cambial. “Se nosso dinheiro se desvaloriza, a conta vai ficando mais baratinha. Agora que o dólar desvalorizou um pouco, nossa conta subiu, mas não é a melhor forma de se comparar”, diz.
Para Moana, em razão da instabilidade do câmbio brasileiro, o modelo ideal de comparação seria a paridade do poder de compra. De todo modo, ele afirma que, na indústria, o valor agregado ao produto pelo custo da energia gira em torno de 1,5%. “Isso significa que, se o país tem uma energia 50% mais cara em relação à média mundial, o impacto aqui seria de 0,7% no valor do produto final”, contabiliza.
O presidente da Abesco acredita que o custo da energia é um fator importante para a competitividade industrial, mas diz que sua influência tem sido maximizada. “Com exceção de indústrias eletro-intensivas, como a de alumínio, a energia não tem tanta influência assim na competitividade”, defende.
Moana acredita que a energia é relevante, mas dentro de um conjunto de itens de competitividade, que incluem ainda fatores como inovação e aprimoramento do processo produtivo. “Há todo um conjunto a ser melhorado e a energia é parte dele. Falta competitividade em geral. A eficiência energética é importante, mas é apenas um dos itens a colaborar com isso”, afirma.
Ações
De todo modo, há do lado das empresas em geral investimentos voltados à redução do custo da energia em suas operações. Salamacha cita exemplos como a ampliação de investimentos em empreendimentos geradores de energia, seja pela participação em PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) ou de conjuntos geradores próprios movidos a combustíveis fósseis como óleo diesel ou biocombustível, além do gás.
“Outras ações, como a racionalização no consumo, têm sido realizadas de maneira menos intensa como a substituição por máquinas mais eficientes no consumo de energia, seja no processo produtivo, seja nas áreas de serviços compartilhados onde o consumo de ar condicionado e iluminação tem relevância considerável”, ressalta.
Wagner Cunha Carvalho, especialista em eficiência energética e diretor de relacionamento da W-Energy, concorda. Ele lembra que, na visão das operações industriais clássicas, gasta-se a mesma energia para se produzir a tampa de uma garrafa ou a garrafa inteira. “Isso significa que o empresário considera a mesma energia para tudo. É um erro”, provoca.
Carvalho defende, por exemplo, a instalação de um medidor por linha de produção. “Há produtos que vão custar R$ 2 em energia e outros que vão custar R$ 0,30. O empresário precisa conhecer de fato qual o custo e pouquíssimas empresas fazem isso no Brasil”.
Outra medida defendida por ele: nas contas de energia das indústrias há uma multa, chamada UFER (Unidade de Faturamento de Energia Reativa), cobrada pela energia não utilizada que retorna para a concessionária. A simples instalação de um regulador de potência pode impedir que a energia retorne, evitando que a multa seja paga. “Há casos de empresas cuja conta de energia é de R$ 1 milhão e a UFER, R$ 100 mil. O regulador também melhora a qualidade da energia, aumentando a vida útil de equipamentos”, revela, lembrando que com a utilização do regulador é possível verificar se a concessionária está entregando a energia dentro dos parâmetros contratados.
Por falar em conta, no caso das indústrias é possível também escolher entre uma série de planos tarifários que variam de acordo com a demanda e o horário. Neste caso, as indústrias devem fazer simulações, identificando qual o plano mais adequado para sua demanda. Ainda sobre a demanda, também é preciso comparar a demanda contratada e a demanda registrada.
“Há empresas que contratam 1000 KVA e só usam 500. O inverso também ocorre e, quando ela ultrapassa a demanda, ela paga o triplo do valor normal”, diz. Carvalho afirma que estas informações ficam perdidas nas contas de luz, mas que é preciso atenção para que não se percam oportunidades de gastar menos e melhor.
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