“Precisamos de infraestrutura para fazer a energia chegar até as pessoas de modo confiável e eficiente, mas também é preciso tecnologia que garanta seu consumo inteligente.” Esta frase resume bem a visão do CTO (Chief Technology Officer) da divisão de Energy Management da Siemens, Prof. Dr. Michael Weinhold, sobre os desafios que o mundo já enfrenta e que deverá resolver para garantir o futuro sustentável de um planeta cada vez mais urbano. Engenheiro elétrico de formação, iniciou sua carreira na área de Transmissão e Distribuição de Energia da Siemens. Hoje está à frente da área de Tecnologia e Inovação da divisão de Energy Management. Nesta breve entrevista, ele fala dos desafios globais e também de questões relacionadas ao Brasil.
Quais são os principais desafios que os países e as megacidades enfrentarão no futuro com relação à produção de energia, transmissão e distribuição?
Nossas cidades estão crescendo e a tendência é que haja um aumento da demanda por eletricidade. Calcula-se que o consumo de energia no mundo aumentará algo na ordem de 60%, para aproximadamente 37.000 terawatts/hora(TWh) até o ano de 2030. E tudo isso concentrado ainda mais nas áreas urbanas. Segundo dados das Nações Unidas, a população urbana quase dobrará nas próximas quatro décadas: até 2050, seremos 6,3 bilhões de pessoas nas cidades, um aumento de 84%. Mesmo hoje, como aponta a Agência Internacional de Energia, as cidades respondem por dois terços da demanda mundial. Ou seja, isso vai se intensificar ainda mais. Para responder às demandas e equacionar a questão de modo ecologicamente equilibrado, a resposta é fazer crescer dramaticamente a participação de fontes renováveis de energia que utilizamos.
Estamos usando cada vez mais energia na nossa vida cotidiana, em nossas casas, no uso pessoal e profissional. Desse modo, precisamos de uma infraestrutura capaz de trazer a energia para as cidades, que dê conta da transmissão e da distribuição de forma muito eficiente e confiável. Mas precisamos também de consumo inteligente dessa energia. O caminho é o uso de tecnologias realmente inteligentes para aprimorar as condições da transmissão, monitorar pontos de ineficiência e melhorar todo o sistema – e, por consequência, garantir melhor qualidade de vida nas cidades. Por exemplo, se for descoberto que certos consumidores estão usando muito mais energia do que outros, é possível assessorá-los para reduzir seu consumo de energia. Isso é possível com a tecnologia Smart Grid. Porque o Smart Grid é uma rede de fornecimento de energia inteligente, autogerenciada e altamente automatizada que pode ser melhor controlada que um sistema convencional. Está equipado com tecnologia de comunicação e informação, permitindo um fluxo de informações de ponta a ponta, em ambos os sentidos, entre as fontes de energia e os consumidores. Enquanto uma rede convencional de geração de energia segue o padrão de consumo, o Smart Grid controla o consumo de acordo com a disponibilidade de energia no grid. A saída mais eficaz, portanto, é fazer uma combinação inteligente entre o que é gerado e como é consumido com o uso da tecnologia.
O uso de tecnologia ajuda países com um território tão grande quanto o do Brasil, em que centros de produção e de consumo são muito distantes entre si, a racionalizar a produção e a transmissão de energia?
Por um lado, se tem as usinas de energia tradicional e as usinas de energia renovável distantes dos centros urbanos, e é preciso transmitir essa energia de forma eficiente até eles. Pense na área de Foz do Iguaçu e na região metropolitana de São Paulo, uma megacidade, que precisa de muita energia elétrica – a questão não é só ter tecnologia que permita tirar proveito dos vastos recursos hídricos (ou ainda eólicos ou de energia solar), mas transportar essa eletricidade até a cidade. E, uma vez lá, distribuí-la de maneira inteligente e entender como ela está sendo consumida.
E como essas tecnologias podem auxiliar países como o Brasil e outros membros dos BRICs a resolver os problemas de produção de energia limpa e renovável?
Quando se fala de energia renovável, há a necessidade de significativas áreas de superfície. Se houver um parque eólico, ele será fora das cidades, pois precisa de uma área bem vasta para os moinhos de ventos serem instalados. O mesmo acontece se pensarmos na biomassa, que também produzimos fora das cidades. Então, os desafios são similares: gerar o biogás, por exemplo, e elevar essa eletricidade gerada a altos níveis de voltagem, porque desse modo se transporta muito mais eficientemente. E tanto na América do Sul ou na Europa, as tecnologias aplicadas, digamos, a caixa de ferramentas de tecnologias aplicadas, também é muito parecida. A Siemens oferece praticamente toda a linha de produtos, soluções e serviços para transmissão e distribuição, proteção, automação, planejamento, controle, monitoramento e diagnósticos de infraestruturas de rede, juntamente com produtos, soluções holísticas e serviços. Softwares e soluções de ponta a ponta que se tornam cada dia mais importantes e que servem das áreas de TI até sistemas de medição inteligentes.
No Brasil, por exemplo, criamos um centro de pesquisa e desenvolvimento de soluções em Smart Grid em parceria com a Universidade Católica de Curitiba. Um time altamente qualificado de 25 engenheiros busca sistemas inovadores de controles de rede – e participou do projeto Reger (Rede de Gerenciamento de Energia), do Operador Nacional do Sistema (ONS), que monitora todo o sistema elétrico nacional. Eles recebem a cada 4 segundos as informações coletadas por mais de 120 mil sensores espalhados por todo o sistema de geração e transmissão de energia do País.
O problema principal desses países é o investimento porque o custo não é tão baixo para países como o Brasil ou a Índia, por exemplo.
A energia renovável, se comparada à produção tradicional de energia, necessita de maior investimento logo de início, mas tem baixo custo operacional. Isso precisa fazer parte do modelo de negócio. Olhe o que a Índia está fazendo: o país anunciou um plano ousado para a energia renovável. O Primeiro Ministro indiano, Narendra Modi, quer produzir 175 giga watts de energia renovável, em especial eólica e fotovoltaica, até 2022. Trata-se de definir o financiamento e, claro, de os engenheiros estudarem as melhores localizações para essas usinas e como integrá-las ao sistema elétrico. Não é a penas um desafio brasileiro ou de países emergentes – é global.
Especificamente sobre o Brasil, o que poderia recomendar com relação aos desafios da energia?
Pense no carro elétrico no futuro próximo, na sua própria vida, seus eletrodomésticos, inclusive no fogão a gás. Na Europa, por exemplo, todos amam o fogão elétrico. A eletricidade está tocando a vida cotidiana cada vez mais. E também veremos a energia renovável sendo mais usada. Especialmente a energia eólica, já que tem excelente relação custo-benefício, e sei que o Brasil tem ótimos locais de vento. Eu encorajaria o País a ampliar a produção de renováveis, mas também a aplicar a tecnologia Smart Grid para integrá-la de forma inteligente a todo o sistema e evitar condições de pico de carga, para fazer o melhor uso com o mínimo investimento. Sei que o Brasil tem excelentes universidades. Eu as vi muitas vezes. Portanto, o País tem enorme poder intelectual para realizar tudo isso.
Saiba mais em Siemens.