Apresentado por: Senac 70 anos Senac 70 anos

Senac 70 anos

14 de março de 2017

‘Geração conectada’ traz desafios às empresas com programa de estágio

Se a educação corporativa já é importante para profissionais experientes, imagine para quem está ingressando no mercado de trabalho. Com mais de 1 milhão de estagiários, segundo dados da Associação Brasileira de Estágios (Abres), o País conta com um enorme contingente de jovens que recebem aprendizado diário dentro das empresas.

Em entrevista, Eduardo de Oliveira, superintendente educacional do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola), revela quais são os principais desafios enfrentados por estudantes e gestores e apresenta dicas de como uma companhia pode tornar seu programa de estágio bem-sucedido.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Muitas empresas têm investido hoje em educação corporativa. O que muda quando essa capacitação é voltada para jovens que estão entrando no mercado de trabalho?

Eduardo de Oliveira – Antes de responder a essa questão, é importante ressaltar que temos dois grandes programas: um de estágio e outro de aprendizado. O de estágio é aquele voltado a quem está estudando e vai fazer a prática na empresa. No caso do aprendiz, que pode estar cursando o ensino médio ou já tê-lo concluído, o jovem fica quatro dias na empresa e um fora dela, aprendendo a parte teórica.

Em ambos os casos, o foco é o aprendizado pela prática. Seja na escola ou na academia, você não tem a visão corporativa, que envolve aspectos como relacionamento, trabalho em equipe, comunicação, resolução de problemas. Então, o esforço da empresa deve ser no sentido de passar esses valores, alinhados com o que o jovem está aprendendo em sala de aula.

Graças aos avanços tecnológicos, temos jovens cada vez mais conectados e dinâmicos hoje em dia. Como a empresa deve lidar com esse novo perfil?

É um processo de adaptação. Há empresas que já percebem esse fato e trazem novas tecnologias, trabalham com tarefas home office, mesmo com os estagiários. Mas é um desafio, especialmente no que diz respeito ao convívio entre as diferentes gerações, que têm ritmos distintos.

Como você avalia o momento atual para o setor de estágios?

Estamos vivendo um bom momento. Na crise, as empresas aproveitam para forjar novos talentos. Os estudantes chegam sem nenhum tipo de vício. Eles não estão contaminados por ideias preconcebidas do mercado e ainda se encontram em dia com o mundo acadêmico, gerando uma ótima oportunidade de aprendizado para a própria empresa.

Do ponto de vista da empresa, qual a importância de se efetivar alguém que tenha passado pelo seu programa de estágio?

Temos um índice de efetivação de 64%. Só não é maior porque muitos estágios se dão em empresas públicas e, por lei, elas precisam fazer concurso para contratar. Porém, sempre que possível, a efetivação é vantajosa. O estagiário já ficou um período na empresa se aculturando com aqueles valores e ideais da organização. Também, ele mostrou o que tinha que mostrar e pode ser avaliado em função disso. Certamente, estará mais preparado para assumir um posto, sem os custos e os riscos de se trazer um profissional de mercado.

Na sua visão, o que caracteriza um bom programa de estágio?

O estagiário não pode ter as mesmas responsabilidades de um profissional experiente. É uma atividade educacional. Precisa de um supervisor que o oriente e deve desenvolver tarefas de complexidade crescente, sempre relacionadas àquilo que está estudando.

Como o gestor pode fazer um diagnóstico para saber se o programa de estágio está dando bons resultados?

Isso deve vir a partir de um diálogo com o próprio estagiário e de avaliações, como as que o CIEE disponibiliza. Porém, se o estagiário está dentro da realidade da empresa, participa das reuniões, dos programas de incentivo, as chances de dar certo são maiores. Ele não pode ficar isolado, deve participar das rotinas normais da companhia.

Quais os problemas mais recorrentes quando um estágio não tem o resultado esperado para o estudante e para a empresa?

Os motivos podem estar na empresa, em função de uma expansão que estava prevista e não se concretizou, ou porque o gestor julgou que o estagiário não tinha o perfil indicado para trabalhar com ele. Às vezes, o próprio estudante percebeu que aquele não era o caminho dele, ou recebeu uma outra proposta e quis mudar de rumo. O estágio também é uma oportunidade de verificar, na prática, se aquilo que a pessoa decidiu como carreira é o que ela realmente quer.

O que mudou nos últimos 10 anos em relação ao estágio no Brasil?

A lei de estágio trouxe mudanças positivas em 2008, com regras que deixam mais clara a relação tanto para a empresa quanto para o estudante. Mas eu também vejo como positiva a conscientização das empresas, no sentido de formar futuros talentos. De alguns anos para cá, o mercado se deu conta de que vale a pena investir nos jovens.

Pensando em uma empresa que pretende iniciar um programa de estágio agora. Quais dicas você daria para que o programa seja bem-sucedido?

Antes de selecionar o jovem e sua área de estudo, é essencial verificar as atividades que terão de ser desenvolvidas. Depois, faça um planejamento para que as atividades tenham complexidade crescente e module isso de forma que o jovem vá avançando na graduação. Apenas depois desses passos, deve-se pensar no perfil de estagiário.