Cultura para Todos – Mozarteum Brasileiro

Música, dança e histórias que inspiram

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A música clássica e suas histórias de superação

Paixão pela arte já superou rusgas familiares, demissões, problemas de saúde e até perseguições políticas

Trajetórias de superação costumam ilustrar capítulos marcantes da história da arte. São experiências que inspiram criadores, transformam a carreira de artistas e até despertam no público a busca por novas formas de lidar com a dificuldade.

Na música clássica não é diferente. Fazendo jus aos versos populares de Paulo Vanzolini, não foram poucos os que “levantaram, sacudiram a poeira e deram a volta por cima”. Wolfgang Amadeus Mozart, por exemplo, quase foi vítima do próprio talento: desde os seis anos, acostumou-se a deixar a Áustria para embarcar com o pai em exaustivas turnês europeias.

Mozart

Wolfgang Amadeus Mozart: turnês colocavam sua saúde em risco

As condições costumavam ser precárias e colocavam sua saúde em risco. Apesar do improviso, o talento e a perseverança prevaleceram. Tanto que, aos 21, quando perdeu de uma só vez o emprego de músico na Corte de Salzburgo e o apoio do pai, que preferiu dar razão ao seu ex-patrão, ele optou por administrar a própria carreira.

O êxito que obteve dali em diante certamente seria a melhor resposta aos desafetos, mas Mozart nunca hesitou em comentar tais episódios. “Não prestei atenção no que os outros tinham a dizer sobre culpa. Apenas segui meus sentimentos”, dizia.

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Ludwig von Beethoven é outro personagem resiliente. Portador de uma deficiência auditiva grave, aos 26 anos ele já enfrentava sérias dificuldades para tocar e reger. Ainda assim, mesmo frustrado com a própria incapacidade, o alemão foi capaz de se reinventar. Passou a direcionar todo o conhecimento assimilado nas aulas de música para a composição. Em pouco tempo, desenvolveu um método próprio e voltou a assinar criações magníficas, entre elas a Nona Sinfonia.

Portador de deficiência auditiva, Beethoven enfrentava sérias dificuldades para tocar e reger

Ao se apresentar como maestro-assistente na estreia da obra, em maio de 1824, em Viena, Beethoven viveu seu momento mais especial. Não só provou a si mesmo que ainda poderia estar no palco, como emocionou o teatro ao quebrar o protocolo e virar-se para ver as reações da plateia após o último acorde, já que não conseguia ouvir os aplausos. 

À sombra da Guerra Fria

Na música contemporânea, salta aos olhos a saga do violoncelista Mischa Maisky, atração da temporada 2019 do Mozarteum Brasileiro, em novembro. Nascido na antiga União Soviética, Maisky viveu tempos sombrios no início dos anos 1970. Sua irmã mudou-se para Israel no auge da Guerra Fria e isso bastou para que as forças de segurança nacional passassem a vigiá-lo.

Acusado de comprar um gravador ilegalmente, acabou preso e durante um ano e meio cumpriu sentença em um campo de trabalhos forçados. Mas a paixão pela música, felizmente, não foi afetada. Em 1972, ao reencontrar a liberdade e seu instrumento, o violoncelista juntou-se à família no estado israelense. Um ano depois estreava como solista no Carnegie Hall, em Nova York, ao lado da Filarmônica de Pittsburgh. Retomava assim a carreira que até hoje é aclamada por crítica e público.

Mischa Maisky: cumpriu sentença em um campo de trabalhos forçados

Questão de fôlego

A determinação em superar obstáculos também é uma marca entre as fileiras da Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro, que anualmente seleciona jovens de todo país para sua programação. Dali surgem histórias como a da mineira Isabelle Menegasse Silva, que se encantou pela trompa em um projeto social de Belo Horizonte aos 13 anos, mas só conseguiu dedicar-se à música na fase final da adolescência.

“Havia pressão da família para que eu tivesse uma profissão mais rapidamente e a carreira de músico era vista como algo incerto. Adiei meu sonho, fiz cursos técnicos em outras áreas, mas nunca desisti”, conta.

Isabelle Silva conseguiu realizar o sonho de ser trompista na Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro

Aos 19, Isabelle conseguiu ingressar em uma universidade estadual. Dividia-se entre noites em claro visando recuperar o tempo de aprendizado e jornadas de trabalho informal que lhe permitissem comprar o próprio instrumento. Foi estoquista, distribuiu panfletos, agarrou todas as vagas que surgiam no comércio. Enfim, alcançou seus objetivos. E hoje dedica-se integralmente à carreira que tanto perseguiu.

“Os homens sempre foram maioria nos instrumentos da família dos metais, porque eles exigem muito fôlego e esforço físico. Por isso, ter a oportunidade de tocar como primeira trompista na Orquestra Acadêmica é uma vitória ainda mais simbólica”, comemora.