Quando o assunto é mercado profissional, a diversidade ainda é um assunto tabu. Basta uma rápida olhada no quadro de funcionários de grande parte das empresas do País para notar que elas estão distantes de refletir a composição da sociedade. Mas a boa notícia é que existem empresas dispostas a liderar essa transformação.

Criada em 2016, a organização não governamental Todxs é uma das protagonistas de um movimento de inclusão, com ações de promoção de pessoas LGBT e combate à descriminação em parceria com a iniciativa privada. Apesar do pouco tempo de vida, a ONG tem no currículo trabalhos de consultoria e organização de eventos com a participação até de gigantes da tecnologia.

“Atuamos para que a inclusão e a diversidade sejam vistos como um fator estratégico e uma grande ferramenta para ajudar no avanço dos direitos humanos do público LGBT”, afirma Ítalo Alves, cofundador e diretor de diversidade e inclusão da Todxs.

Mas como trabalhar a diversidade corporativa? “Nós fazemos um diagnóstico para entender qual o estágio de inclusão de diversidades e depois desenvolver uma estrutura propícia à inclusão. Algumas empresas contam com grupos internos LGBT e políticas de não discriminação. É preciso trabalhar em conjunto com os clientes para implementar um projeto de ação, que pode durar de quatro meses até um ano“, diz Ítalo.

Segundo a Todxs, o desafio-chave é conseguir que as pessoas comprem a ideia. A partir disso é possível treinar lideranças e pessoas com poder de decisão para que a mudança não aconteça só de baixo para cima. Outra preocupação é melhorar a relação entre os funcionários. Levantamento da ONG Out Now, de 2014, aponta que anualmente as empresas brasileiras desembolsam R$ 1,4 bilhão em custos com a rotatividade de funcionários LGBT insatisfeitos com o ambiente de trabalho. Quantos empregos poderiam ser mantidos com esse mesmo valor?

99 Cores

Existem casos em que os funcionários se organizam para promover o tema da diversidade internamente. A 99, por exemplo, conta com um grupo de funcionários chamado Cores, formado no ano passado por dois funcionários. Atualmente, o grupo contabiliza mais de 80 participantes.

“Aqui a motivação nunca foi um ambiente de trabalho discriminatório. O objetivo foi organizar as pessoas para se unirem e juntos conseguirmos representatividade. Acredito que o grupo se tornou um ponto de referência na empresa. Quando alguém precisa tratar de um assunto delicado em termos de comunicação ou posicionamento, somos consultados para auxiliar”, afirma Pablo Naze, fundador do 99 Cores.

Entre os valores da 99, o principal é o cuidado com as pessoas. A filosofia da empresa contribuiu diretamente para o fortalecimento do 99 Cores, que contou com carta branca para desenvolver uma cartilha educativa em conjunto com a consultoria da Todxs. O documento está pronto e deve ser distribuído ainda no mês de novembro.

Usando linguagem simples, a cartilha tem a finalidade de orientar as pessoas sobre a importância da diversidade e da causa LGBT, além de destacar questões de direitos humanos que têm terreno fértil para avançar exatamente no que significa “discriminação”.

Segundo Pablo, o grupo está de olho nos próximos passos, assim que for concluída a divulgação da cartilha: habilitar a 99 para que possa aderir a fóruns de direitos LGBT como signatária e participar da Parada LGBT, em São Paulo, como fazem outras empresas, como um grupo organizado.