O intestino delgado de um adulto saudável tem de 3 a 8 metros de comprimento. Quando o órgão mede menos de 2 metros, o paciente pode desenvolver a condição de síndrome do intestino curto, também conhecida pela sigla SIC. Trata-se de uma doença grave, crônica e rara, na qual o órgão, por ser curto demais, pode não conseguir absorver a quantidade de nutrientes necessária para manutenção da vida. Essa condição é caracterizada pela má absorção de alimentos e líquidos e pode contribuir para o desenvolvimento de complicações, como a diarreia, desidratação, distúrbios de eletrólitos e desnutrição.

 

Causas
Estima-se que a SIC ocorra em, aproximadamente, 15% dos pacientes adultos submetidos à cirurgia de ressecção intestinal extensa ou maciça. De acordo com a nutróloga Dra. Mariana Hollanda Martins da Rocha, que trabalha no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e no Hospital Samaritano, os motivos mais comuns dessas cirurgias são: traumas, tromboses ou isquemias, tumores, distúrbios responsáveis por inflamação no órgão — como doença de Crohn — e a radioterapia. Algumas condições genéticas também podem causar a doença em crianças.

 

A SIC é considerada uma doença rara, e sua ocorrência varia entre os países (de 1,1 pessoas por milhão de habitantes até o caso de países como a Dinamarca, em que chega-se a 80 pessoas por milhão de habitantes), sendo aproximadamente 60% deles pediátricos e 40%, adultos. Segundo a nutróloga, no Brasil ainda há poucos pacientes diagnosticados com essa condição, porém podem existir mais casos.

 

Dieta especial
Pessoas com SIC seguem uma dieta estabelecida por um nutricionista e/ou nutrólogo. Mesmo com o acompanhamento, o intestino desses indivíduos pode apresentar dificuldade de absorver água, nutrientes (carboidrato, proteína e lipídios) e eletrólitos (como cálcio, potássio, sódio, magnésio e fósforo). “Quando a absorção não é suficiente para as necessidades diárias, há o desenvolvimento do quadro de falência intestinal. Nesse caso, o paciente passa a necessitar de suplementação nutricional intravenosa”, diz a médica.

 

A composição e a quantidade da nutrição parenteral, como é chamada esse tipo de alimentação, são determinadas de acordo com a condição clínica e o peso do paciente. Dra. Mariana explica que a nutrição é feita por meio de um cateter, isto é, um dispositivo implantado na pele que leva o composto diretamente para a corrente sanguínea. “Esse paciente precisa ter cuidados de home care porque qualquer erro na manipulação do cateter pode causar infecções graves e levar a internações frequentes. Mesmo quando o indivíduo faz os procedimentos sozinho, ele deve ter supervisão profissional”, afirma a nutróloga.

 

Qualidade de vida
A nutrição parenteral traz impactos para a qualidade de vida dos pacientes crônicos, uma vez que o paciente necessita passar horas do dia conectado a esse sistema, sem poder se deslocar. No entanto, de acordo com a nutróloga, hoje em dia há bombas de infusão — equipamentos necessários para administrar a nutrição parenteral — mais leves, que facilitam a movimentação de quem precisa delas. “A pessoa pode trabalhar fora de casa, estudar e até viajar com autonomia”, diz a médica.

 

Apesar disso, a nutrição parenteral pode trazer prejuízos ao indivíduo. Enquanto a comida ingerida pela boca atravessa todo o sistema digestivo (esôfago, estômago e intestino, com auxílio do pâncreas, da vesícula e do fígado), a nutrição parenteral chega ao organismo pelo sangue e é diretamente metabolizada pelo fígado. “Se não for balanceada, pode causar problemas no órgão, como inflamação e cirrose. Por isso, é preciso monitorar constantemente sua composição e avaliar o paciente com exames periódicos”, aponta Dra. Mariana Hollanda Martins da Rocha.

 

Para evitar complicações, os pacientes sob nutrição parenteral domiciliar devem ser acompanhados por um time multidisciplinar, formado por médicos, farmacêuticos, nutricionistas e enfermeiros. “Apesar da complexidade do tratamento, com seguimento adequado e atendimento de uma equipe especializada, o indivíduo pode ter o tratamento bem sucedido e qualidade de vida”, diz.

 

Material destinado para o público geral e imprensa. Em caso de dúvidas ligue gratuitamente SAC: 0800 773 8880. BR/REV/2006/0043 – Junho de 2020.