Janette Sadik-Khan, ex-chefe do Departamento de Transportes de Nova York e consultora de mobilidade da Bloomberg Associates

Como converter ruas congestionadas e perigosas em locais públicos vibrantes, seguros e fundamentais? Essa não é uma pergunta filosófica para urbanistas; é uma questão muito real e atual que cidades em desenvolvimento como São Paulo precisam responder agora para garantir um futuro saudável, sustentável e próspero. Mas não é preciso reinventar a roda: qualquer cidade pode aprender com o sucesso de seus pares em todo o mundo, emprestando, adaptando e adotando atitudes que funcionaram em outros lugares.

Foi exatamente o que fizemos em Nova York. Ao longo de um período de seis anos – entre 2007 e 2013 –, o Departamento de Transportes que liderei adotou uma nova abordagem em relação às nossas ruas e ao foco de sua utilização. Sob o comando do prefeito Michael Bloomberg, fizemos uma revolução no transporte urbano. Construímos mais de 650 quilômetros de ciclovias; criamos sete rotas expressas para ônibus que aceleraram os trajetos de centenas de milhares de usuários; inauguramos o maior sistema de bicicletas compartilhadas do continente; construímos mais de 60 calçadões para pedestres através da cidade onde, antes, carros ficavam parados no trânsito, incluindo a Broadway em Times Square; e redesenhamos ruas para diminuir acidentes de trânsito fatais aos seus menores níveis em um século. E isso não foi realizado apenas nas áreas mais movimentadas. Longe dos arranha-céus do centro, em bairros de todos os tipos, Nova York transformou corredores largos e perigosos em ruas caminháveis, criadas para pessoas, não apenas para automóveis.

Muitas dessas transformações ocorreram não em anos, mas em semanas ou meses, e foram implantadas usando materiais baratos e flexíveis como tinta, mesas e cadeiras. Enquanto tomaram conta de 99% dos noticiários, esses projetos custaram apenas 1% de nosso orçamento total, para reformas básicas como consertos de pontes e vias. Projetar ruas para a população que usa ônibus, caminha ou anda de bicicleta também se provou ótimo para o comércio local dos bairros. Talvez seja por isso que são tão populares. Pesquisas independentes descobriram que a grande maioria dos nova-iorquinos apoia as ciclovias, as bicicletas compartilhadas e os calçadões. Hoje, as pessoas têm expectativas diferentes sobre o potencial de suas ruas, e os nova-iorquinos estão exigindo intervenções como essas em seus próprios bairros.

O impacto de nosso trabalho na cidade de Nova York pode ser visto muito além do Brooklyn ou do Bronx. Nossas experiências e aquelas de cidades empreendedoras foram traduzidas no Global Street Design Guide, dando permissão para que outras cidades pelo mundo inovem, com projetos de engenharia que vão bem além de remover os carros rapidamente. Em meu trabalho com a Bloomberg Associates e como líder da National Association of City Transportation Officials e da Global Designing Cities Initiative, conheci prefeitos de cidades de todos os continentes e observei-os enfrentando os mesmos desafios que nós, e implementando grandes soluções. Focando nas pessoas, priorizando o tráfego e fazendo com que as ruas sejam lugares e não apenas espaços, São Paulo pode se transformar em uma nova cidade.