A evolução da medicina nuclear tem feito com que ela se torne um dos maiores aliados na luta contra os diversos tipos de câncer. Um exemplo é o exame de PET-CT, ou tomografia por emissão de pósitrons combinada com a tomografia computadorizada, hoje um dos mais modernos e poderosos utilizados na avaliação de pacientes com câncer.
O médico nuclear e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), Cláudio Tinoco Mesquita, explica que o exame é aplicado na detecção precoce e acurada das lesões causadas por câncer e na avaliação de suas metástases. “Ele auxilia o médico oncologista na definição do plano de tratamento dos pacientes e em sua posterior avaliação. O mesmo paciente que fez um PET para detectar a extensão do linfoma, pode fazer outro depois do tratamento para saber se as células ainda estão vivas”, explica.
Com este alcance, seria de se imaginar que o Sistema Único de Saúde (SUS) estaria investindo para garantir acesso ao exame aos pacientes com diversos tipos de câncer, mas não é bem assim. De acordo com Mesquita, o exame foi incorporado pelo SUS no ano passado, mas somente para tumores de pulmão, de cólon e para lesões no fígado. “São poucas indicações. Nos Estados Unidos, o PET-CT tem mais de 40 indicações e, mesmo aqui, os planos de saúde cobrem oito indicações, abrangendo mama, esôfago, melanoma, cabeça e outros”, diz.
Além disso, o País não conta com equipamentos em número suficiente para atender à população. Atualmente, o Brasil conta com cerca de 150 aparelhos instalados e espalhados por todos os estados, mas um estudo da Organização das Nações Unidas (ONU) realizado em 2015 indicou a necessidade de se duplicar esse número. Para Mesquita, é preciso não apenas ampliar o número de indicações cobertas pelo SUS (a ANS propôs sete novas, que devem ser incluídas em 2018), como também a quantidade de aparelhos e de profissionais formados em medicina nuclear.
“Há muitos centros de referência que não contam com esse recurso, por isso temos trabalhado para induzir um plano de expansão, especialmente no SUS”, defende o presidente da SBMN, lembrando que o PET-CT é o exame por imagem que mais demorou a chegar no Brasil. “Até hoje vemos pacientes saindo do País para fazer exames no Uruguai e no Chile por conta disso. O PET-CT é indispensável para o manejo do paciente com câncer”.
Por dentro do exame
A eficiência do exame de PET-CT se deve ao fato de ele ser feito por um equipamento híbrido. De acordo com o gerente de produto de imagem molecular da Siemens, Daniel Santolin, o equipamento utilizado combina duas modalidades em um único sistema: a medicina nuclear e a radiologia.
“Com este exame, o médico tem uma imagem gerada por medicina nuclear fusionada com uma imagem de tomografia. A primeira traz informações sobre o metabolismo do paciente, identificando como as células dele estão respondendo ao exame. Quando você acopla esta imagem à tomografia, você tem também informações anatômicas”, explica.
Para a obtenção do resultado, o exame é feito por meio da administração, no paciente, de um radiofármaco à base de glicose, chamado de marcador, que leva o organismo a uma reação. Um dos radiofármacos mais utilizados é o FDG-18, marcado com uma partícula radioativa. “O equipamento detecta a marcação que vem deste elemento. Quando injetado o fármaco no paciente, as células tumorais captam o excesso de glicose, que fica acumulado nas regiões cancerígenas. O equipamento identifica a radiação, permitindo identificar uma anomalia, ou região de interesse que deve ser estudada”, diz.
Quando a imagem da tomografia é sobreposta, o médico consegue uma visão anatômica perfeita sobre a localização do tumor e pode distinguir exatamente em que região está ocorrendo o processo de lesão. “O exame é muito utilizado no setor de oncologia, mas ele vai além. É indicado também em cardiologia e neurologia”, ressalta Santolin.