Pesquisas das mais diferentes fontes apontam a saúde como uma das três principais preocupações da população brasileira, muitas vezes como a principal delas. De acordo com a Constituição brasileira a saúde é um direito universal, mas o modo como está organizada torna cada dia mais difícil, e caro, o acesso.
Alguns números revelam esta realidade: entre 2004 e 2013, o orçamento do Ministério da Saúde cresceu 163%, enquanto os gastos com medicamentos tiveram alta de 266%. Na mesma medida, os gastos com saúde estão entre os que mais pesam no bolso dos brasileiros, tanto que 55% deles não conseguem comprar os medicamentos que necessitam. Além disso, segundo o IBGE, em 40 anos a população idosa vai triplicar no Brasil e passará de 19,6 milhões (10% da população do País), em 2010, para 66,5 milhões, em 2050 (29,3% da população) – o que vai gerar ainda mais gastos na área da saúde.
Estas variáveis formam uma equação de difícil solução: o setor deve lidar com custos cada vez mais altos e, ao mesmo tempo, encontrar meios de manter os custos para os pacientes. A consequência deve ser a oferta de mais resultados a custos menores. De acordo com Carlos Eduardo Gouvêa, presidente da ABIIS (Aliança Brasileira da Indústria Inovadora em Saúde), grande parte dessa busca tem se concentrado na área de dispositivos médicos, que abrangem desde um simples band-aid até próteses e equipamentos de ultrassom.
Saúde 4.0
“Cerca de 80% das decisões médicas dependem de diagnóstico. Dessa maneira, quanto mais preciso e precoce ele for, maiores as chances de tratamento”, comenta Gouvêa, ressaltando aonde os esforços estão mais concentrados. Além disso, diagnósticos precoces e precisos representam também tratamentos mais eficientes e, portanto, mais baratos.
Para construir propostas para um setor mais eficiente, a ABIIS criou um documento, chamado Saúde 4.0, que traz 25 propostas para alavancar o segmento de dispositivos médicos no Brasil. O presidente da entidade lembra que grande parte dos investimentos do setor de saúde é direcionada aos cuidados com os pacientes. “Os sistemas de informação e infraestrutura ficam em segundo plano, e essa é uma das razões da baixa conectividade entre usuários e as indústrias da área”, afirma.
Para cobrir essa lacuna, a ABIIS adotou o conceito de Saúde 4.0, que é uma derivação do conceito Indústria 4.0, que propõe uma forma de produção, em que, geralmente, o bem manufaturado deixa de ser objeto passivo, passando ele mesmo a decidir onde, como e quando deve ser fabricado. Na indústria, isso é possível porque o produto final e as máquinas que o fabricam “conversam” entre si, tendo como base as tecnologias ancoradas na internet das coisas e na internet dos serviços.
“Com o Saúde 4.0, a cadeia de suprimentos – que antes era vista como centro de custos – passa a ser uma oportunidade para a inovação, uma vez que poderá “compreender”, de forma mais ágil, as demandas do usuário final, além das especificidades regionais, aspectos de crucial importância num país da dimensão do Brasil”, explica. O Saúde 4.0 também amplia as possibilidades das parcerias colaborativas entre os atores da mesma cadeia de valor, que poderão compartilhar o planejamento coordenado da produção e distribuição, atendendo de forma ágil e eficaz às necessidades dos usuários. Dessa forma, trabalha-se com estoques adequados às demandas evitando atrasos ou indisponibilidade de produtos.
O executivo cita alguns exemplos, como a parceria firmada entre a ABIIS e a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), para o desenvolvimento de dois projetos na área de Tecnologia da Informação. Um deles tem o objetivo de otimizar os processos de importação e exportação na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), utilizando softwares que permitam a troca rápida de informações entre laboratórios e o órgão do governo.
Outro projeto é o de rastreabilidade de medicamentos. De acordo com Gouvêa, há um desperdício muito grande no sistema de saúde de produtos que vencem sem ser utilizados. “Estamos discutindo o uso do UDI (Unique Device Identification), um código global para equipamentos médicos, permitindo que os fabricantes planejem a produção de acordo com o consumo, com instrumentos fáceis de gerenciamento”, conta.
Muitos desses esforços estão se concentrado na prevenção de doenças e é aqui que fornecedores, como a Siemens, têm participação fundamental. De acordo com Armando Lopes, country head da Siemens Healthineers do Brasil, o mercado começa a tomar consciência de que tecnologia não é um custo, mas um investimento. “É um recurso que pode auxiliar na gestão do sistema de saúde em suas mais variadas escalas. Isso significa melhorar a qualidade de vida do paciente, dos profissionais e do sistema como um todo”, diz.
Para tanto, a área de Healthineers vem atuando com força em seis áreas de negócios: diagnóstico por imagem, terapias avançadas, , diagnósticos laboratoriais, point of care, consultorias e serviços em TI.
E algumas dessas soluções podem ser bem simples. O ambulatório do Massachusetts General Hospital, por exemplo, tinha a necessidade de reduzir as ligações e cartas de follow-up para pacientes. Eles implementaram uma solução Point-of-Care da Siemens, reduzindo o tempo de chamadas e aumentando a eficiência operacional: as ligações telefônicas foram reduzidas em 89%; as cartas, em 85%; e as revisitas de pacientes caíram 61%. O resultado final representou um acréscimo de eficiência de US$ 24,64 por paciente atendido.
A população cresce e envelhece:
1950 – expectativa de 46 anos – 2 milhões acima de 60 anos
1975 – expectativa de 59,5 anos – 6,2 milhões acima de 60 anos
2000 – expectativa de 68,6 anos – 13,9 milhões acima de 60 anos
2013 – expectativa de 74,9 anos – 26,1 milhões acima de 60 anos
2060 – expectativa de 81,2 anos – 58 milhões acima de 65 anos
Fonte: IBGE