“Nas próximas décadas, a digitalização se tornará parte significativa da força produtiva nas mais diversas áreas da indústria, medicina, infraestrutura, segurança, entre outras. A presença cada vez maior da tecnologia nos ambientes de trabalho começa a suscitar importantes discussões sobre o papel dos profissionais. O que fazem melhor do que as máquinas? Quais são as suas vantagens comparativas? No que são insubstituíveis?”. Estas questões apareceram no relatório Future Work Skills in 2020 (habilidades para o trabalho em 2020, em tradução livre). A publicação feita pelo Instituto do Futuro, organização não governamental que estuda tendências em inovação, também já trouxe a resposta.
Neste cenário, as habilidades interpessoais se tornarão tão ou mais importantes do que as técnicas. Além de altamente qualificados, os profissionais do futuro deverão ser criativos e adaptáveis a novas realidades, saber trabalhar em equipes interdisciplinares e compartilhar suas ideias com foco nos resultados. “Essas características não se aprendem na faculdade, mas podem ser desenvolvidas”, diz o consultor de carreira Sidnei Oliveira, autor livro Geração Y.
Coletivo x colaborativo
A tecnologia possibilitou o acesso e compartilhamento de informações de qualquer lugar e a qualquer hora, e essa mudança está transformando o trabalho nas empresas. Projetos colaborativos, realizados por equipes interdisciplinares e globais, já começam a substituir os trabalhos coletivos.
No modelo coletivo, cada pessoa tem um papel dentro do grupo. O foco é a tarefa. No colaborativo, os funcionários têm atribuições, mas não se fixam nela, o foco é o resultado. O primeiro passo para se tornar um profissional colaborativo é se conscientizar de que não é mais possível fazer apenas o próprio trabalho sem se importar com o todo, segundo Oliveira. “Para criar interação, é necessário se expor a situações que a favoreçam”, diz. Participar ativamente de grupos relativos às áreas de atuação nas redes sociais; frequentar aulas coletivas ou marcar almoços com pessoas de outros departamentos da empresa são alguns exemplos de oportunidades.
A melhor forma de destacar no currículo a capacidade de relacionamento é descrever vivências que mostrem essa habilidade. Por exemplo: contar que participou de um grupo de voluntariado em um asilo, no qual conversava, em média, com três idosos por dia. “A pessoa que estiver lendo poderá avaliar se na atividade descrita existe colaboração e interatividade. Mostrar como fez é melhor do que apenas dizer que fez”, diz Oliveira.
Criatividade e produtividade
A pesquisa Carreiras do Futuro, divulgada pelo Programa de Estudos do Futuro, da Fundação Instituto de Administração (FIA), reafirma que o desenvolvimento tecnológico exigirá cada vez mais profissionais criativos. De acordo com os especialistas, a criatividade que as empresas buscam diz respeito à capacidade de desenvolver ideias inovadoras em diferentes cenários, adaptando-se de forma produtiva a ambientes de trabalho em constantes mudanças.
Essa é outra habilidade interpessoal que pode ser desenvolvida, segundo Oliveira. “O profissional precisa ampliar seu repertório. A criatividade nada mais é do que um exercício de ligar pontos”. Para isso, não existe outra maneira a não ser consumir informação. Quanto mais diversificado o repertório, maior a capacidade de fazer conexões inovadoras.
Para desenvolver essa habilidade de maneira estratégica, é preciso focar na área de interesse, segundo o especialista. Quanto mais um cozinheiro consumir informações ligadas ao ramo de alimentação, por exemplo, maior será sua capacidade de ser criativo no desempenho dessa função. E, também neste caso, a melhor maneira de demonstrar tal habilidade é descrevê-la. “Um administrador que encontrou uma solução para diminuir os custos da empresa e aumentar a produtividade pode resumir a situação no currículo”, exemplifica Oliveira. “Dessa forma, é como se o profissional estivesse demonstrando a capacidade agregar valor com suas atividades.”