Existe uma carência em investimentos na infraestrutura de transportes no País. Os especialistas apontam a iniciativa privada como uma saída. Onde estão os entraves?

Leonardo Vianna: A parceria entre o governo e a iniciativa privada se apresenta como uma ótima opção para viabilizar investimentos, especialmente frente à escassez de recursos da gestão pública. Há consenso também sobre a necessidade de o Brasil garantir a estabilidade da economia e do marco regulatório. Nesse contexto, a insegurança jurídica nos contratos de concessão mostra-se como um dos principais riscos para afastar investidores e comprometer a entrada de novos players. O País amadureceu muito nesse campo, mas precisa avançar mais se quiser, de fato, transformar a infraestrutura em dez anos.

Os projetos de infraestrutura no Brasil são adequados e atrativos para os investidores?

Leonardo Vianna: Com tanto para se fazer nesse setor, existem grandes oportunidades e projetos para atrair o interesse dos investidores. O problema é que a capacidade da administração pública (em todos os níveis) de torná-los viáveis está aquém do necessário. Os leilões de concessão devem avançar, mas é importante que o projeto e o edital sejam bem estruturados; que as empresas participantes da disputa tenham capacidade técnica e financeira para executá-los e arcar com os investimentos. Ao fim, devem operá-los. Mais importante do que construir a infraestrutura é garantir que esta esteja prestando serviço de qualidade aos usuários até o fim da concessão.

Leonardo Vianna, presidente do Grupo CCR

Quais as vantagens de um projeto coordenado por um operador de infraestrutura?

Leonardo Vianna: A perspectiva para esse ator não é só a obra, mas a operação do serviço por todo o período do contrato. Já há no Brasil contratos de parcerias público-privadas (PPPs) em que a concessionária tem como meta construir o projeto o mais rápido possível. E isso ocorre porque o operador não será remunerado pela obra, mas pelo serviço à população. Então, para essa concessão, a obra deve ter qualidade e ser feita rapidamente, com menor custo. Um grande exemplo, que inclusive já está em operação, exatamente em razão do modelo de contratação, é o metrô de Salvador. A PPP de lá, uma PPP integral, previa o concessionário como o responsável pela construção da infraestrutura, mas sua remuneração ocorreu apenas quando os trens começaram a transportar as pessoas.

Como os investimentos em pavimento ajudam a melhorar as estradas e os serviços para o usuário?

Leonardo Vianna: Esse é um investimento importante. O Grupo CCR opera e mantém mais de 3 mil quilômetros de rodovias e, durante os seus mais de 20 anos, realizou pesquisas e investimentos que trouxeram conhecimento para garantir a qualidade de nossas estradas. Para isso, o Grupo criou a CCR Engelog, fazendo, além da gestão dos investimentos em engenharia para todas as unidades do grupo, a internalização dos projetos de restauração e desenvolvimento de pavimento sustentável e de longa duração. Isso exigiu a criação de um centro de excelência, instalado na cidade de Santa Isabel, em São Paulo. Inovação faz parte do negócio e está em outras áreas da companhia, como a CCR EngelogTec, focada em tecnologia, e na Samm, empresa de telecomunicações do grupo.

E no transporte sobre trilhos, quais as contribuições da tecnologia?

Leonardo Vianna: O nível de automação nessa área é elevadíssimo. Com os investimentos que estamos fazendo, há neste momento centenas de profissionais espalhados pelo País operando sistemas de transporte sobre trilhos, na CCR Metrô Bahia, no VLT Carioca, na ViaMobilidade ou na ViaQuatro. Há muita tecnologia e inovação atrás de tudo isso, algo fundamental para garantir o conforto e a segurança dos usuários. A ViaQuatro, da Linha 4-Amarela do metrô de São Paulo, implementou, nos monitores das plataformas, o gráfico que aponta a disponibilidade de espaço no trem, permitindo que o usuário escolha o carro menos ocupado. Além disso, instalou também o cronômetro, que mostra o tempo para a chegada da composição. O indicador de lotação é inédito em metrôs no mundo e, inclusive, foi reconhecido pelo Prêmio UITP – União Internacional de Transportes Públicos. Outra iniciativa de destaque foi o simulador de trens, primeiro do mundo desenvolvido para uma linha driverless, sem condutor. O equipamento faz parte do investimento permanente da concessionária em inovação e tecnologia que serve de modelo para outros negócios não apenas do Grupo CCR, mas de todo o País.