24 de março de 2017

Como ter equipes preparadas para o futuro – agora

Se a paisagem do local onde você trabalha não mudou radicalmente nos últimos anos, ela está prestes a mudar. É cada vez mais comum encontrar espaços quase sem barreiras, que estreitam as relações entre colaboradores e as tornam mais horizontais.

Fora isso, há companhias que digitalizaram parte significativa dos processos e incentivam a produção remota. A proliferação de coworking e home office é um dos resultados mais perceptíveis dessas políticas. E existe a mudança de status quo trazida pelos millennials – uma nova geração de trabalhadores que não se apega a nenhuma organização, a não ser que os valores locais façam sentido, que seja possível ter qualidade de vida e benefícios intangíveis.

Todas essas transformações exigem novas posturas. O presente já se impõe como um desafio, com a Quarta Revolução Industrial em curso, comandada pelo peso dos meios digitais no trabalho. É isso que aponta um estudo lançado em 2017 pela Accenture, o “Harnessing Revolution – Creating the Future Workforce Today” (“Aproveitando a Revolução – Criando a Força de Trabalho do Futuro Hoje”, em tradução livre).

Segundo o relatório, as empresas precisam “digitalizar as pessoas”. Isso significa descobrir como manter humanos relevantes quando softwares se tornam “colegas de trabalho”, atraindo e desenvolvendo talentos, ao mesmo tempo que se certificam de que ninguém foi deixado para trás.

O material se desdobra em três partes para ajudar os líderes a entender como agir: o Index de Valores do Trabalhador, criado em parceria com a consultoria Gallup; um modelo econômico para mensurar o impacto da automação na produtividade; e uma pesquisa com mais de dez mil trabalhadores, em dez países, para analisar o peso do avanço da tecnologia em sua rotina.

Hoje, 40% dos profissionais acreditam que existe uma escassez de talentos. Estima-se que, em 2020, mais de um terço das habilidades desejadas em funções de trabalho irão abranger habilidades que não são cruciais hoje.

No Brasil, o cenário inspira otimismo, segundo Patrícia Feliciano, diretora executiva de Talent & Organization na Accenture. “O brasileiro está preparado para esse ambiente de automação. Isso não nos assusta. Temos vontade de fazer e gostamos de experimentar. Um europeu é muito mais fechado para inovações”, afirma.

A executiva avalia ainda que não é preciso temer o futuro. “Nos próximos dez anos, iremos tornar mais serviços digitais, para além dos call centers, por exemplo. Por outro lado, as pessoas serão mais relevantes em um ano, desde que tenham novas competências”, aponta Patricia. “Saber se adaptar, ser criativo e ter habilidade com gente são diferenciais.”

O que os líderes precisam fazer hoje para ter relevância no futuro

  • Acelerar pessoas em construção. Por quê?

    De acordo com a pesquisa da Accenture, 84% dos trabalhadores ouvidos estão animados com as mudanças trazidas pelo avanço da tecnologia.

    O reino unido deve reduzir o risco de tornar o trabalho totalmente realizado por máquinas em menos de 6%, em 2035, se as habilidades forem realocadas; na Alemanha, esse percentual é de 10%; nos Estados Unidos, de 4%.

    Ao mesmo tempo, 58% sabem quais habilidades precisam desenvolver se quiserem se manter relevantes.

    É necessário saber realizar tarefas que envolvem inteligência social e emocional.

    Do lado das empresas, haverá menos cortes de postos de trabalho devido à automação conforme os colaboradores tiverem a capacidade de realocar habilidades.

    A inteligência artificial sozinha tem o potencial de dobrar o crescimento econômico anual e aumentar em mais de 40% a produtividade nos 12 países desenvolvidos analisados.

  • Redesenhar o trabalho para desbloquear o potencial das pessoas. Como?

    Vá com calma. Em vez de esperar que a empresa como um todo implante as novas práticas, dê espaço para que elas aconteçam em nichos da companhia. A cultura corporativa tradicional tem o poder de esmagar ideias. O melhor dos mundos é combinar o velho e o novo até que as novidades se provem viáveis.

    É fundamental que possam ir além da entrega de resultados e inspirar a criatividade e novos modos de pensar.

    Devem demonstrar curiosidade.

    Garanta que o saber seja compartilhado entre todas as áreas, usando plataformas online. Faça benchmarking interno.

    Os novos líderes precisam gerenciar de modo horizontal, e não hierárquico.

    Estruturas formais de trabalho não garantem a agilidade exigida pela inovação digital. É necessário dar poder às pessoas, acreditando que elas podem, sim, ser responsivas em qualquer lugar – na baia ao lado ou em outro país –, com contrato CLT ou como freelancers.

    Promova encontros de gerações. Colaboradores com décadas de carreira que se aposentaram e novatos cheios de ideias devem assumir programas de treinamento e disseminar práticas e perspectivas de valor.

    A AT&T, por exemplo, sentia falta de experts em ciência de dados, computação baseada em nuvem e codificação. Havia a ambição de contratar 140 mil pessoas para suprir essa demanda. Para isso, foi lançado o programa “Workforce 2020” (“Força de Trabalho 2020”). Em quatro meses, funcionários da casa passaram por uma enorme reciclagem, preencheram metade das vagas e receberam 47% de todas as promoções. Isso é mudar para transformar as pessoas e a própria corporação.

  • Fortalecer os talentos desde a origem. O que transformar?

    Enxergue a empresa como uma célula dentro de um organismo que envolve a sociedade, os governos e a academia, além de outras empresas. Os talentos devem ser cultivados em todos os lugares.

    Faça parcerias com companhias do setor ou com uma cultura semelhante e conquiste mais relevância perante a sociedade e futuros profissionais. Faça com que as pessoas sonhem em trabalhar para a sua organização.

O caminho a ser trilhado pelas empresas que não querem perder o rumo:

  • Largada

    Entender que o trabalho mudou. As pessoas desejam deixar um legado, não querem somente uma carreira de sucesso. A nova geração busca relevância. Os antigos precisam se preparar, pois os nativos digitais já estão prontos.

  • Casa 1

    Desbloquear o potencial humano criando ambientes com mais flexibilidade e autonomia. É isso que os profissionais desejam.

  • Casa 2

    Reconhecer que novas competências precisam ser desenvolvidas desde a escola, antes mesmo da faculdade. Se sua empresa pode criar um programa de educação, pontos extras!

  • Casa 3

    Seja criativo no jeito de fazer, e não só para criar um produto. O novo deve estar embutido em processos e comportamentos.

  • Casa 4

    Faça com que o ambiente seja colaborativo, ou seja, tenha ferramentas de troca de conhecimento disponíveis e fáceis de usar.

  • Casa 5

    Aposte em mudanças simbólicas, porém significativas. Se as pessoas desejam mais reconhecimento, pense em como isso pode acontecer rapidamente, sem tornar tudo burocrático demais.

  • Linha de chegada

    Contar com um ambiente de trabalho extremamente prazeroso, onde as pessoas têm total autonomia para fazer acontecer usando a tecnologia.

Ver comentários