22 de março de 2017

Business: a importância de antecipar tendências num mundo que muda a toda hora

Fazer negócios lucrativos é o desafio mais complexo, atualmente, para as empresas. Não apenas devido aos cenários recentes de crise global, que barraram o ânimo de boa parcela dos consumidores, mas também porque as companhias ainda se sentem perdidas frente às novas regras da liderança – encontrada entre as organizações que entendem as demandas do momento, como a Netflix, que mudou a maneira como as pessoas consomem entretenimento. Ou o Uber, que redefiniu o mercado de transporte particular.

Sim, sai na frente quem é capaz de antever contextos e tendências. E é justamente esse o trabalho realizado pela Fjord, estúdio global de design de serviços e inovação, fundado em 2005. Desde 2008, a Fjord publica o Fjord Trends, um relatório que ajuda corporações a antecipar cenários e se preparar para realidades iminentes.

A Fjord é formada por 800 profissionais, entre designers e desenvolvedores, divididos em 22 estúdios ao redor do mundo. Esse time enorme trabalha para oferecer as soluções sempre relacionadas diretamente com o que esperam os usuários de serviços.

Há três anos, a Fjord foi adquirida pela Accenture, e a versão brasileira do relatório está na segunda edição. “Mapeamos as emoções que são despertadas por produtos e serviços, e desenhamos as oportunidades que podem surgir daí”, afirma Claudia Niemeyer, diretora da Fjord América Latina.

Para chegar à mais recente edição do Fjord Trends, foram necessários 12 meses. O material condensa oito tendências emergentes que irão mudar a cara dos negócios, das próprias empresas e da sociedade neste ano e nos próximos.

Com nomes divertidos e sugestivos como “Shiny API People”, uma referência ao hit dos anos 1990 do R.E.M. e ao desenvolvimento de interfaces para aplicativos, mostra, em cada tópico, o que está acontecendo, o que está por vir e como as companhias devem se comportar se não quiserem perder o bonde – ou melhor, o carro autônomo!

Entre essas oito tendências, Claudia destaca as “Histórias Efêmeras”, protagonizadas pela tecnologia mobile. Isso significa que os esforços feitos pelo Facebook, Instagram e WhatsApp para permitir aos usuários transmitir ao vivo (como já fazia o Snapchat) se mantêm. As corporações precisam descobrir como fazer parte disso de maneira não invasiva ou repetitiva. E que tenha sentido para quem assiste. “Essa é essencial, porque coloca o usuário no holofote”, avalia. “As pessoas não se importam mais com o que uma marca diz.”

As interações devem ser mais humanas e autênticas. Para tal, vale abrir a cabeça em relação a novos postos de trabalho, como o de auditor de algoritmo, aquele especialista que será capaz de ler desejos iminentes e demandas escondidas, que brotarão a qualquer minuto, e traduzi-las.

Algumas tendências são bastante distantes da realidade brasileira, por exemplo as relacionadas a tecnologias muito avançadas, como os carros autônomos. “Num país onde ainda não existe cobertura 3G total, parece impossível. Não esperamos que lancem um carro assim por aqui, mas que as empresas se preparem para o que vai acontecer e possam dar passos mais próximos dessas novas realidades”, afirma a diretora.

Até que ponto as empresas brasileiras estão prontas? Essa é uma pergunta recorrente no mundo da inovação. Importa menos a capacidade atual e mais a de contratar líderes com novas mentalidades, além de melhorar a experiência dentro das empresas. “Ainda mais com os millennials, que se não estão felizes vão embora e montam uma startup. As pessoas precisam ser levadas em conta.”

No limite, tudo, hoje, se trata de uma experiência social, de dentro para fora. Veja como isso deve acontecer e qual é o papel das empresas que buscam potencializar seus negócios.

Tendências emergentes para 2017 e os próximos anos

. Histórias Efêmeras
O que é?

como as marcas devem se comportar quando não existe mais passividade, e todos podem produzir e disseminar conteúdos? Quem sai na frente quando a palavra de ordem é democratização?

O que vem aí?

storytelling das marcas é substituído pelo storydoing. Os usuários são curadores das histórias e experiências com produtos e serviços. A “fórmula” do sucesso passa por: vídeo > imagem > texto. Tudo descartável, instantâneo e sem edição.

O que as empresas devem fazer?

passar a cocriar histórias. A missão exige a participação ativa de funcionários, influenciadores, experts, clientes e da comunidade em que elas se inserem. Precisam incorporar a “bagunça” dos vídeos ao vivo, mais autênticos, e colocar as pessoas no centro de tudo. A marca é dos clientes, não da corporação. Permita que o consumidor gerencie sua própria história com ela.

O que as empresas não devem fazer?

lançar conteúdos e abandoná-los.

. Shiny API People
O que é?

a capacidade de responder às mudanças com agilidade, assim como uma startup, combinada à atuação em larga escala, como fazem as empresas tradicionais. As pessoas se tornam os IPs (Intellectual Property) e APIs (Application Program Interface), e devem moldar o futuro da organização.

O que vem aí?

os centros de inovação devem se tornar redundantes, pois ela precisa ser constante e orgânica, parte essencial de todas as áreas.

O que as empresas devem fazer?

produzir inovação digital em escala e estimular o potencial de pessoas brilhantes. Precisam abraçar ferramentas de colaboração simples de usar, como o Workplace, do Facebook, e o Microsoft Teams.

O que as empresas não devem fazer?

criar estruturas muito rígidas, que não suportem mudanças rápidas ou ideias vindas de todos os lados. Lembre-se: os mercados estão mudando muito, e em pouco tempo.

. Realidades Borradas
O que é?

limites menos claros entre realidade aumentada, realidade virtual e realidade misturada. Um exemplo é o Pokémon Go, um dos maiores fenômenos globais de 2016. Como as marcas se inserem nesse contexto?

O que vem aí?

ainda é difícil precisar o que irá acontecer, mas alguns projetos estão prestes a deslanchar, como o Hololens, da Microsoft, e o Samsung Gear, óculos que permitem enxergar hologramas em alta definição. Este último já está disponível no Brasil.

O que as empresas devem fazer?

pensar em como despertar novas emoções por meio de uma conectividade até então impossível. Como sua personalidade pode ser expandida a partir do uso dos novos gadgets? Os designers devem ter liberdade para criar plataformas experimentais onde seja possível construir experiências integradas.

O que as empresas não devem fazer?

considerar aplicativos como experiências isoladas. A palavra do momento é interconectividade.

. Mundo Sobre Rodas
O que é?

o modo como as empresas responderão aos veículos autônomos. Precisam se preparar agora para entender os carros como algo vivo e conectado, que vai além do meio de transporte, e deve ser realidade em 2020, possivelmente.

O que vem aí?

o carro deixará de ser um lugar de “tempo ocioso”. Com os veículos autônomos, o desafio é atingir o consumidor num momento em que ele está aberto a novas interações. No Brasil, questões ligadas à infraestrutura ainda impedem que essa tendência avance rápido como no resto do planeta.

O que as empresas devem fazer?

quando comprar um carro deixa de ser prioridade, as montadoras precisam pensar mais como pesquisadores, agir como designers de experiência e programar como empresas de software.

O que as empresas não devem fazer?

pensar em carro como um... carro. O veículo deixou de ser uma necessidade para fazer parte de um ecossistema.

. Casas Sem Fronteiras
O que é?

o conceito de casas inteligentes mal nasceu e já está morrendo. Agora, elas precisam poder ser geridas de qualquer lugar pelo morador, mesmo quando ele não está lá. E devem criar experiências positivas.

O que vem aí?

casas que ajudam a economizar na conta de luz, por exemplo, ao trocar de provedor automaticamente. É o caso do Flipper.

O que as empresas devem fazer?

projetar para indivíduos, pensando em personalizar serviços para que eles desfrutem em casa, fora dela ou vejam resultado nas finanças domésticas.

O que as empresas não devem fazer?

pensar em conectar objetos, como era a proposta inicial das casas inteligentes. A ideia é conectar os moradores ao criar experiências de valor.

. Marcas no Muro
O que é?

a escolha que as marcas precisam fazer agora sobre onde querem estar. Em cima do muro ou ao lado das que inovam? Este é o mesmo lado das empresas que estendem domínios para além dos mercados originais, como o Google, o Uber e o Facebook. E também das startups, que têm propósitos únicos e agradam pela especialização que oferecem a nichos de mercado.

O que vem aí?

a firma de pesquisas Gartner prevê que, até 2021, 20% de todas as atividades realizadas por um indivíduo irão envolver pelo menos um dos sete gigantes digitais – Apple, Amazon, Facebook, Google, Microsoft, Netflix e Yahoo.

O que as empresas devem fazer?

tornar-se Living Brands, ou seja, marcas vivas. O comportamento é o ativo mais valioso. Para descer do muro, é necessário escolher um propósito.

O que as empresas não devem fazer?

deixar de demonstrar a diferença que podem fazer, em múltiplos ambientes – algo para usar, a dizer, algo a fazer ou algo para se relacionar.

. Eu, Eu Mesmo e IA
O que é?

a Fjord prevê que os chatbots (softwares capazes de manter conversas via áudio ou texto) são, provavelmente, o modo como consumidores irão experimentar a Inteligência Artificial no futuro e agora.

O que vem aí?

as máquinas precisam ser capazes de “desenvolver” e “entender” emoções, e assim fornecer robôs mais “humanizados”. O Watson Bluemix, da IBM, analisa o tom de voz e a personalidade por meio de mensagens, por exemplo.

O que as empresas devem fazer?

deixar claro que o chatbot é o assistente das pessoas, e não das empresas. Também necessitam ampliar a confiança dos consumidores, que terão de compartilhar informações muito pessoais, e precisam se sentir livres para isso.

O que as empresas não devem fazer?

lançar mecanismos de conversa com robôs que deixem as pessoas se sentindo enganadas. É necessário sempre apostar na transparência.

.Consequências Inesperadas
O que é?

os efeitos colaterais da mudança do mercado, por exemplo, o que acontece no ramo imobiliário com a entrada do AirBnb. Ou os problemas que nascem com a criação de um chatbot que emite opiniões extremistas no Twitter, caso do Tay, da Microsoft.

O que vem aí?

a ética digital está em pauta.

O que as empresas devem fazer?

ter como parâmetro a experiência social e a necessidade de incluir os excluídos em suas novidades.

O que as empresas não devem fazer?

não considerar a diversidade ou o meio ambiente em suas ações.

Aqui no Brasil. Conheça alguns projetos da Fjord

A cada ano, a Fjord diminui a porcentagem de erro em suas previsões. “Estamos próximos de 100% de acerto”, afirma Claudia Niemeyer, diretora para a América Latina. Veja, a seguir, alguns mercados em que a empresa atua no Brasil a partir das tendências que mapeia.

  • Aeroportos
    Aeroportos

    implantar novas tecnologias para desfrutar o tempo antes do voo e simplificar a experiência de viagem.

  • Empresas de cosméticos
    Empresas de cosméticos

    criar nova estratégia de engajamento de clientes para permitir a criação de serviços mais acessíveis.

  • TV
    TV

    proporcionar experiências e conteúdos relevantes para telespectadores, de modo que a televisão se mantenha presente na vida das pessoas em tempos de internet e gadgets mobile.

  • Bancos
    Bancos

    zerar a burocracia na hora de abrir uma conta e comprar produtos. Mais do que isso, tornar real um banco digital e eliminar a necessidade de ir a uma agência.

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