Geografia Mascarada
Em um dos pontos altos da cidade, Paulista divide as bacias dos rios Tietê e Pinheiros
A verticalização da metrópole camufla a imponência geográfica do espigão da Avenida Paulista. Mas os milhares de visitantes que lotam o lugar aos domingos, desde que ele passou a ser fechado para os automóveis e ônibus em 2015, podem perceber como uma brisa muitas vezes refrescante no verão ou um vento gelado no inverno sopram sobre os seus rostos em áreas mais abertas, onde os altos edifícios que ladeiam o asfalto não sufocam tanto o ambiente.
É a primeira vez que volto a São Paulo e passeio pela Paulista fechada aos carros, estou adorando
A diversidade cultural disponível nesta avenida é muitísimo interessante. Com esta variedade de opções virou mesmo a praia de quem vive na cidade
Mari Jeziokowski, (acima à direita) nasceu na Bahia, mas vive como guia turística em Berlim há 23 anos
O platô por onde a avenida corre – e a Paulista não é uma linha reta como pode se perceber, por exemplo, do alto do mirante do Sesc Paulista ou do prédio do Instituto Moreira Salles – é um dos pontos mais altos da cidade. Por isso, a quantidade enorme de torres de televisão e de rádio que estão espalhadas pela região.
A experiência, principalmente para as crianças desde o passeio de metrô, é muito boa
Elton Ricciardi, morador da zona sul
Na elegância da geografia paulistana, a Avenida Paulista também é literalmente um divisor de águas. Por ser um morro, que os índios que viviam no planalto conheciam muito bem e chamavam o espigão central de Caaguaçu (Mata Grande), ele separa as bacias hidrográficas dos Rios Tietê e Pinheiros. Toda a água, seja da chuva, dos prédios ou até de nascentes que rolam morro abaixo pelo lado voltado para o centro paulistano (atrás do Masp, por exemplo), tende a chegar de alguma forma ao Tietê. Do lado oposto, onde ficam os Jardins, o destino será a bacia do Pinheiros, a não ser que entupimentos e o concreto impeçam a água de fluir pelo seu caminho natural.
Aberta em 1891, a Paulista também é o grande símbolo paulistano, como apontaram os leitores do Estadão nesta enquete para o aniversário da cidade em 2020, porque ela registra, em suas construções, os grandes momentos da cidade de São Paulo. Como os casarões para as famílias influentes da cidade na primeira metade do século 20, a chegada da arquitetura moderna – o prédio do Conjunto Nacional é um exemplo – em meados do século passado e a forte ligação com o mundo das artes. Museus e cinemas também sempre estão renovando a região. Se o Masp e o Itaú Cultural são exemplos mais antigos dessa ligação entre a avenida e a sempre empolgante cultura paulistana, mais recentemente o Sesc Paulista, o Instituto Moreira Salles e a Japan House passaram a reforçar ainda mais essa vocação da Paulista.
Ele adora a Paulista, por causa da música e da variedade de atrações como o Sesc
Fabio Correia, pai do Miguel
Mesmo com toda a transformação ao longo de décadas, oásis do passado ainda estão presentes. Há a mansão da Casa das Rosas (no número 37 desde 1935), o Hospital Santa Catarina (no número 200 desde 1906), o Instituto Pasteur (no número 393 desde 1904) e a mata ainda preservada do Trianon, em frente ao Masp, parque aberto em 1892, um ano após a inauguração da própria Paulista.