É inegável que os novos tempos trouxeram muitas alterações nas relações de trabalho, não só em como a empresa vê seu funcionário, mas também como o profissional analisa a empresa em que trabalha ou pretende trabalhar. Se até algumas décadas atrás o que um jovem recém-saído da faculdade buscava era ingressar em uma grande corporação e, aos poucos, dentro de uma estrutura verticalizada de gestão, fazer carreira até chegar ao topo hierárquico. Atualmente, esse cenário praticamente não existe mais. Não só por que as estruturas de gestão empresariais mudaram bastante como também por que os jovens que saem das universidades têm outros anseios em termos profissionais. Mas, dentro desse cenário em rápida mutação, como ficam, afinal, a posição dos líderes? O que as empresas, que, de resto, precisam se atualizar e renovar, têm feito para atrair esses novos talentos? Como as faculdades, especialmente aquelas dedicadas à formação em negócios, têm preparado os profissionais do futuro?
Estas, entre outras questões, foram debatidas durante o encontro “Novas carreiras e formação de executivos”, realizado em 16 de setembro no auditório da Escola de Administração de Empresas da Faculdade Getúlio Vargas (FGV/EAESP), em São Paulo, reunindo Achilli Sfizzo Neto, CEO da Chemtech, uma empresa do Grupo Siemens no Brasil; Alexandre Pellaes, palestrante, pesquisador, especialista em modelos flexíveis de gestão, fundador da Exboss e sócio da 99job; Renato Guimarães Ferreira, professor e coordenador do Centro de Carreiras da FGV/EAESP; e Tales Andreassi, professor e vice-diretor da FGV/EAESP.
Um dos primeiros pontos abordados foi sobre o papel do líder atual. Qual perfil deve ter? Para o Renato Guimarães, “não há uma resposta definitiva a essa pergunta, pois ela está sendo construída a muitas mãos”. Segundo ele, o grande desafio das corporações hoje é justamente saber o que se esperar da liderança nesse contexto em que tudo se liquefaz rapidamente. “É necessário criar uma cola organizacional que dê unidade, sentido e propósito à organização. Nesse sentido, é preciso haver lideranças que escutem e estejam atentas aos sinais emitidos pelos colaboradores”, afirma o professor Guimarães.
De acordo com Pellaes, existe hoje em dia um mal-entendido e certo preconceito de que ter chefe é sempre negativo. “Não é bem assim”, observa. Mesmo nas estruturas mais abertas, é preciso haver ferramentas que deem suporte à liderança para que ela consiga orientar e sustentar a equipe. “Caso contrário, surgem estruturas horizontalizadas com pessoas infelizes, e as coisas não andam”, garante o pesquisador.
Expectativas profissionais E como fica a relação e as expectativas de quem sai das faculdades rumo ao mercado de trabalho? “A academia também está se renovando”, conta Andreassi. “Durante a graduação, os universitários já passam por uma preparação para a vida profissional. Muitas faculdades estimulam o empreendedorismo, possuem aceleradoras ou incubadoras, entre outras iniciativas que possam contribuir para que o jovem conheça melhor sua futura profissão”, explica o professor.
Do outro lado, as corporações também estão à espera desses talentos. “Nem sempre, porém, as expectativas dos jovens e das empresas são as mesmas”, comenta Sfizzo Neto. Uma das saídas, propõe, é que os jovens conheçam antes os valores das empresas onde pretendem trabalhar. “Até por que, atualmente, as corporações estão cada vez mais conscientes de que devem ser atraentes e mais transparentes com os jovens candidatos. A relação só é bem-sucedida se for um caminho de mão dupla”, revela o CEO da Chemtech.
Nessa questão ele cita a liberdade e a flexibilidade no horário de trabalho como um dos fatores que podem atrair os novos talentos. “Na Siemens, por exemplo, já há algum tempo, foi quebrado aquele velho paradigma de que é preciso estar fisicamente na empresa e usar determinadas ferramentas para aferir a produtividade do funcionário. Em vários setores, a empresa deixou de cobrar horários para cobrar resultados. Afinal, no fundo, é isso que importa”, finaliza o executivo.
Foto: Alan Teixeira