Segundo Achilli Sfizzo Neto, presidente executivo da Chemtec, uma empresa do Grupo Siemens, no momento, o mercado está muito dinâmico e só o conhecimento não basta. “As empresas estão buscando profissionais que agreguem outras qualidades”, afirma ele. Confira mais detalhes na entrevista a seguir.
Como avalia o mercado de trabalho atualmente com relação à mobilidade de carreira? Em tempos de retração econômica, quais são os caminhos e as perspectivas em termos de ascensão profissional?
Achilli Sfizzo Neto: Há alguns anos a mobilidade de carreira vem se tornando mais comum, não somente por uma situação econômica específica, mas porque os próprios profissionais enxergam o valor de “experimentar” algo novo. Em tempos de retração econômica, os profissionais têm olhado para mercados antes não vistos, e as próprias empresas também estão de olho em qualidades/experiências novas em seus colaboradores. Flexibilidade, capacidade de se autogerenciar e de execução, planejamento e, principalmente de lidar com a diversidade de pessoas e ideias, trabalhando em um ambiente cada vez mais cooperativo. Esta combinação deveria abrir novas perspectivas e até novos caminhos de carreira antes não pensados.
Que tipo de cenário os jovens que saem das faculdades encontram hoje no mercado de trabalho?
AS: O mercado está mais dinâmico, com empresas buscando profissionais que tenham não só conhecimento na sua área de atuação, mas que também tenham outras qualidades – atuem como se fossem “donos da empresa”, saibam colaborar de fato com todas as áreas e assumam responsabilidade. Acredito que o cenário evoluirá ao longo dos próximos anos – por exemplo, com funções atuais sendo extintas e outras sendo criadas –, mas estas qualidades permanecerão indispensáveis.
No evento realizado na FGV em setembro, você comentou que os jovens devem escolher as empresas nas quais queiram trabalhar e que as companhias também selecionam com quem desejam trabalhar. Poderia explicar mais a fundo como enxerga esse caminho de duas mãos?
AS: A relação de trabalho colaborador-empresa também passa por mudanças. No passado talvez a relação fosse mais entre o conhecimento/esforço e um contracheque. Hoje, esta relação envolve o tão falado propósito e está centrada na confiança, permitindo então maior empoderamento e consequente meritocracia. No mercado de trabalho também está mais importante um alinhamento de valores e expectativas entre a empresa e o candidato, pois isto será a base para construir uma relação de confiança e para que os objetivos traçados sejam alcançados (resultados, realização…). Como em qualquer relação humana, se os valores não estiverem alinhados, a relação não tende a ser duradoura. Assim, é importante que os jovens também olhem as empresas por este ângulo e uma vez que haja este alinhamento, participem dos processos de seleção.
Para quem já está empregado e chegou à liderança, como pensar em uma ascensão profissional?
AS: Não há uma receita única para ascensão profissional. Cada carreira tem seu próprio caminho. Às vezes, a ascensão pode ser dada na mesma empresa ou em outra. Pode ser por meio de uma mudança de área, mudança no mercado de atuação ou até por envolvimento em programas/projetos cumulativos à função atual.
Como vê a realidade do mercado de trabalho brasileiro em comparação a outros países nos quais trabalhou?
AS: Há muitas possibilidades no mercado brasileiro. Temos uma variedade bastante grande de empresas, segmentos de mercado e dinâmica de negócios. Bons profissionais são sempre necessários. Ainda mais em momentos de turbulência, já que eles ajudarão as empresas a passarem por isso. A relação entre empregado-empregador evoluiu. Novas formas de relação entre indivíduos e empresas têm surgido em novos formatos que não necessariamente seguem os modelos tradicionais. Este debate é fundamental e deve continuar.
Como analisa a questão da mobilidade de carreira dentro do universo corporativo em relação ao empreendedorismo? Podemos afirmar que muitos bons profissionais, por não encontrarem espaço para crescimento dentro de grandes corporações, acabam saindo para comandar um negócio próprio?
AS: Esse fenômeno acontece, mas é importante entender que são caminhos bastante diferentes. Um não pode ser a “solução” do outro, pois, por natureza, são distintos. O empreendedorismo é fundamental para o desenvolvimento do País, geração de empregos etc. – e demanda uma dinâmica que nem todos os profissionais se adaptam. Por outro lado, os bons profissionais não devem desistir de buscar seu crescimento, seja em grandes corporações ou até menores. O caminho para a realização profissional pode ser bem variado e às vezes completamente diferente do que havíamos imaginado. Precisamos manter o foco no que almejamos, deixar de lado alguns preconceitos e não desistir. O empreendedorismo pode sim ser um novo caminho, desde que não seja apenas a solução para uma mudança que não aconteceu.