Para ter uma ideia de como grande parte das indústrias funcionarão em um futuro próximo, basta olhar para o que já está acontecendo em algumas empresas no mundo. Com linhas de produção modernas, processos automatizados e o uso de realidade virtual, as companhias estão transformando os ambientes de trabalho Exemplos são vistos em alguns países da Europa – e aqui no Brasil também.
A Siemens Electronics Manufacturing Plant, em Amberg, na Alemanha, é considerada um dos modelos mais representativos da chamada indústria 4.0. Tanto no que diz respeito às suas instalações, quanto às tecnologias desenvolvidas por lá. A maioria dos processos da fábrica é interligada e gerenciada de forma digital. Os produtos controlam a sua própria fabricação, por meio de um código de identificação, e informam às máquinas quais etapas de produção deverão seguir. Isso garante uma taxa mínima de falhas e diminui a necessidade de expansão física – enquanto a produção aumentou oito vezes desde 1989, quando a fábrica foi inaugurada, seu tamanho nunca precisou de alterações. A mesma tecnologia que possibilita essa otimização de tempo e espaço é desenvolvida na unidade: os controladores lógicos programáveis Simatic (PLCs). Entre as aplicações dessa tecnologia estão o controle dos sistemas a bordo de navios de cruzeiro e processos de fabricação industrial e automotiva.
Outro exemplo é a fábrica da BMW, localizada em Leipzig, também na Alemanha. Em sua linha de montagem de 1,6 quilômetros, não há sinal de poluição sonora ou visual, já que a maioria das operações é feita por alguns dos mais de mil robôs presentes na unidade. Todo o trabalho das máquinas é supervisionado por engenheiros e designers, por meio de computadores (que podem ser laptops ou óculos). E mesmo os profissionais que não estão envolvidos diretamente na produção dos veículos (financeiro, RH, etc.) têm uma visão ampla de toda a linha de montagem. O objetivo é que todos os funcionários saibam exatamente do que estão fazendo parte. Além disso, toda a produção é ambientalmente sustentável, o que significa 50% menos consumo de energia e 70% de redução no uso de água.
No Brasil, o Centro de Realidade Virtual da Embraer, localizado em São José dos Campos (SP), é considerado um dos mais avançados do mundo. Com a ajuda de softwares e simulares virtuais, a equipe de engenheiros e projetistas cria os aviões mais modernos da atualidade. E, assim, conseguem observar e aperfeiçoar peças antes mesmo de serem produzidas, desenvolvendo aviões mais leves, resistentes e seguros.
De volta para o futuro
Parte das tecnologias que possibilitaram tais transformações começou a ser desenvolvida na década de 80, quando surgiu o primeiro computador pessoal. Desde então, seu processo de evolução se mostrou crescente e irreversível. A ponto de permitir que, no ano passado, o supercomputador Watson começasse a fornecer tratamento personalizado a pacientes com câncer no cérebro, no New York Genome Center, nos Estados Unidos. “Os computadores vão continuar evoluindo e realizando novas e inimagináveis tarefas”, escreveram os professores de tecnologia da informação do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee no livro A Segunda Era das Máquinas, considerado a nova bíblia das tendências do setor industrial. Nele, os autores afirmam que essa evolução tecnológica sem precedentes será a responsável pelas principais transformações ocorridas na sociedade desde a Revolução Industrial.
Real + Virtual
Fazem parte dessa nova revolução conceitos como digitalização (o encontro do mundo real com o virtual) e a chamada “internet das coisas” (termo usado para designar uma série de tecnologias que ajudam a conectar objetos comuns com a internet), que já são realidade em alguns setores.
A indústria automobilística é um exemplo da utilização da integração entre o real e o virtual. O carro do piloto alemão de Formula 1 Sebastian Vettel, por exemplo, foi projetado em 2014 com a ajuda de um software desenvolvido pela Siemens, que permitiu aos engenheiros e designers envolvidos no projeto testar virtualmente novos componentes em tempo recorde.
Futuro conectado e promissor
O avanço dessas tecnologias deverá mudar, em um futuro próximo, a maneira como as pessoas moram, cuidam da saúde, se locomovem e, principalmente, trabalham. Pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra, chamaram a atenção específica para o impacto dessas transformações na indústria, em que 47% dos postos de trabalho deverão ser automatizados nos próximos 20 anos.
Tal previsão pode ser considerada uma boa notícia, tanto para empregadores quanto para empregados, já que as funções repetitivas e não dependentes de habilidades humanas específicas, como a criatividade e o raciocínio, são as que deverão ser substituídas. Isso poderá significar um aumento de 10 a 25% de produtividade para as empresas, de acordo com os resultados de uma pesquisa sobre a internet das coisas divulgada em junho pelo Instituto McInsey.
O futuro dos trabalhadores também deverá ser bastante promissor, segundo as previsões do relatório Future Work Skills in 2020 (habilidades para o trabalho em 2020, em tradução livre): “Em algumas áreas, as novas máquinas substituirão os humanos, liberando as pessoas para atividades mais estimulantes e prazerosas. Em outras, serão nossos colaboradores, melhorando nossas habilidades, performances e qualidade de vida”.