Muito se tem falado sobre o fato de a nova geração de profissionais, a chamada geração Millennium, não trabalhar bem em organizações altamente hierarquizadas. A questão não está na hierarquia em si, mas no modelo da relação entre os líderes e suas equipes.
Mais que isso, esse modelo de relação será determinante para atrair e reter novos talentos. O fato é que a liderança mudou: os jovens reconhecem o papel de um líder experiente, mas valorizam uma relação mais solta com ele.
Algumas empresas já perceberam isso, e têm investido neste novo modelo. “O líder precisa se colocar um pouquinho no lugar do talento, do profissional”, explica Claudia Souza, diretora de Recursos Humanos da Apdata. Com cerca de 350 funcionários, a empresa tem um turnover médio mensal de 0,34%, índice considerado baixo pela executiva.
Ela comenta que a companhia já conta com alguns líderes dessa geração e isso os aproxima muito do restante da equipe, porém aqueles das gerações anteriores precisam estar antenados com o mercado.
A receita, segundo a executiva, está em uma equação que combina variáveis como a aproximação do líder com a equipe e aquilo que a empresa oferece a todos os profissionais. Sobre a aproximação, ela lembra que a companhia conta com um sistema integrado de avaliação profissional e que esta é feita pelo líder com a participação do funcionário. “Isso traz uma diferenciação tremenda”, diz.
Outro ponto destacado por Claudia, é o fato de a equipe contar com papéis e responsabilidades muito bem definidos e com canais de diálogo sempre abertos. “Trabalhamos aqui com o que chamamos de líder ouvinte. Ele deve saber conversar com sua equipe e entender as necessidades, profissionais e pessoais, de todos eles”, afirma, lembrando que a nova geração de profissionais, mesmo não tendo raízes nas empresas, gosta de ser ouvida e se sentir parte do negócio.
Uma tática adotada pela Apdata para isso é a utilização dos facilitadores, ou membros das equipes responsáveis por passar a elas as decisões tomadas pela diretoria. “Sempre que uma decisão é tomada pela diretoria, ela é passada para os gerentes. Cada gerência tem um comunicador, um facilitador, que é a pessoa que vai informar para a equipe esta decisão, na linguagem deles”, diz. A participação, segundo Claudia, se dá em todos os níveis. Na área social, por exemplo, a companhia conta com programas que são desenvolvidos com a participação dos colaboradores, como a festa do Dia das Crianças que está sendo organizada em um orfanato.
Se há preocupação com a comunidade, há também com a equipe. Por conta disso, uma das funções dos líderes é estimular o constante aprimoramento de sua equipe. De seu lado, a empresa estimula a participação em treinamentos escolhidos pelo funcionário e que ele se torne um multiplicador dentro de sua área. “Este ano adotamos a prática dos especialistas prepararem treinamentos específicos e serem multiplicadores dentro de suas áreas”, conta Claudia.
“É importante reforçar que esta visão deve partir da direção da empresa. As vezes a área de Recursos Humanos ou líder da área de negócio tem essa visão, mas se não vier de cima para baixo, não vai funcionar tão bem. É isso que vai garantir que estas práticas estejam entranhadas na cultura da organização”, afirma.