Professora da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), a psicóloga e coaching Flávia Feitosa se dedicou nos últimos anos a estudar a chegada da chamada Geração Y nas empresas. A seguir ela apresenta quais os principais mitos que envolvem a participação dos jovens millennials no mercado corporativo e analisa cada um deles.
Mito 1 – DESEJAM CARREIRAS METEÓRICAS
FALSO
Os jovens Ys anseiam por crescimento e desenvolvimento profissional, não necessariamente de forma meteórica. É fato que a sociedade, hoje, permite que um jovem de 25 anos seja o próximo milionário, porém, em geral, todos sabem que isso requer muito trabalho e dedicação e que as coisas não surgem do nada. Os jovens sabem que galgar grandes cargos ou abrir uma nova empresa requer muita dedicação, e estão dispostos a isso, o que é totalmente diferente da ideia de quererem uma carreira de sucesso sem se dedicarem.
Mito 2 – TÊM DIFICULDADES PARA LIDAR COM GESTORES E HIERARQUIA
FALSO
Ao longo dos últimos quatro anos, entrevistamos muitos jovens e não conseguimos confirmar a ideia de que os jovens Ys têm dificuldade de lidar com hierarquias. Ouvimos de muitos deles que preferem gestores mais velhos e experientes a jovens, pois gostam de aprender com quem sabe mais. Muitos elogiam seus gestores, mas não “qualquer” gestor. Um bom gestor tem de fazer com que seu funcionário saiba o motivo pelo qual realiza suas atividades; propiciar aprendizado; ceder informações e trabalhar bem com as necessidades de autonomia e flexibilidade, o que veremos nas verdades sobre os Ys. Ou seja, o jovem Y não possui dificuldades com hierarquias ou gestores, mas sim com gestores que não inspiram, não são transparentes, não dão autonomia e não oferecem oportunidades de desenvolvimento.
Mito 3 – JOVENS MILLENIALS SÃO ALTRUÍSTAS
FALSO
Não necessariamente. As pesquisas não são conclusivas quanto a se os jovens Ys são mais ou menos preocupados com os outros. Em pesquisas recentes, que comparam o altruísmo entre indivíduos de diferentes classes sociais, vemos que os Ys pertencentes às classes sociais C e D são mais altruístas que os pertencentes às classes A e B. Vale ressaltar que o altruísmo, para esses jovens, está diretamente relacionado ao cuidado com pais e familiares, e não com a sociedade em geral.
Mito 4 – HÁ HEGEMONIA NO COMPORTAMENTO DOS JOVENS Ys
FALSO
Não. Não podemos definir que os jovens Ys são diferentes dos jovens de outras épocas, e também não podemos dizer como exatamente eles são. Para alguns pesquisadores, como Guillot-Soulez e Soulez (2014), a heterogeneidade dentro das gerações é maior do que a existente entre elas. Esses pesquisadores diagnosticaram ao menos quatro grupos diferentes de jovens entre os Ys: 1) os que buscam segurança; 2) o que focam na carreira; 3) os que procuram equilíbrio; 4) os jovens com os quais é fácil lidar. E o que têm em comum não nos parecem características dessa geração, e sim da juventude.
Mito 5 – BUSCAM SIGNIFICADO NO QUE FAZEM
VERDADEIRO
Quando falamos em significado, tratamos de uma relação de reconhecimento, valor e importância – questão marcante atualmente. Se quiser ver jovens animados e dedicados ao trabalho, é preciso acrescentar valor e reconhecimento às atividades. O engajamento só ocorrerá se fizer sentido para quem realiza a atividade. Os sentidos estão no que chamamos motivação intrínseca, significando o que mais atrai esses jovens. Não é todo jovem que se contenta com salário e benefícios, um lugar bonito para trabalhar, segurança e estabilidade financeira. Quando os jovens encontram sentido no que fazem, podem lidar com qualquer adversidade. Aí existe um ponto chave: cada um tem seu ponto de interesse, isto é, nem todos valorizam as mesmas coisas. Estamos falando sobre motivações internas.
Mito 6 – BUSCAM QUALIDADE DE VIDA
VERDADEIRO
Equilíbrio entre vida pessoal e profissional é, sim, algo que geralmente tem importância para boa parte dos millenials. Hoje não só os jovens se preocupam em ter diversão e a ideia de qualidade de vida é muito mais disseminada que em outros tempos. Trabalham não apenas para ganhar dinheiro: o sentido de propósito, a vontade de realizar algo gratificante, o gostar do que faz, transformam o trabalho em lazer, o que importa para todos e especialmente para estes jovens.
Mito 7 – DESEJAM AUTONOMIA E FLEXIBILIDADE
VERDADEIRO
Os jovens Ys valorizam a possibilidade de ter autonomia e flexibilidade. Não veem sentido em ficar até o fim do expediente se já realizaram as atividades previstas, o que se intensifica caso tenham ficado horas a mais na semana anterior. Nada é mais desestimulador para eles do que não poder gerenciar suas horas de forma proativa. Eles não têm problemas para passar madrugadas trabalhando, desde que não precisem chegar muito cedo no dia seguinte, sem estar “devendo nada”. Gostam de variações na rotina, de propor melhores formas de realizar suas atividades. Também não terão problemas com a rotina se compreenderem seu sentido.
Mito 8 – EXIGEM E VALORIZAM FEEDBACK
VERDADEIRO
Mesmo a motivação intrínseca sendo o mais crucial para nossos jovens, há uma questão externa a eles que não pode ser esquecida: o feedback! Não receber feedback, não saber se agrada, não ter informações claras sobre melhorias esperadas, é um pecado mortal! Os jovens Ys não perdoam a falta de clareza. Já que se interessam pelo que tem significado e o que traz desenvolvimento e crescimento, a falta de feedback é o maior empecilho e pode ser considerada como perda de tempo.
Mito 9 – NÃO SÃO FIÉIS ÀS EMPRESSAS
VERDADEIRO
Por que os jovens seriam fiéis às empresas se elas não fossem fiéis a eles? O mundo globalizado propicia inúmeras oportunidades de trabalho. Os Ys muitas vezes indicam que, apesar de quererem uma empresa para ficar por mais tempo, não têm motivo para permanecer em um trabalho que não os satisfaça, especialmente em relação ao que mais valorizam: crescimento e desenvolvimento – coisas que geram significado.