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Música, dança e histórias que inspiram

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(Re)descobrir a música clássica brasileira é celebrar mais de 400 anos de história

Das obras sacras às contemporâneas, legado nacional prima pela qualidade, pioneirismo e inovação

A música clássica existe no Brasil desde o Período Colonial. Inicialmente vinculado à Igreja e à catequese, o movimento cresceu timidamente a partir do surgimento dos primeiros manuscritos e de outros espaços de concerto, além das chamadas irmandades musicais.

Mas o grande impulso veio a partir de 1808, com a chegada da Família Real ao Brasil – o que ampliou o acesso à cultura e estimulou a produção local. Passados mais de quatro séculos, a lista de compositores que contribuíram para o desenvolvimento do gênero por aqui tornou-se bastante extensa

Para quem está se iniciando no gênero, principalmente, vale a pena garimpar o repertório para além de nomes consagrados como Carlos Gomes e Heitor Villa-Lobos, que costumam encabeçar qualquer lista. E não só pela relevância das obras, é bom que se diga, mas também pelo que seus autores representaram ao quebrar paradigmas em diversos períodos de nossa história.

O padre e o “fauré brasileiro”

Padre José Maurício Nunes Garcia (1767 – 1830) – Reprodução

O multi-instrumentista, maestro e compositor Padre José Maurício Nunes Garcia (1767 – 1830) é
considerado um dos precursores da música clássica em solo brasileiro. Descendente de escravos, ele assinou mais de 400 obras, entre elas a “Missa em mi bemol” (1811) e o “Requiem” (1816), quase sempre inspirado pela religiosidade. Mas conta-se que ele optou pela batina também pela oportunidade de ter acesso a uma melhor educação.

Em pleno Brasil-Colônia, Padre José Maurício ainda romperia a barreira do preconceito racial, tornando-se o primeiro “mestre de capela” (a designação da época para os compositores) da Corte Portuguesa por aqui.

Já para os adeptos do Romantismo, vale a pena conhecer mais a fundo o legado do compositor e concertista Henrique Oswald (1852-1931), autor de obras de reconhecida excelência, como Il Neige e a Sonata em mi maior para violino e piano, Opus 36.

Contemporâneo de Carlos Gomes, Oswald também construiu sólida carreira na Europa. Era admirado por colegas como Arthur Rubinstein, um dos grandes virtuoses do piano do século XX, que o apelidou de ‘Gabriel Fauré Brasileiro’. Sua obra, por sinal, continua em alta: em 2014, uma coletânea com seus concertos para piano entrou na lista de mais vendidos do gênero da BBC Music, no Reino Unido.

Modernos e contemporâneos

Batizado pelos pais em homenagem ao compositor austríaco, Mozart Camargo Guarnieri (1907 – 1993) não frustrou as expectativas da família, que, por sinal, também era de músicos. Com seu talento nato, liderou o nacionalismo modernista, atuando ao lado de ícones como o escritor Mário de Andrade e o próprio Villa-Lobos, que regeu sua sinfonia de estreia, Curuçá, na antiga Sociedade Sinfônica de São Paulo, em 1931.

Uma de suas obras-primas, a Dança Brasileira”, ainda é executada com frequência por algumas das principais orquestras do mundo, entre elas a Filarmônica de Nova York e da Orquestra Jovem Símon Bolivar, da Venezuela.

Chegando à produção recente, vale a pena mergulhar nos registros sonoros de Gilberto Mendes (1922-2016). Sua biografia confunde-se com a própria trajetória da chamada Música Nova. Ao fundar o festival internacional de mesmo nome, em 1962, Mendes possibilitou o mapeamento da produção contemporânea mundial por mais de 50 edições, distribuídas entre a capital, o litoral e o interior paulista.

Entre centenas de composições originais, seu Motet Em Ré Menor – Beba Coca-Cola é considerado um legítimo clássico do repertório coral do século XX.


Legados em curso

Aos 91 anos, Edino Krieger é um dos principais nomes da criação musical brasileira. Seu catálogo, diversificado, possui peças sinfônicas, obras corais e de câmara, além de trilhas para cinema e teatro. Também exerceu papel fundamental na difusão do repertório sinfônico, atuando como diretor artístico de festivais de música e salas de concerto brasileiras.

Jocy de Oliveira, 83, sintetiza a inovação e o empoderamento feminino. Primeira mulher a ter uma ópera encenada no Theatro Municipal de São Paulo, foi pioneira na combinação da música clássica com outras linguagens, entre elas a literatura e o cinema. Seu mais recente trabalho, o filme “Liquid Voices”, esteve em cartaz este ano no circuito europeu.

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Outro legítimo representante da vanguarda nacional é o compositor Edmundo Villani-Côrtes, 88 anos. Doutor em Música pela Universidade de São Paulo, é reconhecido pela qualidade de seu repertório camerístico e pela intensa produção como pianista, regente e arranjador, incluindo milhares de trilhas para emissoras como a TV Tupi e a TV Record.

Por fim, a “música de concerto” de  Marlos Nobre, 80, segue cumprindo papel referencial. Atual ocupante da cadeira nº 1 da Academia Brasileira de Música e ex-presidente do Conselho Internacional de Música da Unesco, Marlos ainda coleciona feitos como regente: foi o primeiro brasileiro diante da Royal Philharmonic Orchestra de Londres e já conduziu outras orquestras importantes, como a Filarmônica do Teatro Colón, da Argentina, e as sinfônicas do México e de Havana.