Cultura para Todos – Mozarteum Brasileiro

Música, dança e histórias que inspiram

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As aventuras gastronômicas dos ícones da música clássica

Pratos batizados em homenagem a compositores, receitas originais e ingredientes secretos povoam saborosas histórias

Os prazeres da mesa sempre fascinaram os grandes nomes da música. Alguns eram reconhecidamente bons de garfo, outros cultivavam hábitos excêntricos e a maioria jamais esqueceu os encantos da cozinha tradicional de seus países de origem. São receitas até hoje preparadas e consumidas mundo afora, ajudando a popularizar não só a gastronomia, como também os respectivos legados musicais.

Uma figura ímpar neste contexto foi o italiano Gioachino Rossini (1792-1868), autor de clássicos como O Barbeiro de Sevilha, Otello e Guilherme Tell. Bem-humorado, o compositor costumava dizer que só chorou três vezes na vida: na estreia de sua primeira ópera, ao ouvir seu conterrâneo Niccoló Paganini (1782-1840) ao violino e quando uma cesta que carregava um peru recheado caiu de seu barco, a caminho de um piquenique.

A paixão por calorias era notória. Não à toa, diversos pratos foram batizados com seu sobrenome, entre eles, preparos para ovos e peixes. E das mãos do chef Marie-Antoine Carême (1784-1833), ícone da alta gastronomia francesa, ainda viria a mais famosa das homenagens: Tournedos Rossini, um clássico do filé mignon, com foie gras e molho à base de vinho, demi glacê e lascas de trufas.

Talento à mesa

Além de levar Rossini às lágrimas com sua música, Paganini também era talentoso na cozinha. Uma de suas criações originais, o ravióli genovês com ragu, teve seu manuscrito incluído na coleção Paganiniana, raridade hoje disponível no acervo da Biblioteca do Congresso norte-americano.

Pasta Alla Norma: massa acompanhada de tomates frescos, berinjela e manjericão

O protagonismo italiano na seara gastronômica-musical também contou com a contribuição de Vicenzo Bellini (1801-1835), ainda que de forma involuntária. Conta a história que o diretor de cinema Nino Martoglio (1870-1921), após deliciar-se com uma massa acompanhada de tomates frescos, berinjela e manjericão, teria decretado, em alto e bom som: “É uma Norma! ”, comparando-a à consagrada ópera de Bellini. Não deu outra: desde então, a combinação passou a ser conhecida como Pasta alla Norma.

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Passagem igualmente curiosa marca o surgimento do Caruso Sauce (ou Salsa Caruso). Servido quente, o molho cremoso de cebola, presunto, queijo, nozes e cogumelos geralmente acompanha massas, mas é de origem uruguaia. Neste caso, quem fez as vezes de embaixador foi o napolitano Enrico Caruso: a iguaria não costumava faltar durante as turnês que realizou pela América do Sul nos anos 1910.

Tempero caseiro

Ao radicar-se em Paris, o polonês Frédéric Chopin (1810-1849) teve certa dificuldade com o menu local. Afinal, seu prato preferido era o zrazy – uma espécie de picadinho de carne, com ovos e vegetais -, raríssimo na capital francesa. O problema só foi resolvido quando o compositor passou a frequentar a residência do médico Johann Malfatti, que costumava recebê-lo com versões caprichadas do quitute. Em cartas endereçadas à família, Chopin detalhava os jantares com entusiasmo; Malfatti, por sua vez, recomendou os talentos de seu convidado ao diretor da Ópera de Paris.

Outro que não abria mão do tempero caseiro era Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), um confesso devorador de bolinhos de fígado com chucrute, típicos da região de Salzburgo, na Áustria, onde nasceu. Sua relação com a culinária local ainda ganhou capítulo póstumo em 1890, quando o confeiteiro Paul Fürst criou o Mozartkugeln, bombom à base de nougat de pistache, marzipan e cobertura de chocolate. Embora nunca tenha registrado a receita, a doceria da família superou as investidas da concorrência e permanece aberta até hoje. 

Pitadas de excentricidade

Obsessivo na relação com as cores, o pianista francês Eric Satie (1866-1925) causava estranheza não só ao se vestir (seu guarda-roupa limitava-se a tons de cinza), como também durante as refeições. Em seu prato, só alimentos brancos: arroz, nabos, queijos, peixes e até ossos picados (!) eram a base de sua dieta monocromática.

Já o russo Igor Stravinsky (1882-1971) era menos exigente, mas também tinha lá suas manias. O autor da célebre Sagração da Primavera frequentava restaurantes com um frasco de geleia de mel a tiracolo: era o ingrediente secreto para garantir sabor único ao seu chá.