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Música e psicoterapia: emoção e razão podem estar do mesmo lado

Estudos e experiências científicas investigam os efeitos da música clássica no comportamento humano - e vice-versa

Um dos grandes compositores de seu tempo, o russo Sergei Rachmaninoff lutou por longos anos para combater sintomas comuns à depressão. Seu quadro teve ao menos dois momentos delicados, que o deixaram recluso e longe das partituras: a morte de seu ídolo e conterrâneo Piotr Ilich Tchaikovsky, em 1893; e o desprezo da crítica especializada na estreia de sua Sinfonia Nº 1 Opus 13, quatro anos depois.

Triste, apático e pressionado a compor uma obra relevante, Rachmaninoff finalmente decidiu procurar ajuda. Por indicação de uma tia, acabou no consultório do Dr. Nicolai Dahl, discípulo do renomado neurologista francês Jean-Martin Charcot – e violista amador nas horas vagas.

Submetido a sessões de psicoterapia e hipnose, Rachmaninoff respondeu bem ao tratamento. No verão seguinte retomou suas apresentações como recitalista e voltou a compor. Não por acaso, dedicou seu Concerto Para Piano Nº 2 Opus 18 ao Dr. Dahl.

Mahler e Freud

A psicanálise auxiliou também outro ilustre compositor, o austríaco Gustav Mahler, a reequilibrar suas emoções. Por volta de 1910, abatido por traumas de infância e problemas conjugais, ele encontrou-se algumas vezes com ninguém menos que Sigmund Freud, o autor da celebrada teoria.

As conversas se revelariam transformadoras. Ao entender melhor suas próprias forças e fraquezas, Mahler não só deu novo fôlego à carreira, como também reatou com sua companheira, Alma – posteriormente homenageada na Sinfonia Nº 8 em mi bemol maior. “Acabou o incessante latejar dos tormentos”, registrou em um poema à amada.

Como contraponto, curiosamente, Freud não se considerava um entusiasta da música. Preferia outras manifestações artísticas, como a literatura e a escultura. “Racional como sou, mantenho distância de algo que me afeta e não consigo entender o porquꔸ chegou a justificar, em tom de confissão.

Musicoterapia

Em 2010, um estudo realizado pela Universidade de Oaxaca, no México, associou a melhora em sintomas de depressão clínica leve ou mediana à audição de música clássica.

Aplicada em 79 pacientes que não faziam uso de medicamentos para tratar do problema, a terapia apresentou sinais positivos.

Após quatro sessões musicadas por obras como o Concerto Italiano, de Archangelo Corelli, e a Sonata Para Dois Pianos, de Wolfgang Amadeus Mozart, 29 deles demonstraram evolução; e somente oito desistiram da prática.

A tendência reforça uma tese já consolidada entre especialistas: a música é capaz de ativar processos que estimulam o desenvolvimento do cérebro, aumentando os níveis de dopamina. Trata-se de um importante neurotransmissor que atua sobre a sensação de prazer, afetando também o humor e a atenção.

A música clássica não é a única capaz de produzir tais efeitos, claro. Mas suas estruturas complexas e a alternância de timbres e andamentos são bastante apropriadas para a obtenção de resultados satisfatórios.

Personalidades em concerto

Mais recentemente, alguns alunos de Música da Universidade de Mosash, na Austrália, assumiram um desafio ainda mais inusitado: decidiram criar composições por meio de analogias musicais inspiradas em perfis psicológicos.

Com apoio de docentes da Escola de Música de Darmstadt, da Alemanha, a equipe trabalhou na busca por sonoridades capazes de identificar as personalidades existentes em um grupo aleatório de pessoas. Foram seis semanas de encontros presenciais, ora focados nas similaridades, ora nas diferenças de comportamento.

Tamanha dedicação acabou recompensada. Na análise dos orientadores, as quatro obras, devidamente finalizadas, pareciam de fato mais do que uma mera organização de acordes: eram capazes de despertar conexões emocionais vinculadas a sentimentos como medo, stress e desejo, entre outros.

Batizado Lesbenslinien (“Linhas de Vida”), o programa repercutiu internacionalmente e acabou nos palcos alemães. Estreou em 2 de dezembro de 2015, no Teatro Rüsselheim, em Hesse, interpretado pelo Ensemble Phorminx. Na plateia misturavam-se curiosos, estudiosos e alguns dos entrevistados durante o projeto.