Cultura para Todos – Mozarteum Brasileiro

Música, dança e histórias que inspiram

Apresentado por

Produção

Apresentado por

Mozarteum Brasileiro

Produção

TOP

A fantástica fábrica de sons

A música tem o dom de despertar em nós uma vasta gama de sentimentos. Com ela, levamos nosso pensamento a lugares e épocas que nunca sonhamos visitar. A experiência é enriquecedora, independentemente do gênero musical. Mas ganha ares épicos se executada por uma orquestra, tamanha a riqueza de sonoridades, tonalidades e andamentos que compõem sua performance.

Aliás, tão fascinante quanto o resultado final é a maneira como este som é construído de forma coletiva. A qualidade acústica é sempre uma prioridade, claro, mas há muito da história da música e das performances ao vivo nesse contexto também.

A própria origem da palavra “orquestra” serve como exemplo. Vinda do grego “orkhéstra” (ὀρχήστρα), que significa “local de dança”, ela inicialmente identificava o espaço à frente do palco dos antigos teatros. Lá ficavam os dançarinos e o coro dos espetáculos e, posteriormente, os músicos, quando passaram a ser incluídos nas apresentações.

Com o tempo, entendeu-se que os instrumentistas deveriam ter exclusividade naquela área. E, assim, a palavra ganhou o sentido atual.

“Eu estou sempre regendo uma orquestra nos
meus sonhos. Ela é tão grande que as violas
desaparecem no horizonte. E o som é maravilhoso.”

Jean Sibelius  (1865-1958), compositor finlandês

Equação sonora

À medida que as orquestras se tornavam mais numerosas, a preocupação com as características individuais de volume e timbre de cada instrumento aumentou. O aperfeiçoamento dessa equação mostrou que, sem o devido agrupamento, a música poderia parecer desajustada aos ouvidos da plateia. Surgiram assim as famílias, que hoje pautam a formação orquestral moderna.

São elas: cordas (violinos, violas, violoncelos, contrabaixos e harpas); madeiras (flautas, piccolo, oboés, corne-inglês, clarinetes, clarone, requinta, fagotes e contrafagotes); metais (trompetes, trompas, trombones, trombone baixo, eufônio e tuba); percussão (tímpanos, triângulo, caixas, bombo, pratos, marimba, xilofone, entre outros); e teclas (piano, cravo, órgão e celesta).

Todas possuem registros sonoros peculiares. Nas cordas, que ficam à frente, os violinos soam como as vozes femininas (soprano e contralto), as violas e violoncelos remetem às masculinas (tenor e baixo). As madeiras, por sua vez, em posição intermediária, são responsáveis pela maioria dos solos dos sopros e fazem a ligação entre o som das cordas e dos metais, que se colocam mais atrás.

Também cabe às madeiras determinar a afinação da orquestra: a nota inicial para que todos se ajustem antes do concerto é emitida pelo oboé. Por fim, ao fundo, se posiciona o naipe de percussão. A localização afastada é igualmente estratégica, devido ao poderoso impacto sonoro que produz.

“Minha alma é uma orquestra oculta.
Não sei quais instrumentos tangem e rangem,
cordas e harpas, timbales e tambores, dentro de mim.
Só me conheço como sinfonia.”

Fernando Pessoa (1888-1935), escritor e dramaturgo
português, na obra “O Livro do Desassossego”,
assinada com o heterônimo Bernardo Soares

 Papéis definidos

As seções de instrumentos possuem sua própria hierarquia. Cada uma delas conta com um solista, que protagoniza os eventuais solos e lidera seu grupo. Os violinos, por exemplo, são divididos em dois: primeiros e segundos. Até meados do século 19, aliás, eles se colocavam em lados opostos do palco para produzir uma espécie de efeito “estéreo”.

O líder do grupo principal de violinos, mais conhecido como spalla, literalmente dá o tom para todas as cordas da orquestra, sendo subordinado apenas ao maestro. Entre os metais, o trompetista tem essa função. Já nas madeiras, a incumbência é do primeiro flautista.

O poder da batuta

Mas se tudo é tão organizado, como cada músico sabendo exatamente o seu papel e seguindo a respectiva partitura, então por que uma orquestra precisa de um maestro? A resposta, na teoria, é simples: sua função primordial é organizar a orquestra e traduzir o que o compositor pede na partitura para todo o grupo.

Na prática, cabe ao condutor da orquestra um papel semelhante ao do técnico de futebol. É ele quem decide, de acordo com o trecho musical, quando é melhor alentar, tocar mais forte ou mais piano, além de indicar as entradas dos instrumentos e a uniformidade da interpretação