Os detalhes encantam: a beleza do espaço, os sons que nos cercam, a genialidade dos protagonistas, a eficiência do coletivo... E assim vibramos, aplaudimos e, muitas vezes, somos tomados pela emoção em seus minutos finais.

Melhor que isso, só mesmo quando música e futebol se encontram.

Foi o que aconteceu recentemente em Moscou, por exemplo. Na Gala que saudou a chegada do Mundial à Rússia, em plena Praça Vermelha, apresentaram-se ícones como Plácido Domingo, Valery Gergiev e o casal mais celebrado da cena lírica atual: a soprano Anna Netrebko e o tenor Yusif Eyvazov. Os dois, aliás, virão ao Brasil em agosto para concertos com a Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro.

Inspirado por esta e tantas outras ocasiões, o infográfico a seguir traz dez comparações que aproximam ainda mais esses dois universos que tanto amamos.

Que tal exercitar sua observação nos próximos jogos e concertos?

SALA DE CONCERTO / ESTÁDIO

Um clássico, seja em concerto ou numa final de campeonato, precisa de cenário à altura. Salas de concerto e estádios, especialmente em suas versões mais modernas, têm em comum linhas arquitetônicas imponentes, acústicas projetadas para oferecer a melhor experiência possível e espaços “sagrados” cuidadosamente preparados para que os protagonistas possam brilhar: o palco e o gramado.

O TALENTO BRASILEIRO

Nossas reservas de talento sempre foram abundantes. Não por acaso, eleger uma Seleção Brasileira de todos os tempos é tarefa ingrata tanto na música quanto no futebol. A primeira poderia ser escalada com Villa-Lobos, Carlos Gomes, Mignone, Nepomuceno e Gnatalli; Guarnieri, Guerra Peixe e Almeida Prado; Lorenzo Fernandes, Gilberto Mendes e Claudio Santoro... E a segunda, quem sabe, com Gilmar, Djalma Santos, Mauro, Domingos da Guia e Nílton Santos; Gerson, Ronaldinho e Pelé; Garrincha, Ronaldo e Romário. E mesmo ainda assim faltaria muita gente.

A “SELEÇÃO” DO RESTO DO MUNDO

Ufanismo à parte, teríamos “adversários” de respeito diante de uma Seleção do Resto do Mundo. As escolhas seriam ainda mais difíceis, mas certamente um escrete musical com Chopin, Mozart, Brahms e Tchaikovsky; Mahler, Strauss e Bach; Schubert, Haydn e Beethoven seria tão arrebatador quanto ver um esquadrão com Yashin; Baresi, Beckenbauer e Bobby Moore; Zidane, Cruyff, Messi e Maradona; Cristiano Ronaldo, Puskas e Di Stéfano gastando a bola, por exemplo.

E você, quem “convocaria”? Compartilhe suas listas conosco, nos comentários.

o maestro / o técnico

Para que uma orquestra seja campeã ou que uma seleção jogue por música, as figuras do maestro e do técnico são indispensáveis. Sob a batuta deles está a responsabilidade de avaliar, corrigir e motivar o grupo, definindo as melhores formações e estratégias para conquistar o sucesso esperado num clássico. Mas vale lembrar que nenhum deles está sozinho: enquanto o maestro conta com o spalla para afinar sua orquestra, o técnico recorre ao seu capitão para manter a equipe organizada em campo.

a PLATEIA / a ARQUIBANCADA

A reação de quem assiste traz um charme especial a qualquer apresentação. O que seria dos gênios da música e do futebol sem o calor da plateia e da torcida para consagrar suas atuações? Embora com diferenças – cabe à plateia de concerto, por exemplo, somente manifestar-se após o final de cada obra e não entre os chamados “movimentos” -, elas se assemelham no momento de extravasar as emoções. É quando o “Bravo” ganha ares de “Olé”, o “Bis” vira “Mais Um” e até a vaia flerta com a gentileza endereçada a quem está fora do tom.

O CORO / O CANTO DA TORCIDA

Tradicionalmente ensaiados à exaustão, o coro e o canto da torcida também se relacionam e são pontos altos de um clássico. Como não se arrepiar quando eles surgem em uníssono, tornando mais vibrante a celebração ou ampliando a tensão num momento decisivo?

Outra característica em comum é a incorporação do cancioneiro popular ao seu repertório. O hino gospel norte-americano When The Saints Go Marching In é um bom exemplo: enquanto o original é quase obrigatório em concertos natalinos, sua versão adaptada se tornou um legítimo hit dos estádios pelo mundo.

OS INSTRUMENTOS / A BOLA

Um grande artista sabe que uma das chaves do sucesso é a relação com sua ferramenta de trabalho. Por isso, os instrumentos musicais e a bola costumam ser muito bem cuidados. A produção artesanal, os testes minuciosos para que eles resistam ao clima e ao impacto e o desejo que despertam ao se tornarem valiosas peças de coleção são algumas. Há registros de casos ainda mais extremos: Pelé, por exemplo, dormia com a bola quando criança.

OS NAIPES / OS SETORES

Ao observar a distribuição dos naipes de uma orquestra e dos setores de um time de futebol também é possível fazer algumas associações bem sugestivas. Na retaguarda, por exemplo, estão aqueles que produzem mais impacto, seja ele sonoro ou marcando com vigor os adversários: a percussão e os zagueiros; mais adiante se colocam os que não podem economizar no fôlego: os sopros (madeiras e metais) e os meio-campistas; e à frente, com suas investidas precisas e marcantes, posicionam-se as cordas e os atacantes.

a PARTITURA / a TÁTICA

O sucesso em um clássico depende ainda de um bom plano, uma receita que pode levar os envolvidos ao resultado almejado. Eis aí mais um ponto que une os dois universos. De um lado, a partitura indica os elementos harmônicos, melódicos e rítmicos necessários para que uma obra seja executada com excelência; do outro, a tática aponta os atalhos, os pontos fracos e as jogadas mais adequadas para cada ocasião. Iniciados dirão que o adagio é a retranca, o moderato valoriza a posse de bola e o presto investe nos contra-ataques rápidos...

O CRÍTICO / O JUIZ

Severos, polêmicos, às vezes bem-humorados e, muitas vezes, incompreendidos, críticos musicais e árbitros têm em suas mãos o destino do espetáculo. É deles a árdua missão de avaliar cada segundo da ação em curso, desde o comportamento dos protagonistas até o mínimo deslize que só olhares bem treinados podem detectar. Seus apontamentos podem interferir diretamente não só naquele momento, mas até mesmo em toda uma carreira. Afinal, assim como um solo elogiado pode abrir muitas portas, um gol mal anulado pode fechar dezenas de outras...

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