Exibir uma faculdade de primeira linha e fluência em um idioma é o mínimo que se espera de um bom currículo. Não é mais diferencial. Com um mercado de trabalho cada vez mais concorrido, destaca-se agora quem falar duas línguas e, em alguns casos, até três idiomas diferentes. Uma pesquisa realizada pela empresa de recrutamento Catho, no ano passado, mostrou que, depois do inglês e do espanhol, o idioma mais exigido no mercado de trabalho é o francês. Na sequência, aparece o japonês, seguido pelo alemão, italiano e chinês. “Em algumas áreas, como tecnologia e comunicação, o inglês e o espanhol já não costumam ser um diferencial. Mas em outros setores, ainda chamam a atenção. O ideal é que o profissional fique atento às exigências específicas para sua área”, explica Larissa Meiglin, supervisora de assessoria de carreira da Catho.

Dentro desse panorama, cresce o interesse pelo aprendizado de outros idiomas. Um levantamento feito pela consultoria Talenses com 1.800 profissionais mostrou que 60% consideram que o trabalho é o fator predominante para aumentar o conhecimento em ou tras línguas. “O mundo está cada vez mais interligado, devido ao avanço da tecnologia. Portanto, em alguma situação específica, o interlocutor pode se sentir mais à vontade em conversar em uma língua diferente do inglês, como espanhol ou francês. Devido a essas questões, as empresas valorizam cada vez mais o conhecimento em outros idiomas”, diz Gabriel Santos, gerente da divisão de Financial Services da Talenses.

Foi o que aconteceu com o engenheiro Leonardo di Bernardi, de São Paulo. Como trabalha em uma empresa japonesa de equipamentos médicos, com sede em Kyoto, sentiu necessidade de aprender o idioma. “Profissionalmente nunca me foi exigido o conhecimento da língua japonesa, o inglês bastava. Mas os manuais de desenvolvimento de projetos são todos em japonês, e a partir deles pude compreender melhor muitas coisas que não estão disponíveis em inglês. Além disso, percebi certa distinção e destaque entre os colegas da América Latina que não falavam o japonês”, conta o engenheiro. O idioma também foi fundamental para trocar experiências com os profissionais de trabalho que ficam do outro lado do mundo.

Escolas de japonês, francês e alemão confirmam tendência

Esse movimento tem sido percebido pelas escolas de idioma. A Aliança Cultural Brasil-Japão, com sede em São Paulo, observou que, nos últimos dois anos, cresceu em cerca de 10% o interesse de adultos pelos cursos. Para Alice Sanae Tsuchiya, coordenadora geral de ensino da escola, essa procura acontece porque as empresas japonesas estão exigindo o conhecimento da língua para uma comunicação melhor no dia a dia, para evitar atritos desnecessários e choque cultural. De olho nessa necessidade, a escola passou a oferecer aulas individuais para atender justamente às pessoas com urgência em aprender o idioma, seja pelo trabalho seja porque iriam viajar ao Japão.

Com o francês não é diferente. Terceira língua mais procurada pelos recrutadores, tem levado jovens profissionais, com média de 33 anos, de volta aos bancos escolares. “São pessoas já posicionadas no mercado de trabalho que veem o francês como segunda ou terceira língua para se diferenciar e enriquecer seu perfil profissional e melhorar seu posicionamento dentro das empresas”, diz Katia Sanson, coordenadora de projetos pedagógicos da Aliança Francesa. A procura maior é pelos cursos mais rápidos. Em um deles, oferecido pela escola, é possível fazer um módulo em apenas 15 dias. “Nesse cenário, vemos principalmente dois públicos que buscam fluência com mais urgência: os funcionários de alto nível hierárquico, que trabalham diretamente com executivos franceses, e os de nível médio, gerentes e coordenadores que enxergam a língua como uma oportunidade de promoção e até mesmo de concorrer a oportunidades na matriz”, conta a coordenadora.

Para atender à demanda, o Instituto Goethe oferece aulas específicas para quem tem pressa em aprender alemão. “Temos cursos especiais focados em uma habilidade, como comunicação escrita e oral ou compreensão oral. A partir de agosto ofereceremos um curso novo para profissionais de saúde. A Alemanha está com um déficit em trabalhadores dessa área. E por isso estão recrutando profissionais de vários países, inclusive do Brasil. Os interessados têm que falar alemão e obter um dos certificados internacionais de conhecimentos”, afirma Cristina Shibuya, coordenadora de cursos e exames do Instituto Goethe.