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Estadão Blue Studio

Auditorias internas têm papel crescente no aconselhamento às organizações

Historicamente realizado com um caráter de fiscalização, o trabalho de auditoria interna vem se tornando mais abrangente, estratégico e consultivo, visando ao fortalecimento da governança, à melhoria do ambiente de controles e à prevenção de riscos

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28 de julho de 2022

Nos últimos anos, as auditorias internas vêm ganhando nova dimensão dentro das organizações. Hoje, as equipes operam em um ambiente mais aberto e em constante transformação, com um ecossistema complexo de parceiros e fornecedores, além da utilização intensa de tecnologias avançadas.

Camila Boretti, líder da prática Accounting & Internal Controls da Deloitte, explica que “na realidade atual é mandatório que a empresa tenha uma linha de salvaguarda, sua auditoria interna, para trazer insights rápidos e prevenir em vez de remediar um problema, evitando que um risco potencial se torne um fato”.

O estudo global da Deloitte “Auditoria Interna: Riscos e Oportunidades para 2022” traz perspectivas relevantes sobre a evolução do papel das auditorias internas. O relatório aponta que as auditorias internas precisam criar um ambiente de “segurança psicológica”, com os profissionais da área tomando medidas para serem vistos menos como adversários e mais como uma função orientada para preservar e gerar valor aos negócios, não apenas esmiuçando o passado, mas vislumbrando o futuro. “A área sai de um papel de fiscalização do passado para assumir um caráter consultivo, parte da estratégia do negócio”, afirma a executiva.

Para Paulo Roberto Gomes, diretor-geral do Instituto dos Auditores Internos do Brasil (IIA), os desafios da nova era das auditorias internas envolvem trabalhar mais na prevenção dos riscos e transformação das organizações, em especial levando-se em conta que as relações das empresas com seus públicos de interesse, inclusive com seus profissionais, são muito mais abertas. “É necessário prever essas situações, tem que realmente blindar a instituição para que não tenha entradas ou saídas indesejáveis. Alertar as pessoas desses possíveis riscos é um grande desafio”, explica.

 Tecnologia para analisar a tecnologia

Boretti ressalta o papel da tecnologia como central no trabalho de uma auditoria interna moderna, ainda mais com as fronteiras internas e externas das empresas sendo muito mais flexíveis.

“Quanto mais tecnologia existe, mais você vai precisar dela. Falamos em riscos fora do muro da organização também porque muitas operações hoje são feitas em ‘cloud’, que não raramente ficam em outros países. Temos assim um cenário no qual a auditoria interna terá obrigatoriamente que usar uma tecnologia para analisar outra tecnologia – e para tirar conclusões a partir dessas ferramentas.” O estudo da Deloitte cita, por exemplo, que tecnologias como a inteligência artificial e a automação serão utilizadas para acompanhar de forma mais assertiva e abrangente os próprios processos de automação.

Fator humano x fraudes

Gomes, do IIA, relembra o tripé clássico sobre o qual se apoiam as empresas modernas – processos, tecnologia e pessoas – para reforçar ainda mais o papel da auditoria interna como aliada importante do bom andamento do negócio. “Uma das principais missões é tentar identificar anomalias e irregularidades. E um dos maiores fatores de risco está no ser humano. Então, temos que estar sempre três passos à frente.”

Esses controles, conforme o estudo da Deloitte, são centrais para estabelecer um monitoramento restrito sobre potenciais fraudes, correlacionando-os com controles existentes para fechar as lacunas. Isso envolve, por exemplo, análises comportamentais no ambiente de trabalho, extravagâncias patrimoniais demonstradas por colaboradores, identificação automática de transações com perfil duvidoso e a criação/manutenção de canais de denúncias, para uso por funcionários e contratados, permitindo relatos anônimos.

Heloísa Santos, sócia da frente de Auditoria Interna da Deloitte, lembra o papel da pandemia e do trabalho remoto nesse contexto, o que potencializou situações de fraude, exigindo das empresas uma gestão aprimorada de temas como cibersegurança. “Muitas vezes, as áreas criam inovações e adotam novas tecnologias, sem avaliar a exposição que a empresa está ganhando com esses movimentos”, declara. A executiva defende que os auditores internos tenham até mesmo assento nos comitês e grupos que promovem inovações, “para que o investimento que é feito já passe por uma visão de riscos e controles”.

O estudo da Deloitte pontua que, para transformações ou implementações significativas, a discussão em relação aos riscos potenciais e controles necessários deve ser antecipada e que a auditoria interna pode ser protagonista nessas iniciativas. O conhecimento e a abrangência dos auditores internos podem auxiliar muito no entendimento das ameaças e oportunidades existentes, bem como garantir que não haja lacunas.

Realidade brasileira

Paulo Vitale, líder da frente de Auditoria Interna da Deloitte, faz uma avaliação sobre como as empresas brasileiras vêm trabalhando com as auditorias internas e seus desafios nas organizações. “Obviamente que existem variações em relação a cada segmento, há negócios que estão mais avançados, mas, de modo geral, a asseguração ainda é o DNA da auditoria interna no Brasil. Muitas empresas já estão consolidadas em relação à capacidade das áreas em prover essa asseguração, porém existe um caminho a ser percorrido no sentido de um trabalho mais ágil e assertivo, com foco mais consultivo e de antecipação de riscos”, destaca Vitale.

demandará adoção de tecnologia, capacitação dos profissionais e um claro entendimento das estratégias de negócios e especificidades do segmento de atuação das empresas”, complementa.

“O grande desafio reside na capacidade das auditorias internas em interpretar e antecipar as demandas dos negócios além de seu espectro operacional, apoiando a alta administração nas suas decisões estratégicas por meio de respostas objetivas, tempestivas e precisas. Trata-se de dotar as empresas da capacidade de discutir riscos emergentes e fomentar ações necessárias para sua mitigação. E isso envolve substancialmente a inovação da forma de trabalho, como a adoção de métodos ágeis, e uso intensivo de tecnologia, como inteligência artificial, análises de dados avançadas, para fazer frente a toda complexidade que envolve hoje o ambiente de negócios”, pontua o executivo.

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