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26 de abril de 2021
Desvios de conduta de funcionários representam uma ameaça à integridade dos negócios, o que pode trazer prejuízos de reputação e imagem difíceis de reparar e, consequentemente, gerar perdas financeiras ou colocar em risco a própria sobrevivência da empresa. Para endereçar bem e com efetividade esses riscos de conduta, as organizações devem estar preparadas e agir com rapidez assim que uma dessas demandas aparece ou chega ao conhecimento de gestores ou comitês de ética.
Para entender como elas estão atentas aos riscos e como lidam com eles, a Deloitte realizou o estudo Riscos de Conduta 2021, em parceria com a Associação de Examinadores Certificados de Fraudes (ACFE Brasil), o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), a Câmara de Comércio Internacional (ICC Brasil) e o Instituto dos Auditores Internos do Brasil (IIA Brasil).
“Hoje em dia, a ética, a conduta e o compliance estão no topo da agenda dos líderes das mais diversas organizações”, destaca Ricardo Lemos, membro da Comissão de Riscos do IBGC. “O comprometimento com a integridade na prática dos negócios faz com que a organização passe a ser vista de forma diferenciada no mercado, além de minimizar os riscos corporativos e manter o negócio rentável e sustentável.”
A importância de adotar estruturas de governança e compliance
O relatório chegou a quatro conclusões principais. Em primeiro lugar, revelou que a grande maioria dos executivos (92%) se considera preparada para receber e atender os relatos de assédio moral e fraude por meio de canais de denúncias. Tais relatos, mostrou a pesquisa, também são comuns nas organizações: 80% dos respondentes identificaram riscos de conduta nos últimos quatro anos, enquanto 61% aplicaram advertências formais para casos de denúncias procedentes de assédio moral. Evidenciando os riscos à reputação que as más condutas podem trazer, 76% das empresas revelaram que tiveram exposição negativa na mídia em decorrência dos desvios de conduta ou atos de fraudes.
A pesquisa apontou que empresas de maior porte tendem a ter mecanismos mais eficientes de controle. Por exemplo: 34% das organizações com faturamento superior a R$ 5 bilhões realizam o monitoramento das ações dos funcionários, 33% adotam ações de detecção e 31% fazem investigações. Entre as empresas que faturam menos de R$ 500 milhões, os índices são de 24% realizando monitoramento, 24% detectando as condutas impróprias, e 22% investigando.
“A adoção das estruturas de governança e compliance está mais avançada entre as organizações. Entre as frentes de prevenção de riscos de conduta que mais contam com políticas e diretrizes definidas estão código de ética e conduta, canal de denúncias e compliance”, destaca Alex Borges, sócio-líder de Riscos Estratégicos e Regulatórios da Deloitte.
Esses itens aparecem nas três primeiras colocações na pesquisa, sendo adotados por 96% das organizações que possuem código de ética e conduta; por 72% das que têm normas para manter canais de denúncia operacionais; e igualmente por 72% das que mantêm políticas anticorrupção.
“É interessante notar que, apesar do alto índice de organizações preocupadas com governança e compliance, controles de procedimentos junto de terceiros, políticas de controles internos e adoção de normas para treinamento dos colaboradores dentro das boas regras de conduta aparecem nas últimas colocações entre os processos mais comuns nas organizações”, observa Ticiana Chicourel, gerente sênior de Risk Advisory da Deloitte.
Nestes pontos, é possível notar que, quanto maior o faturamento da organização, maior a preocupação. Das empresas respondentes que têm política de contratação e due diligence de terceiros, 40% apresentam faturamento maior que R$ 5 bilhões, e 22%, até R$ 500 milhões, uma diferença de 18 pontos percentuais. Para política de conflitos de interesses, essa diferença é de 16 pontos.
Canais de denúncia
Para que as denúncias sejam descobertas ou informadas – e a partir daí todas as providências necessárias sejam adotadas –, o estudo sugere que haja mais integração interna entre as diversas linhas das empresas, compostas por profissionais da média e alta gestão operacional das áreas de apoio e de negócios, especialistas em controles internos e conformidade, além de auditores internos.
Nesse cenário, as empresas caminham no rumo certo, já que a grande maioria conta com canais de denúncia eficientes – 85% delas dispõem desse meio, seja interno ou terceirizado. De acordo com as organizações, os canais estão preparados para receber informações sobre más condutas referentes a assédio moral, fraude, apropriação indevida, assédio sexual, violação de normas, discriminação, corrupção, violação de leis e abuso de autoridade.
Entre as organizações respondentes do estudo com canal de denúncias, dois terços preferem ter uma empresa independente operando essa instância de prevenção e detecção de desvios de conduta. A grande maioria desses canais (em torno de 87%) tem mecanismos e controles que asseguram o anonimato dos denunciantes e seus dados, de modo a evitar retaliações.
No que se refere a investigações, a pesquisa sugere aprimorar a forma de captação de denúncias – por meio de tecnologia ou revisão de práticas e procedimentos –, o que pode contribuir para melhorar a qualidade das informações dos relatos. Em 60% das empresas ocorrem dificuldades na apuração justamente pela má qualidade das informações presentes nas denúncias.
A pesquisa – feita com 125 empresas, entre as quais 71% com receita maior do que R$ 500 milhões em 2019, e com 72% de participantes que ocupam cargos executivos e de governança em suas organizações – traz ainda inúmeras sugestões e dados sobre treinamento para tratamento dos casos de assédio moral, ética, conduta e integridade. Você pode acessar o relatório detalhado e na íntegra clicando aqui.
“Nesse novo momento do mercado, a questão da governança comportamental se torna fator relevante, e é muito importante que a liderança passe bons exemplos, gerando vantagens competitivas ao negócio e assegurando a preservação de valor”, conclui Eduardo Rocha, diretor de Risk Advisory da Deloitte.