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15 de janeiro de 2021
Para que uma empresa desenvolva seus negócios de maneira sustentável e equilibrada, seja qual for sua área de atuação, é mais do que necessário incluir em seu plano de trabalho um olhar atento e cuidadoso para que os valores almejados e adotados pela sociedade sejam respeitados.
Em uma época de consumidores conectados e de grandes preocupações com o futuro, muito além de oferecer um bom produto ou um serviço diferenciado, as organizações também devem levar em conta questões como a preservação do meio ambiente, o relacionamento proativo e transparente com as comunidades em seu entorno, a confiança em seus atos e o respeito a valores como direitos humanos, diversidade e inclusão. Esses temas, por sua vez, são cada vez mais presentes nas agendas dos executivos tomadores de decisões.
Licença social é ponto-chave
Em alguns setores, tais preocupações “além do negócio” ainda precisam ser fortalecidas e expostas de maneira mais clara à sociedade. Um dos maiores exemplos dessa situação ocorre com o setor de mineração, que no Brasil faturou US$ 38 bilhões em 2019 e foi responsável por 53% do saldo da balança comercial.
Embora fundamental para a vida moderna – da pasta de dente ao celular, todos os artigos que usamos cotidianamente são compostos de minerais – o setor de mineração ainda tem dificuldades para demonstrar sua contribuição econômico-social.
O estudo “Valor além do compliance – Uma nova abordagem de criação de valor para mineradoras, governos e comunidades no Brasil”, elaborado pela Deloitte e pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), analisa os fatores envolvidos nessa relação e aponta caminhos a seguir – levando em conta as preocupações naturais com as melhores práticas corporativas.
“Governos de diversos países têm imposto regulações mais rígidas para o setor, o que leva as mineradoras a fortalecer suas ações de impacto social e ambiental. No entanto, essas iniciativas ainda não surtem o efeito desejado e a ‘licença social’ de operação de diversas empresas está em risco”, aponta Patricia Muricy, sócia-líder do setor de Mineração da Deloitte.
Tecnologias transformam a atividade do setor
Outro ponto importante é a chegada de tecnologias que automatizam boa parte das operações ou permitir que elas sejam realizadas de forma remota, transformando o perfil de um trabalho que costuma ser arriscado.
“Com a diminuição da necessidade de mão de obra local, e considerando que muitas licenças sociais e operacionais têm como contrapartida a criação de postos de trabalho para as comunidades locais, as mineradoras precisam repactuar seu valor para a sociedade”, explica Patrícia.
De que forma, então, diante deste cenário, as empresas do setor devem buscar uma aproximação da sociedade, ao mesmo tempo em que atuam para o desenvolvimento dos negócios?
“Nesse novo paradigma, as mineradoras precisam encontrar formas de garantir a continuidade do sucesso dos negócios não apenas sob o aspecto financeiro, mas do ponto de vista do impacto social. Elas devem abraçar a oportunidade de liderar essa agenda do valor além do compliance”, defende Rinaldo Mancin, diretor institucional do Instituto Brasileiro de Mineração.
Benefícios além do compliance
De acordo com o mapeamento da Deloitte, as empresas só têm a ganhar se acreditarem e colocarem em prática tais valores, para além da simples aderência à regulamentações.
As organizações que se preocupam com essas práticas ganham mais prestígio e sustentabilidade no cenário de negócios, obtém melhorias em produtividade e em atração de talentos, mais facilidade em negociar questões regulatórias, de licenças e alvarás, além de ganhar em seu próprio valor de mercado. O acesso ao capital também é favorecido – a preferência dos investidores é sempre por empresas que adotam melhores práticas de governança e sustentabilidade.
Diálogo e transparência
Algumas recomendações práticas são listadas pelos executivos. “É preciso implementar políticas de segurança para os funcionários e para a população local afetada pela produção, assegurando qualidade de vida para todos que são influenciados por sua atividade”, destaca Patrícia, da Deloitte.
Em seguida, manter o relacionamento aberto e consistente com a sociedade requer uma postura colaborativa, abrindo bons canais de diálogo para serem reconhecidas como indústrias efetivamente sustentáveis, evitando conflitos socioambientais e se posicionando como verdadeiras geradoras de valor. “Uma das formas de atingir esse objetivo é demonstrar que esta é uma atividade que traz benefícios significativos para a comunidade em que está inserida. A presença de uma mineradora alavanca investimentos em infraestrutura e qualidade de vida, além de ser polo gerador de empregos e progresso”, afirma Mancin.
A criação de ambientes verdadeiramente inclusivos, com equidade nos processos de promoção, critérios transparentes e preocupações em informar a sociedade dos impactos de responsabilidade social obtidos também devem estar no horizonte.
Antecipação às melhores práticas
Na área regulatória, um dos objetivos a ser perseguido pelas mineradoras é a antecipação a eventuais novas regras, incorporando, por conta própria, boas práticas de governança. Outro fator importante é a manutenção de um ambiente colaborativo com autoridades ambientais e governos para o estabelecimento de novos critérios de trabalho, que atendam às melhores práticas corporativas.
Por fim, Patrícia destaca a utilização dos bilhões de reais obtidos pelos governos em tributos cobrados sobre as empresas de mineração, para que eles retornem na forma de benefícios à sociedade, compensando as gerações futuras e incentivando o desenvolvimento regional.
“Os projetos de mineração exigem investimentos iniciais bastante elevados com expectativa de retorno a longo prazo dado todo o processo de exploração e desenvolvimento de uma mina”, diz Patrícia. “O governo, detentor desses recursos naturais, espera receber uma compensação financeira pela exploração; por outro lado, as mineradoras buscam um retorno econômico que seja compatível com os investimentos e conhecimentos técnicos aplicados na extração dos minérios. Em suma, o sistema tributário precisa alcançar um equilíbrio entre esses interesses e necessidades.“