Jornada da Sustentabilidade

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Estadão Blue Studio

IA e normas de sustentabilidade trazem avanços na relação de empresas com investidores

Estudo da Deloitte e do IBRI mostra que companhias brasileiras estão priorizando novas tecnologias e fortalecimento da agenda ESG

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11 de julho de 2025

Empresas brasileiras vêm intensificando esforços e investimentos em suas áreas de relações com investidores (RI). O foco está na melhoria dos relatórios financeiros e de sustentabilidade – o que é obrigatório diante de novas regulamentações internacionais que passam a valer no ano que vem. Além disso, observa-se um avanço na adoção de ferramentas de apoio para as boas práticas na área, como as de inteligência artificial.

Em geral, existe uma transformação no mercado de RI em torno de novas formas de comunicação com os stakeholders – alterações que exigem adaptações diretas e indiretas nas operações e estruturas das empresas, garantindo que atendam às novas demandas e, paralelamente, continuem avançando rumo ao futuro da área.

Todo esse cenário vem resultando em aperfeiçoamento da conformidade regulatória das companhias que atuam no Brasil, mostra a pesquisa “Evolução nas Relações com Investidores: normas regulatórias e tecnologias emergentes impulsionam o papel do RI”, realizada pela Deloitte, organização com o portfólio de serviços profissionais mais diversificado do mercado, juntamente com o Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI).

“A agenda de sustentabilidade e a transformação digital já são indissociáveis da atuação do profissional de RI. O levantamento evidencia que a IA e as novas normas regulatórias são a realidade, e exigem preparo técnico, visão estratégica e atualização contínua”, destaca Alessandra Gadelha, vice-presidente do Conselho de Administração e Coordenadora da Comissão de Educação e Inovação do IBRI. “Nesse contexto, capacitação e integração são fundamentais para fortalecer a comunicação com o mercado e gerar valor de forma consistente.”

O estudo listou as prioridades das companhias para as áreas de RI nos próximos dois anos, mostrando também pontos de atenção.

Entre as principais linhas de trabalho e planos, destacam-se a ampliação da governança corporativa (50%), a melhoria na divulgação de informações com qualidade e tempestividade (41%) e a incorporação de novas tecnologias, incluindo inteligência artificial (41%).

Ao mesmo tempo, 32% das organizações continuam focadas em aprimorar suas estratégias de comunicação e, igualmente, em reestruturar suas áreas de RI, implementando melhorias em procedimentos, políticas e na definição de papéis e responsabilidades.

Novas normas em 2026

O levantamento mostrou que quase metade (45%) das empresas participantes da pesquisa, de diferentes portes e setores com ações listadas em bolsa, já se adequou às novas normas internacionais de sustentabilidade IFRS S1(CBPS 1) e IFRS S2 (CBPS 2), que entram em vigor no ano que vem. Para elas, essa adaptação, no sentido de melhorar e integrar os relatórios financeiros e de sustentabilidade, é o principal desafio para os negócios, mas 84% enxergaram que as mudanças trazem impactos positivos em médio e alto níveis.

Para assegurar a plena integração do tema sustentabilidade na estratégia corporativa, as companhias preveem a adoção de diversas abordagens. A criação de métricas, por exemplo, é mencionada como iniciativa principal por mais da metade das empresas participantes.

A vinculação dos indicadores de sustentabilidade à remuneração dos executivos se destaca como uma estratégia eficaz para reforçar os objetivos de sustentabilidade com as lideranças, sendo adotada por 31% das corporações.

Simultaneamente, para cumprir as normas de sustentabilidade e clima IFRS S1 e S2, as empresas preveem esforços específicos. Mais da metade (60%) planeja contratar serviços de consultoria especializada para a criação e integração das métricas. Entre os principais desafios apontados, estão a necessidade de alinhar os relatórios de sustentabilidade e financeiros, adequar os sistemas internos e cumprir os prazos estabelecidos para padronização das informações.

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 IA como aliada estratégica

O desafio de integrar tecnologias às atividades de RI vem, cada vez mais, contando com o apoio decisivo da inteligência artificial, inclusive no que diz respeito a atender às novas normas de divulgação de sustentabilidade e clima.

A pesquisa mostrou que 62% das empresas já usam ou pretendem adotar a IA em suas operações até o ano que vem; além disso, mais de oito em cada dez companhias (81%) já promoveram algum tipo de treinamento sobre o tema.

“A convergência entre tecnologia e regulação está redefinindo o papel do profissional de RI. A adoção da IA e a adaptação às normas de divulgação de sustentabilidade e clima, IFRS S1 e S2, exigem não apenas conhecimento técnico e visão estratégica, mas a capacidade de articulação com diferentes áreas da empresa. O mercado está em busca de lideranças de RI que aliem pensamento crítico, transparência e domínio tecnológico”, afirma Reinaldo Oliari, sócio de serviços de Accounting & Reporting Assurance da Deloitte.

Apesar de 41% considerarem a incorporação de novas tecnologias uma prioridade estratégica, apenas 17% acreditam que ela tem alto impacto na prática para a área de RI, enquanto 43% avaliam seu impacto como médio. “Isso revela uma percepção ainda moderada sobre o potencial transformador da tecnologia, com tendência a aumentar à medida que cresce a incorporação disso no dia a dia das atividades da área”, analisa Oliari.

O levantamento mostrou quais são as aplicações mais usadas e que envolvem a IA: produção e revisão de relatórios financeiros, elaboração de fatos relevantes e press releases, análise de dados, uso de chatbots internos e leitura automatizada de documentos.

A pesquisa também mostrou que ainda há desafios na aplicação prática da tecnologia: 88% das empresas apontam a dificuldade de interpretação de dados financeiros complexos como o principal entrave, seguido por preocupações com governança e segurança de dados, transparência dos algoritmos e escassez de profissionais capacitados.

Superações futuras

A integração robusta dos princípios ESG (ambientais, sociais e de governança) está emergindo como um pilar indispensável para se alinhar por completo às futuras exigências de transparência das IFRS de sustentabilidade. Essa coordenação não só aprimora a clareza para os investidores em seus processos decisórios, mas também os capacita a avaliar as empresas com estratégias de negócio mais resilientes e genuinamente sustentáveis. No entanto, o caminho para uma adoção plena e direcionada ainda é marcado por desafios.

Práticas cruciais para a maturidade ESG, como a realização de diagnósticos internos para avaliar o estágio atual das empresas, o planejamento estratégico para elevar seus ratings ESG e a implementação de defesas contra o greenwashing, ainda são implementadas de maneira isolada ou em menor escala do que o necessário.

Por fim, o levantamento mostrou que as corporações vêm buscando modernizar o engajamento em sua aproximação com os investidores, embora ainda apostem nos canais tradicionais, como websites institucionais, e-mails e eventos como o Investor Day, que figuram entre os mais utilizados.

Inclusive, a retomada de eventos presenciais também vem ganhando força: 44% das empresas estão ampliando a realização de encontros ao vivo com o mercado, buscando maior proximidade com investidores institucionais e minoritários. Para 32% das empresas, desenvolver uma comunicação com investidores inovadora, disruptiva e diferenciada é uma prioridade.

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