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Estadão Blue Studio

‘O Brasil é um dos líderes de digitalização na área fiscal’, diz executivo global da Deloitte

Para Willem Blom, País tem inúmeras oportunidades e pode ensinar outras nações a lidar com o universo digital; por outro lado, longa transição na reforma tributária e incertezas globais podem afetar as empresas

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16 de abril de 2025

Willem Blom, líder global de Consultoria Tributária da Deloitte. (Fotos: Diego Padgurschi/Estadão Blue Studio)

Willem Blom, líder global de Consultoria Tributária da Deloitte. (Fotos: Diego Padgurschi/Estadão Blue Studio)

Durante décadas, o Brasil foi conhecido internacionalmente por ter um dos sistemas tributários mais complicados do mundo – algo que afeta a economia do País, principalmente quando empresas estrangeiras decidem investir aqui.

Porém, na visao de Willem Blom, líder global da Consultoria Tributária da Deloitte, há outros aspectos que chamam a atenção. “O Brasil é um líder na digitalização e criou uma série de inovações no universo regulatório. É um ponto muito positivo e que pode contribuir muito com a chamada administração fiscal 3.0, um modelo digitalizado vislumbrado pelo Fórum de Administração Tributária da OCDE, onde os processos de administração tributária são cada vez mais incorporados aos sistemas naturais usados pelos contribuintes em suas vidas diárias e negócios para que ‘o imposto simplesmente aconteça’”, disse o executivo.

Em entrevista durante passagem pelo Brasil, Blom destacou que o País vem modernizando continuamente seu ambiente fiscal, buscando maior competitividade e alinhamento global. “Existe uma perspicácia na forma como o Brasil vem tratando as questões tributárias nos últimos 15 anos, não só na prestação de contas, mas também no combate a irregularidades”, comentou o holandês. “Mais do que apenas gerar mudanças no cumprimento das obrigações fiscais, a digitalização é um processo muito interessante para ajudar as empresas a gerar insights em diferentes áreas, como cadeia de suprimentos ou análise de dados de produtos. Há entendimentos que as empresas obtêm no Brasil e que são impossíveis de se ter em outros países”, afirmou.

Desenvolver tal característica não é algo simples para as organizações, explicou Blom, uma vez que ela não envolve apenas conhecimentos da área fiscal, mas também em tecnologia. “A velocidade tecnológica determina a forma como cada empresa organiza seus sistemas e obriga as empresas a terem uma estratégia de dados. A tecnologia aliada à inovação é um fator-chave: a cada ano, as equipes fiscais precisam fazer mais com menos recursos. A tecnologia as ajuda a serem mais eficientes.”

O executivo da Deloitte também discutiu a importância da inteligência artificial nas tarefas fiscais. Para ele, a adoção da IA precisa passar por uma estratégia de dados que leve em consideração as questões de compliance e de ética. Também deve haver preocupação com segurança da informação e privacidade. Em sua opinião, “o fator humano seguirá sendo importante na indústria, até para manter sob controle um dos aspectos mais relevantes do custo de fazer negócios”. Nesse sentido, destacou que a Deloitte tem trabalhado para auxiliar os clientes, desenvolvendo plataformas globais que se conectam às bases de dados e APIs dos governos locais, “criando o melhor dos dois mundos”.

Reforma tributária

Enquanto esteve no Brasil, o executivo também discutiu a importância da recente reforma tributária proposta pelo País. “É uma reforma positiva, porque simplifica o sistema fiscal. Por outro lado, uma mudança nunca é algo simples – e muitos dos nossos clientes estão preocupados com o nível de compliance e transparência que terão de seguir nas novas regras.”

Willem Blom, líder global de Consultoria Tributária da Deloitte. (Fotos: Diego Padgurschi/Estadão Blue Studio)

Willem Blom, líder global de Consultoria Tributária da Deloitte. (Fotos: Diego Padgurschi/Estadão Blue Studio)

Outro aspecto que chama a atenção das empresas é a longa fase de transição: as regras da reforma tributária começarão a valer já em 2026, mas a transição se estenderá até 2033. “Viver em dois sistemas por sete anos pode ser considerado desafiador”, comentou.

Além das mudanças da reforma tributária, outra alteração relevante pela qual o Brasil passará nos próximos anos no ambiente fiscal será a adoção de novas políticas estabelecidas pela OCDE, como o Pillar 2, que estabelece, entre outras regras, que as empresas multinacionais paguem uma alíquota mínima de 15% de imposto sobre a renda oriunda de cada país onde atuam.

A intenção do novo arcabouço de imposto mínimo global, diz Blom, é promover um ambiente de cooperação e alinhamento entre os países, mas também provocará mudanças estruturais. “As empresas buscam entender de onde vão tirar os dados e como se organizarão nessa nova dinâmica”, ressaltou. “O maior cuidado não é nem com o pagamento dos 15%, mas sim com a segurança de que tudo será feito em conformidade.”

Cenário global

 Para o líder global da Deloitte, há um contexto de incerteza sobre impostos e taxas no mercado transnacional, que vem crescendo desde o início da pandemia. Isso também levará a transformações nas estruturas e cadeias de suprimento das organizações. “Nos últimos anos, as empresas perceberam a incerteza no mundo e tiveram de mudar de paradigma: se antes a cadeia de suprimentos era o mais eficiente possível, agora precisa ser o mais ágil e resiliente possível. É algo que pode aumentar os custos, mas que será importante em um cenário menos estável.”

 O executivo também destacou a priorização da transparência, algo que marcou o ambiente fiscal global nas últimas décadas. “É algo que as pessoas, os cidadãos e as empresas querem. É preciso pensar como a transparência se combina com a competitividade, sem gerar desvantagens competitivas ou custos desnecessários. Uma das grandes lutas dos próximos anos será encontrar esse equilíbrio”, disse.

Nesse contexto, ressaltou o executivo, aumenta ainda mais a importância de as empresas terem uma visão clara de como vão lidar com os desenvolvimentos fiscais futuros. “Hoje o Brasil tem um potencial enorme e queremos contribuir para gerar estabilidade, ajudando as empresas a navegarem pelas respostas”, afirmou. “Acredito que faz parte do compromisso da Deloitte contribuir com essas respostas, para que as empresas brasileiras invistam e cresçam no País.”

 “O Brasil é um líder na digitalização e criou uma série de inovações no universo regulatório. É um ponto muito positivo e que pode contribuir muito com a chamada administração fiscal 3.0…”  Willem Blom

 

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