Compartilhe
6 de dezembro de 2016
Nos últimos anos, os empresários brasileiros têm superado desafios, por conta da instabilidade em diversas áreas (política, regulatória, institucional e econômica), com aumento da inadimplência, menor acesso ao capital e a necessidade de tomar decisões de curto prazo focadas, principalmente, na sobrevivência de seus negócios.
Para 2017, no entanto, começam a sinalizar retomada de confiança e incluem a captação de recursos em seu planejamento. É o que mostra a Agenda 2017, pesquisa realizada pela Deloitte, apontando que 50% das empresas participantes pretendem se capitalizar no próximo ano.
Na visão de Reinaldo Grasson, sócio-líder de Corporate Finance Advisory, “trata-se de um resultado positivo, pois, mesmo diante do cenário de instabilidade que ainda vivemos, há intenção de captar recursos e realizar investimentos, visando retomada de produção e aumento de vendas”.
Alternativas de captação
Entre aquelas que pretendem obter capital, 18% estimam recorrer a empréstimos em bancos de fomento; 16% devem buscar financiamentos em bancos de varejo; 14% devem contar com aportes dos proprietários ou sócios; 12% esperam aportes dos grupos controladores; 7% aguardam aportes de fundos de investimento e 5% devem emitir títulos de dívida.
Após anos com raras operações de abertura de capital (IPO, da sigla em inglês “Initial Public Offering”) de empresas na Bolsa, 1% das respondentes indica que pretende utilizar esta opção de capitalização em 2017 (dessas, quase todas estimam receita líquida superior a R$ 1 bilhão para este ano).
“Há empresas que estão com tudo pronto, aguardando o momento mais adequado para abrir capital, esperando uma janela de oportunidade. Há perspectiva de que 2017 propicie esta volta dos IPO’s”, explica Grasson.
Comportamento mais conservador
Por outro lado, a captação por meio de recursos próprios, característica comum das empresas de menor porte, aparece como importante elemento em 2017. No caso da outra metade das empresas participantes, que não irão se capitalizar em 2017, a maioria delas (74%) é de pequeno porte, com receita líquida estimada menor que R$ 500 milhões em 2016.
“Em muitos casos as empresas de menor porte procuram ter menor dependência de recursos de terceiros, por conta de volatilidade de receita e menor capacidade de dar garantias para obtenção de empréstimos, adotando, portanto, uma postura conservadora na gestão financeira, expondo-se menos a risco”, pondera.
Cuidados a tomar na captação de recursos
Reinaldo Grasson destaca alguns cuidados a serem tomados em relação às fontes de recursos, que envolvem “três questões básicas”:
– capacidade de pagamento: é importante verificar quão estável é o fluxo de caixa da empresa, tendo em vista o perfil dos clientes, estrutura de custos, e grau de dependência das oscilações da economia e das condições atuais do seu mercado. “É preciso criar um colchão de liquidez”, alerta.
– garantias que a empresa pode oferecer para receber financiamento: quanto mais ativos a empresa tiver como garantia, melhores serão suas condições de financiamento.
– prazo de pagamento e taxas de juros associadas: o executivo destaca a necessidade de observar atentamente os prazos de pagamento do principal e juros, carência oferecida, e o custo deste financiamento, incluindo em que moeda está sendo contratada a dívida, para verificar se há alinhamento com a geração de caixa da empresa, e se há necessidade de obter proteção (hedge) cambial.
Prioridades para investir
Entre as empresas que estão propensas a investir em 2017, algumas alternativas aparecem como prioritárias:
– lançamento de novos produtos ou serviços (com 48%)
– substituição de máquinas e equipamentos (40%)
– ampliação de pontos de venda (17%)
– ampliação do parque fabril (14%)
– aquisição de empresas (13%);
“Há um movimento para entrada em novos mercados, com produtos que a empresa já tem, ampliando sua base de clientes dentro do mercado doméstico”, conta Grasson. O consultor explica esta tendência: “à medida que a economia se estabiliza, há redução do endividamento das famílias e consequentemente retomada do consumo. Então, a ampliação da base de clientes e mercados é uma iniciativa bastante oportuna neste momento”.
Grasson menciona, ainda, a necessidade de buscar soluções para otimizar a geração de caixa. “Cabe à empresa fazer sua lição de casa, procurar manter ou até melhorar seu nível de oferta de produtos serviços, gastando menos. É preciso olhar para dentro, identificar as oportunidades de corte de custo e melhoria de produtividade. Deve haver uma preocupação constante, em qualquer tempo, de fazer mais com menos, naturalmente sem prejuízo da qualidade”.