Jornada ESG

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Estadão Blue Studio

Recomendações do B20 para o financiamento de projetos sustentáveis envolvem incentivos a capital privado em projetos climáticos, regulação clara e inserção de PMEs

Insights e propostas da força-tarefa de Finanças & Infraestrutura do B20 foram apresentados em evento promovido pela Deloitte

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25 de outubro de 2024

A transição rumo a uma economia global de mais oportunidades e inovação, que contemple uma das maiores urgências do planeta – combater ao máximo as mudanças climáticas –, requer que organizações de todos os perfis, segmentos e tamanhos, além de governos, se unam para um planejamento estratégico e colaborativo.

As sugestões e recomendações do setor privado para efetivamente endereçar esses desafios comuns e identificar oportunidades de parcerias compõem um dos policy papers formulados pela força-tarefa de Finanças & Infraestrutura do grupo B20 e encaminhados ao G-20, o grupo de países com as maiores economias do mundo. O B20 Brasil 2024, coordenado pela Confederação Nacional da Indústria, tem o papel de fomentar o diálogo e representar a voz do empresariado ao fazer, por meio de forças-tarefa temáticas, recomendações de políticas públicas destinadas ao G-20.

A Deloitte atuou como knowledge partner em duas forças-tarefa, a de Integridade & Compliance e a já citada de Finanças & Infraestrutura. As principais recomendações sugeridas por esta última foram apresentadas no evento Navigating Sustainable Growth: Insights from the B20 Finance & Infrastructure Policy Paper, ocorrido em 22 de outubro, em São Paulo, no espaço AYA Earth Partners.

O evento contou com a participação de investidores, líderes da indústria, representantes de organizações e fóruns internacionais, e teve diferentes temas no centro das discussões, com prioridade para as três recomendações centrais listadas no documento.

“A mobilização do capital privado para investimentos em projetos climáticos; a aceleração do licenciamento de processos para facilitar a adoção rápida da infraestrutura para o modelo chamado de ‘net zero’; e também a integração de pequenas e médias empresas às novas cadeias globais de valor são pontos centrais nessa discussão”, citou Luiz Paulo Assis, líder da Deloitte para a força-tarefa de Finanças & Infraestrutura.

A chair da força-tarefa, Luciana Ribeiro, apontou que a transição climática foi uma das grandes preocupações e, segundo ela, o paper será levado à 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-30), para transformar essa agenda em ação. “Focando esses três pilares, almejamos a promoção do crescimento sustentável, resiliência e maior equidade nos mercados globais”, resumiu.

Luciana lembrou que é fundamental rever o papel do setor público nessas iniciativas, por meio de medidas regulatórias, revisão do papel de agências e ações como concessão de benefícios que possam fazer com que o capital do setor privado flua com maior facilidade para a aplicação no financiamento de projetos climáticos.

Inovação, acessibilidade e colaboração

A chair global da Deloitte, Anna Marks, participou do evento e comentou a importância de fomentar um ecossistema verde para o financiamento de projetos sustentáveis.

“Inovação, acessibilidade e colaboração são essenciais para acelerar a jornada rumo ao zero líquido. Formuladores de políticas, investidores e credores, instituições financeiras de desenvolvimento e organizações internacionais devem trabalhar juntos para criar um ecossistema financeiro focado na sustentabilidade que incorpore o impacto climático dos investimentos, impulsione a inovação e permita um refinanciamento eficaz. Cada um de nós tem uma responsabilidade nessa transição essencial”, destacou a executiva.

Paul Polman, empresário que lidera frentes de apoio a projetos de clima, falou sobre o papel das organizações na promoção de ações sustentáveis e de combate às mudanças climáticas e lembrou o papel fundamental dos governos na desburocratização do acesso ao capital privado nos projetos de transição climática. “Tudo está acontecendo muito rápido e está ficando difícil reagir”, alertou sobre os efeitos do aquecimento global.

Polman considerou que o Brasil tem uma posição geográfica bastante favorável para assumir uma frente de destaque no tema, com diversos recursos disponíveis. “Para fazermos algo, temos que colocar a casa em ordem, trata-se de uma crise humana. O principal elemento aqui é a liderança. E no centro da liderança, é preciso coragem.”

Painéis trouxeram insights sobre recomendações e futuro

O evento de apresentação contou com três painéis temáticos nos quais executivos e representantes de entidades setoriais de negócios debateram diversos aspectos das medidas e desafios.

O primeiro painel debateu o foco no investimento climático como catalisador para acelerar, em grande escala, a entrada de capital privado em projetos de modo a facilitar a transição para uma economia sustentável de baixo carbono.

Carlos Takahashi, diretor da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), lembrou a necessidade de conectar ecossistemas de fora do mercado financeiro como cientistas, universidades e a sociedade geral, para ampliar o alcance e envolvimento nos projetos, além da necessidade de as corporações brasileiras buscarem alinhamento com as normas regulatórias internacionais.

Heiner Skaliks, consultor senior da Convergence Blended Finance para América Latina e Caribe, afirmou ser fundamental o papel das operações de financiamento misto, que une recursos públicos, de fomento ou filantrópicos a capital privado com objetivo de financiar projetos de impacto social positivo, ambiental ou de desenvolvimento econômico. A modalidade se destaca no financiamento sustentável ao contribuir para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

Denise Pavarina, integrante do conselho do Bradesco, considerou que as organizações digitais de hoje se transformarão, para manter a relevância no mercado e o papel social, em low emission companies. “O Brasil tem a oportunidade de servir como hub de soluções para o resto do mundo.”

No painel seguinte, foram debatidos o cenário e as possibilidades para aumentar a quantidade de financiamentos de projetos de infraestrutura no País, algo ainda “bastante descentralizado e burocrático” nas palavras de Eduardo Raffaini, líder de Infrastructure & Capital Projects da Deloitte.

Ludmilla Nascimento, diretora de Energia e Descarbonização da Vale, afirmou que é preciso avaliar os riscos às operações de grandes organizações que as mudanças trazidas pela tecnologia podem acarretar. “Por outro lado, não adianta termos tecnologias e não distribuirmos ao longo da cadeia. A questão principal aqui é ter bem claro todo o framework regulatório.”

O fundador e presidente da GranBio, Bernardo Gradin, comentou que os negócios e a sociedade caminham para ter uma visão mais clara do mercado de baixo carbono a longo prazo, e esses dados possibilitarão visualizar a lucratividade da transição energética, viabilizando a adoção de fontes alternativas de energia.

Já Cintia Torquetto, presidente da Infra Women Brasil, defendeu a simplificação das regras de licenciamento ambiental para os negócios, inclusive com a automatização de alguns processos em projetos de baixo impacto. “Precisamos de um modelo que traga funcionalidade e não afugente os investidores.”

Para Claudio Medeiros, presidente do Sinicon, é preciso, em alguns casos, repensar os conceitos de “economia verde” e “economia do mar” e seu papel na exportação de produtos, bem como investir em um melhor aproveitamento de ferrovias para transporte de grandes volumes de mercadorias.

A inserção das PMEs de forma sustentável nas cadeias globais de valor foi tema do terceiro e último painel, moderado por Ronaldo Fragoso, Chief Growth Officer da Deloitte, que destacou a importância desse movimento para alavancar a transição para uma economia sustentável.

“A coisa mais simples a fazer é entender o papel dessas empresas e inseri-las na agenda de competitividade, abrindo os ambientes de negócios a todos, já que há muitas oportunidades”, destacou John Denton, secretário-geral da Câmara Internacional de Comércio (ICC).

A diretora do Movimento Brasil Competitivo, Tatiana Ribeiro, abordou o desafio de corrigir as falhas e incentivar as agendas de formação e qualificação profissional, o que reflete diretamente na baixa qualidade da mão de obra, em muitos segmentos. “A transição para uma economia de baixo carbono demanda novas habilidades”, pontuou.

Na ocasião, o chair do Comitê de Finanças e Negócios da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Gianlucca Riccio, lançou e apresentou o relatório Funding Sustainability Efforts, defendendo a interoperabilidade de dados econômicos, de mercado, de projetos com pequenas e médias empresas para inseri-las na nova realidade dos negócios de forma mais sustentável e colaborativa.

A cofundadora da AYA Earth Partners, Patrícia Ellen, fechou as apresentações lembrando que o momento é de “reaprender e redesenhar os valores que conectam a transição climática à produção industrial”.

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