Jornada ESG

Produção

Estadão Blue Studio

Setor privado deve usar força para influenciar debates de políticas públicas

Em evento realizado pela Deloitte em São Paulo, conselheiros de empresas e lideranças do B20 Brasil – que representa a comunidade empresarial perante as nações do G-20 – defenderam a participação das organizações em diferentes pautas; combate à corrupção, inteligência artificial, governança corporativa e sustentabilidade estiveram entre temas discutidos

Compartilhe

3 de setembro de 2024

Em um mundo cada vez mais marcado por complexidades, é preciso que setor público e privado andem de mãos dadas para pensar soluções para os problemas do presente e do futuro, com as organizações também influenciando os debates de políticas públicas. Essa foi uma das principais conclusões da última edição do Boardroom Program, evento realizado em São Paulo, em 22 de agosto, pela Deloitte, organização com o portfólio de serviços profissionais mais diversificado do mundo, e que reuniu participantes do B20 Brasil, fórum que representa a voz da comunidade empresarial perante os governos que compõem o chamado Grupo dos Vinte, o G-20.

Mais do que apenas tratar da importância da participação do setor privado nas discussões de políticas públicas, o evento também mostrou o trabalho do B20 ao longo deste ano, em que o Brasil exerce a presidência da cúpula do G-20. Cerca de uma semana depois, na quarta-feira, 28, a liderança do B20 Brasil esteve na Presidência da República para entregar as recomendações de políticas públicas que devem influenciar as decisões do G-20, sendo a primeira vez que o grupo entrega as propostas do setor privado antecipadamente. O objetivo é garantir mais tempo para análise das 24 recomendações listadas pelo setor privado antes da reunião final, que será realizada no próximo mês de novembro, no Rio de Janeiro. “É uma temporada única, em que há desafios e oportunidades globais sem precedentes, e o B20 promove diálogos significativos, buscando influenciar e contribuir por meio de recomendações impactantes e diferenciadas”, destacou Bruce Mescher, líder de Public Policy da Deloitte Brasil, que atua como Knowledge Partner do B20 Brasil em duas forças-tarefa: as de Integridade & Compliance e Finanças & Infraestrutura.

Bruce foi o responsável por moderar o principal painel do evento, que contou ainda com a participação das representantes do B20 Brasil, Claudia Sender, membro de Conselhos da Embraer, Gerdau, Telefônica e Holcim, e Chair da força-tarefa de Integridade & Compliance; Luciana Ribeiro, fundadora da EB Capital, Chair nos Conselhos da Sumicity e MobTelecom e da força-tarefa de Finanças & Infraestrutura, e Constanza Negri, Sherpa do B20 Brasil. “O B20 não é um fórum de negócios, mas um fórum no qual o setor privado coloca o chapéu de policy maker. Para as empresas, é um desafio investir seu tempo em algo que não traz retorno rápido, mas, se nós queremos mudar e moldar o futuro, não há outra via sem ter participação ativa”, destacou Constanza no início do debate, ressaltando ainda a atuação da Deloitte como parceira de conhecimento.

Organizado em torno de sete forças-tarefa e um Action Council, cada qual com sua vertical, o B20 levará recomendações para os governantes, sempre em torno do tema de crescimento inclusivo para um futuro sustentável. “Uma das nossas metas é de que todos possam crescer, em um modelo de desenvolvimento econômico que não deixe ninguém para trás”, destacou Claudia Sender, que também lidera a força-tarefa de Integridade & Compliance do B20 Brasil. “Não podemos deixar de falar de corrupção, mas queríamos trazer um olhar mais alinhado para os estímulos de ser ético e sustentável do que para as sanções, na linha do que a Controladoria-Geral da União (CGU) também propõe hoje.”

Entre as recomendações da força-tarefa liderada por Claudia, está a de criar incentivos para que as organizações sigam as regras de compliance, privilegiando benefícios de longo prazo. Outra é a de elevar o nível da conversa sobre integridade e concorrência justa, “para que o campo de batalha seja igual para todos, com práticas prevalentes dentro do ambiente de negócios”, como destacou a porta-voz. Por fim, a última recomendação é a de fomentar lideranças éticas e crescimento inclusivo, considerando temas como trabalho livre de assédio e transparência para os consumidores.

Ação climática

Líder da força-tarefa de Finanças & Infraestrutura do B20 Brasil, Luciana Ribeiro destacou também as recomendações elaboradas pelo grupo de trabalho, com foco especial na questão de mudanças climáticas. Entre as pautas, está a busca por garantias para instrumentos que reduzam o risco e sejam capazes de alavancar capital privado para obtenção de recursos para a transição verde. “Hoje, estima-se que sejam necessários de US$ 3 trilhões a US$ 5 trilhões para fazer essa transição”, destacou ela, que também ressaltou a necessidade de previsibilidade para investimentos em projetos de infraestrutura, muitas vezes afetados por atrasos causados por licenciamentos regionais.

“É importante criar uma padronização entre processos de licenciamento, evitando loucuras na perspectiva regulatória”, disse Luciana. Ela também falou sobre a importância de repensar o modo como as emissões de carbono estão sendo medidas na cadeia de suprimento global. “Hoje, muito é medido apenas ‘dentro dos países’, e não de maneira globalizada. De uma perspectiva climática, atualmente há soluções que não fazem sentido do ponto de vista global sobre as emissões, especialmente nas transações entre países”, afirmou.

Após a finalização das recomendações, o trabalho do B20 neste segundo semestre será focado em divulgar as ações, ampliando a comunicação sobre o tema até culminar em uma plenária própria, em outubro, a ser realizada em São Paulo. “Será um momento de discussão das recomendações e de olhar o legado do que deixamos para os próximos países”, afirmou Constanza. “Hoje, o setor privado pode trazer uma voz importante para as políticas públicas – e isso pode ser maior porque as empresas decidiram aumentar sua participação nesses fóruns.”

Mudanças de governança

Além do painel sobre o B20, o evento realizado pela Deloitte em São Paulo teve falas importantes a respeito de temas como governança corporativa e inteligência artificial, dois assuntos que provocam grandes transformações dentro das organizações atualmente.

“Em qualquer caso, o fortalecimento contínuo das diretrizes empresariais e a checagem da conformidade, visando contenção, identificação e prevenção de riscos, devem ter periodicidade mais ajustada, em razão da velocidade da inovação nas frentes tecnológicas e das disrupções que tomam tantos cenários no mercado global. Tal mobilização nas organizações deve partir da alta liderança, o que envolve os conselhos de administração”, observou Alex Borges, sócio da Deloitte e líder do Boardroom Program no Brasil, durante a abertura do evento.

O professor Arno Probst, líder global do Boardroom Program da Deloitte, também esteve presente no evento e ressaltou as discussões que podem promover mudanças significativas para as empresas hoje em dia. Segundo Probst, são cinco grandes temas: tensão geopolítica, escrutínio regulatório, cibersegurança, transformação pelo uso de dados e inteligência artificial generativa. A expectativa da sociedade de que grandes empresas liderem iniciativas de longo prazo favoráveis ao clima do planeta, como, por exemplo, criando roadmaps de compensações ambientais, também foi citada pelo professor.

Inteligência artificial

Probst destacou ainda dados de uma pesquisa recente da Deloitte feita com conselheiros de grandes empresas em mais de 20 países: segundo 45% dos participantes, tecnologias como a inteligência artificial generativa não estão sendo discutidas. A mesma proporção de participantes declarou ainda que suas organizações não estão prontas ou nem têm ideia de como utilizar tal tecnologia.

Essa preocupação também ficou evidente no debate que encerrou o evento, mediado por Priscilla Moraes, diretora de Risk Advisory da Deloitte Brasil. A conversa, que teve também a participação de Dora Kaufman, professora da PUC-SP, e Jefferson Denti, Chief Disruption Officer da Deloitte, mostrou que o avanço da tecnologia tem sido um grande desafio para as empresas.

No painel, a velocidade da IA generativa em relação a outros processos disruptivos foi apontada como o principal diferencial em relação a outros casos semelhantes, e que é esse diferencial que “atropela” tanto as organizações quanto as pessoas. Nesse contexto, existem uma premissa e certa urgência em capacitar os tomadores de decisão, para que possam entender a lógica, os dilemas e os trade-offs da tecnologia.

A hora é de troca de paradigmas nas organizações, com um papel fundamental para o conselho. Além de entender a estratégia de tecnologia que vai se transformar em negócio, é preciso também abandonar modelos, serviços e produtos no passado, e adotar programas de letramento para todos os tomadores de decisão.

 

Mais acessadas

Para saber mais sobre ESG e outros estudos da Deloitte, acesse o link e cadastre-se