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25 de outubro de 2024
Para garantir uma jornada segura e sustentável em direção ao sucesso e à relevância, em uma era em que as tecnologias disruptivas avançam, as organizações devem olhar com bastante cuidado para um de seus recursos mais preciosos: os colaboradores. A conclusão é do estudo Tendências Globais de Capital Humano 2024, produzido pela Deloitte, organização com o portfólio de serviços profissionais mais diversificado do mundo.
A pesquisa mostrou que as empresas que priorizarem desde já o desempenho humano darão um grande e crucial passo para seu sucesso. Foram ouvidos mais de 14 mil participantes de 95 países, incluindo o Brasil, para entender como as organizações estão atravessando o cenário atual do trabalho “sem fronteiras”, abordando novas perspectivas e mapeando as principais tendências dos ambientes corporativos.
A presença maciça de inovações no dia a dia dos profissionais – com tecnologias como inteligência artificial generativa (GenAI, na sigla em inglês), aprendizado de máquina, computação em nuvem, IoT (internet das coisas), blockchain, realidade aumentada e realidade virtual, robótica e big data – mostra que as referências tradicionais das relações de trabalho mudaram. Esse contexto dá às empresas espaço para experimentar e redefinir a gestão de pessoas. No entanto, apesar da necessidade de investimentos e atenção para impulsionar o desempenho individual das pessoas e desse espaço existente para inovar, ainda há desafios, revelou a pesquisa.
Os dados indicaram que 73% dos entrevistados reconhecem a importância de equilibrar as capacidades humanas com a inovação tecnológica; porém, apenas 9% relatam progresso nesse sentido. Portanto, existe uma lacuna significativa entre identificação e ação, o que se deve, principalmente, a desafios operacionais na implementação das mudanças.
“O papel da liderança em um mundo sem fronteiras será fundamental para melhorar o desempenho dos negócios, permitindo que as organizações se adaptem e se moldem ao futuro do trabalho. Com informações, tecnologias e ferramentas até então inéditas à disposição, podemos nos aproximar do que realmente importa: a criação de valor para a organização, para os trabalhadores atuais e futuros, e para a sociedade em geral”, aponta Ana Mocny, sócia de Capital Humano da Deloitte.
Tendências
A pesquisa mapeou sete tendências principais. A que foi considerada mais importante entre as analisadas, com maior impacto previsto no sucesso organizacional, é o equilíbrio entre privacidade e transparência para construir confiança. A tecnologia aumenta a transparência nas empresas, pois oferece oportunidades para medir e melhorar o desempenho de forma muito mais precisa. Porém, isso exige estruturas de responsabilidade para evitar abusos e garantir que a confiança seja fortalecida.
Apesar de 88% das lideranças reconhecerem a importância da transparência, apenas 13% se sentem preparados para lidar com o desafio, citando falta de alinhamento e restrições internas como obstáculos à implementação das boas práticas.
A ampliação da sustentabilidade humana – criando valor para as pessoas, promovendo bem-estar físico, mental, social e econômico – também deve ser vista como ponto principal na evolução das relações entre empresas e seus colaboradores. No entanto, a falta de ações mais efetivas ainda se impõe.
Iniciativas para avaliar e distinguir comportamentos e resultados contribuem para um ambiente mais saudável, inclusivo e produtivo, impulsionando a prosperidade dos colaboradores e criando locais de trabalho mais eficientes. Embora a importância disso seja reconhecida por 76% dos respondentes da pesquisa, apenas 10% afirmam estar liderando esse avanço.
O aumento do estresse no trabalho (53%) e o medo da substituição por tecnologia (28%) são as dificuldades mais comuns relatadas pelos colaboradores. Por outro lado, atitudes como vincular recompensas de líderes a métricas de sustentabilidade e envolver os trabalhadores na cocriação de seus papéis são essenciais para o sucesso dessa abordagem. Isso é reforçado pelo fato de 43% dos funcionários terem afirmado, na pesquisa, que a adoção dessas práticas no dia a dia os deixou em uma situação melhor do que quando iniciaram na empresa.
Medição de produtividade com novas tecnologias
O estudo também aponta a necessidade de ir além das métricas tradicionais de produtividade para medir o desempenho humano, com 74% dos entrevistados considerando crucial a busca por melhores formas de avaliação.
Aqui, mais uma vez, aparece o caráter desafiador e o descompasso entre mudanças necessárias e ação: apenas 8% dos líderes se consideram na vanguarda dessa mudança e 17% disseram que sua empresa é muito ou extremamente eficaz nesse ponto.
Novas abordagens, nesse aspecto, são possíveis com a utilização das tecnologias atuais, como ferramentas de aprendizagem de máquina e análise de dados de diversas fontes (e-mail, plataformas de colaboração, ferramentas sociais, dispositivos vestíveis, neurotecnologia, sensoriamento biométrico, headsets de realidade aumentada e rastreamento de localização, etc.). Elas permitem avaliações mais abrangentes e compartilhadas, beneficiando tanto a organização quanto o funcionário por meio dos dados coletados.
“A pesquisa vem destacando cada vez mais a importância de redefinir as relações com as pessoas no ambiente corporativo, enfatizando a necessidade de focar menos em como os trabalhadores beneficiam a empresa e mais em como a empresa pode criar valor para os indivíduos”, explica Luiz Barosa, sócio de Consultoria em Capital Humano da Deloitte. “Essa abordagem, que abrange aspectos físicos, mentais, sociais e econômicos da vida, é essencial para promover um ambiente de trabalho mais saudável, inclusivo e produtivo, com sustentabilidade humana e a confiança”, acrescenta ele.
IA x imaginação
A pesquisa destaca ainda o “déficit de imaginação” em muitas organizações em relação ao potencial disruptivo da inteligência artificial generativa. Embora 73% dos respondentes considerem importante alinhar as capacidades humanas com a inovação tecnológica, apenas 9% estão progredindo nesse sentido.
Para superar esse desafio, as empresas precisam cultivar e escalar capacidades humanas como curiosidade, empatia e criatividade, proporcionando aos seus times autonomia para moldar seu trabalho, o que requer certa dose de imaginação, já que a IA e outras tecnologias assumem papéis cada vez mais centrais na vida profissional, mostra a pesquisa.
A proposta como uma solução para potencializar a inovação e o desenvolvimento humano é a criação de playgrounds digitais – espaços seguros para experimentação e cocriação de novas metodologias, para exploração dos múltiplos futuros possíveis, também conhecidos como hubs de inovação, e que envolvem não só locais físicos, mas uma nova abordagem. Dos respondentes da pesquisa, 65% dos participantes entendem a importância desses espaços, entretanto, apenas 10% dos líderes estão progredindo significativamente.
O cultivo de microculturas, conferindo maior autonomia aos pequenos grupos de trabalho, fornecendo-lhes recursos para desenvolvimento e alinhando suas práticas com os princípios organizacionais, também é destacado como algo central para atrair e reter talentos. O estudo apontou que 71% dos respondentes consideram essa tendência importante, mas sua implementação é desafiadora.
A pesquisa revelou que 73% dos trabalhadores já deixaram um emprego devido à falta de identificação cultural e às dificuldades dos líderes em promovê-la, ressaltando o valor desse tema para a retenção de talentos.
O estudo da Deloitte detectou ainda a relevância de promover uma transformação do setor de Recursos Humanos (RH), passando de uma função especializada para uma disciplina sem fronteiras, integrada com os negócios e a comunidade. Enquanto 72% das organizações reconhecem a importância dessa mudança, poucas estão avançando.
“Operamos em um mundo onde o trabalho não é mais definido por funções específicas, o local de trabalho não se limita a um espaço físico, muitos trabalhadores não são mais empregados tradicionais e os recursos humanos não estão mais isolados”, reforça Roberta Yoshida, sócia de Consultoria Empresarial e líder da prática de Capital Humano.
“Essas fronteiras, anteriormente vistas como a ordem natural das coisas, estão se dissolvendo e os modelos tradicionais de trabalho estão perdendo os limites. Podemos observar uma lacuna significativa entre a compreensão sobre a importância da adoção de práticas voltadas à transparência e sustentabilidade e a prática de ações relevantes para endereçar esses temas, tanto no mercado global quanto no Brasil. Portanto, é essencial reconhecer que impulsionar o desempenho humano e liderar em um mundo sem fronteiras trará muitos desafios operacionais”, afirma a executiva.
Uma liderança mais integrada e multifuncional é necessária, exigindo novas formas de responsabilização e a adoção de novas mentalidades e melhores práticas em todos os níveis da corporação.