Jornada ESG

Produção

Estadão Blue Studio

A importância da padronização de metodologias de avaliação

Embora ainda não tenham chegado oficialmente no Brasil, existem tratativas envolvendo órgãos internacionais que definem esses padrões

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24 de julho de 2024

No início dos anos 2000 começou um movimento de padronização de divulgação das informações financeiras, garantindo que as demonstrações contábeis publicadas por uma empresa sigam padrões internacionais, o chamado International Financial Reporting Standards (IFRS). Significa dizer que não importa onde as pessoas estejam, elas sabem exatamente o que significa aquela informação. O mesmo, no entanto, não acontece quando falamos em avaliação do valor de um bem ou de um negócio. A avaliação de negócios e ativos carrega algum grau de subjetividade, considerando-se aspectos econômicos variados, características da empresa/ativo e de perspectivas de indústrias, mercados e tendências. Porém, é possível padronizar metodologias a serem aplicadas e homogeneizar bases de dados e critérios a serem observados, considerados e analisados em cada avaliação, bem como definir boas práticas.

“A padronização de metodologias de avaliação é um processo de interesse público, por contribuir muito em diversos aspectos da economia. Em muitos países, a disseminação dos padrões já está mais avançada, mas no Brasil ainda não houve reconhecimento oficial desses padrões como houve com padrões de divulgação de demonstrações financeiras. Existem tratativas envolvendo o  International Valuation Standards Council (IVSC) – órgão independente global que define padrões para a profissão de valuation e promove consistência e profissionalismo para o público de interesse no assunto –, que já fez contatos preliminares com entidades profissionais e autoridades para avançar nesse sentido”, explica Marcelo Barbosa, membro de conselho de curadores do IVSC e ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Segundo ele, um acordo está sendo discutido no âmbito da Organização Internacional de Comissões de Valores Mobiliários (Iosco) – que representa órgãos reguladores de mais de 100 países –, em conjunto com o IVSC, de forma a permitir o reconhecimento dos padrões e facilitar sua internalização em cada país membro.

A avaliação tem o propósito de determinar o valor de um bem ou de um negócio. Barbosa explica que a padronização da avaliação é um processo técnico, mas os métodos variam entre as firmas e os países, por exemplo, e toda essa variedade indica que o valor e o meio de avaliação podem ser interpretados de formas distintas. “Não significa que um esteja errado ou outro certo. Podem ser técnicas diferentes e ainda assim adequadas, mesmo diferentes. Mas não há dúvida de que a padronização elimina ruídos”, comenta Barbosa ao lembrar que é importante que a avaliação seja confiável para ser usada em subscrições, fusões e aquisições (M&A) ou até em operações bancárias, como um imóvel em garantia. “Em operações de financiamento que envolvem garantias, por exemplo, o valor do bem e do financiamento chega mais fácil em uma cifra confiável. No mercado de capitais, por sua vez, existem vários instrumentos negociados em Bolsa que ficam mais fáceis quando têm padrões de negociação mais aceitos, o que reduz o ruído. Isso aumenta a confiabilidade das informações no mercado – valor de compra e venda –, inclusive para o valor futuro do bem. Quanto maior a padronização, mais transparência, e essa avaliação crível oferece segurança”, reforça.

Eliminação de ruídos e aumento da credibilidade

O fato é que sempre existem técnicas e práticas, e a padronização surge como necessidade para integrar esses diferentes participantes de mercados. Quando a avaliação é feita com métodos padronizados, é mais fácil chegar a um denominador comum.

Para Barbosa, é fundamental fomentar a discussão sobre padronização e como pode ser internalizada no Brasil. “O conceito não é tão familiar aqui como em mercados mais desenvolvidos. O mercado conhece vários métodos, cada um com seus méritos técnicos, mas essa multiplicidade traz dificuldades para várias transações econômicas”, diz Barbosa ao comentar que algumas empresas já começam a adotar a padronização. É o caso da Deloitte.

De acordo com Marcela Yamamoto, sócia da Deloitte que representou o Brasil no Comitê Técnico de Valuation Global, a Deloitte passou pela jornada de criação de padrões quando foram lançados os ‘Valuation Global Standards’ em 2019, em um trabalho de mais de dois anos, iniciado pelos Estados Unidos, mas desenvolvido em conjunto por representantes das principais práticas de Valuation no mundo.

“Quando se discute a implementação de padrões, sempre há uma preocupação de ‘engessamento’ do processo e de como endereçar particularidades de ativos e/ou regiões, como diferenças de GAAPs contábeis e legislações. Nossa experiência mostrou que a padronização não é sobre definir o destino, mas sobre criar processos robustos, rotas e instrumentos para que se chegue ao destino de forma consistente”, conta Yamamoto.

De acordo com a sócia de Valuation & Modeling da Deloitte, a preocupação dos clientes com esse tema aumenta a cada dia, principalmente aqueles cuja estratégia de crescimento tem o M&A como pilar, considerando-se que uma transação tem o potencial de criar ou destruir muito valor para os acionistas. Com a volatilidade macroeconômica e o aumento das taxas de juros nos últimos anos, as discussões sobre o tema de impairment aumentaram. “De uma forma simplista, o teste de impairment tem como objetivo analisar se o capital investido é recuperável. Embora existam diversas razões para a apuração de um impairment (incluindo questões de mercado), verificamos que a inconsistência entre os critérios utilizados para a transação de M&A e os critérios a serem empregados para o teste de impairment pode ser um fator relevante, como, por exemplo, a utilização de critérios diferentes para cálculo da taxa de desconto fora de parâmetros de mercado, ou a estimativa equivocada do valor de um ativo intangível que impactará o resultado futuro da empresa por meio de sua amortização”, diz. “Aplicar metodologias e critérios consistentes na tomada de decisão de investimento e analisar quais serão os impactos nas demonstrações financeiras são passos importantes para a criação de valor para os acionistas, dada a relevância de temas de fair value no IFRS”, finaliza Yamamoto.

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