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23 de maio de 2024
Um grande desafio e, ao mesmo tempo, uma enorme oportunidade. Resumida dessa forma, a Reforma Tributária – voltada para os impostos sobre o consumo e prevista para ser concluída totalmente em 2033 – é uma jornada na qual todas as empresas, de qualquer segmento de negócio, precisam embarcar.
As corporações farão várias adaptações e mudarão processos para se adequar aos novos modelos de tributação. Isso vai trazer inúmeras oportunidades às áreas tributária e fiscal, e o resultado maior deverá ser a simplificação dos modelos de arrecadação, quando a reforma estiver totalmente implementada. Simultaneamente, no curto prazo, é preciso se preparar para lidar com toda essa mudança.
Esse ambiente de início da preparação do mercado para as transformações que virão foi mapeado pela nova edição da pesquisa Tax do Amanhã, conduzida pela Deloitte, organização com o portfólio de serviços profissionais mais diversificado do mundo.
Entre as percepções listadas pelas 172 empresas (dos segmentos de comércio, TI e Telecom, agronegócio, alimentos e bebidas, construção e infraestrutura, manufatura e serviços) que responderam ao estudo, existe o otimismo quanto às expectativas de benefícios que serão trazidos pela reforma. A maioria (78%) espera a simplificação dos impostos, enquanto 59% avaliam que haverá maior transparência sobre a carga tributária brasileira e 53% esperam a eliminação da redundância das obrigações acessórias.
Foram citados também, expressivamente, como esperança de ganhos, a melhor definição sobre fator gerador e conceitos em um cenário de IBS (o novo Imposto sobre Bens e Serviços), por 42% das participantes; o menor custo de compliance tributário (42%); a racionalização dos processos (40%); uma menor litigiosidade administrativa/judicial (39%); a menor proporção de impostos ao longo da cadeia produtiva (39%); a redução na frequência de alterações de normas tributárias (38%); maior segurança jurídica (36%); e a substituição por um modelo de tributação sobre movimentações financeiras, por 27%.
Desafios do momento
Convivendo ao lado desse panorama de otimismo geral, os desafios do curto prazo, por sua vez, despertam a necessidade de começar a se adaptar desde já – e, em alguns pontos, as organizações se mostram um pouco atrasadas.
Apenas 46% das empresas participantes, por exemplo, já realizaram estudo sobre os impactos da Reforma Tributária no consumo; entre as que ainda não o fizeram, 45% aguardam a publicação das leis complementares sobre o assunto.
“O ambiente de negócios tributário brasileiro está perto de vivenciar uma fase de intensa transformação, que deve se iniciar pela implementação das novas legislações, perdurar pela convivência de dois modelos durante a transição e englobar outros elementos da Reforma Tributária, principalmente o da tributação sobre a renda”, aponta Gustavo Rotta, sócio de Consultoria Tributária da Deloitte.
Para Rotta, “este cenário trará oportunidades às áreas de compliance tributário e fiscal”. “Porém, é necessário que, no curto prazo, durante a fase de transição, que deve durar até 2032, empresas e lideranças estejam preparadas para os novos desafios. Departamentos fiscais devem focar na antecipação, na estratégia e na execução e, principalmente, impulsionar as organizações em um ambiente de negócios cada vez mais complexo.”
Apoio da tecnologia
Adaptar-se ao cenário intrincado que virá é uma preocupação que acaba incentivando o investimento das corporações em tecnologias – o que, por sua vez, acaba amenizando o desafio na contratação de profissionais especializados na área tributária.
É consenso que a adoção dessas tecnologias, apoiando o dia a dia dos colaboradores, é fundamental para lidar com a complexidade dessas operações, melhorando a eficiência como um todo, além de ajudar em pontos como a redução dos riscos de inconformidade de regras e legislações, proporcionando mais condições para tomadas de decisões com base em dados e mantendo a competitividade e a relevância.
De acordo com dados da Deloitte, hoje aproximadamente 30% do trabalho dos profissionais do segmento tributário é dedicado às atividades pós-pagamento (atendimento à fiscalização e gestão do contencioso).
É exatamente um ganho de tempo que a tecnologia proporciona, permitindo aos profissionais se dedicar mais a outros tipos de tarefa. Algumas das inovações que têm relevância nesse cenário são o armazenamento em nuvem (modelo adotado por 51% das empresas e que também apoia ganhos em eficiência operacional e redução de custos) e a inteligência artificial (IA). No entanto, ainda existe um longo caminho a percorrer, já que o estudo da Deloitte mostrou que somente 12% das organizações respondentes fazem uso da IA nas operações. Ao mesmo tempo, isso mostra que existe um amplo leque de oportunidades ainda não exploradas.
Para Luiz Rezende, sócio-líder de Consultoria Tributária da Deloitte, o uso de IA representa uma oportunidade de automatizar as operações e ganhar eficiência, permitindo que os profissionais se dediquem à compreensão e à aplicação das novas regras. “Ao considerar a complexidade do ambiente tributário e as transformações esperadas para este mercado daqui em diante, é fundamental que as organizações reorganizem seus modelos de operação, investindo continuamente em treinamentos – visando qualificar e atualizar seus profissionais sobre novas tecnologias e na própria legislação. Esses investimentos contínuos devem se manter na agenda das organizações no futuro, considerando as transformações decorrentes da Reforma Tributária”, afirma o executivo.
Futuro: por onde as empresas pretendem seguir
A pesquisa trouxe ainda alguns insights de caminhos pelos quais as respondentes pretendem seguir – são as medidas a ser adotadas como preparação para o ambiente inicialmente mais complexo que virá. Quase 40% das empresas pretendem revisitar o modelo de operação da área fiscal, com o objetivo de terceirizar o compliance apenas dos novos tributos (18%), ou dos tributos atuais (11%), ou terceirizando completamente o compliance (7%).
Com a necessidade de melhor coordenação sobre as leis complementares (cuja discussão ainda tramita por diferentes instâncias da administração pública), a possibilidade de lidar com custos não previstos (41%), a falta de segurança jurídica (39%) e a perda de incentivos (37%) ocupam o topo da lista de preocupações. Por ora, isso também dificulta a execução de um plano de negócios eficaz, pois ainda não estão suficientemente claros todos os aspectos envolvidos na reforma, como o modelo de cobrança, restituição e fiscalização, entre outros temas.
Premiação Profissional Tax do Amanhã reconhece profissionais que aplicam práticas modernas de gestão fiscal
Com a adaptação à Reforma Tributária, a área tributária das empresas tem se destacado pelas inúmeras transformações, e a tecnologia tem se mostrado fundamental nesse período. O estudo Tax do Amanhã mostrou que a contratação de profissionais qualificados é o maior desafio para o setor (para 63% das empresas participantes). Além disso, segundo a pesquisa, entre 2022 e 2023 houve um aumento de 48% na necessidade de treinamento em novas tecnologias.
Para reconhecer executivos e executivas que têm se sobressaído por implementar, em suas empresas, modernas e eficientes práticas na área tributária, na vanguarda das transformações tecnológicas, a Deloitte idealizou a premiação Profissional de Tax do Amanhã. “Há pouco mais de um ano, em conversa com nossos clientes e parceiros, constatamos que as premiações que já existiam na área eram todas voltadas para o conhecimento técnico do profissional tributário e sentimos a necessidade de testar algo que reconhecesse a visão e a aplicação tecnológica”, relata Luiz Fernando Rezende, sócio-líder de Consultoria Tributária da Deloitte.
De acordo com Rezende, um bom profissional de tax era aquele que tinha um grande conhecimento técnico e uma experiência superficial em áreas como gestão, estratégia, tecnologia e mudança. Mas isso mudou: além da parte técnica tributária, os profissionais necessitam de expertise tecnológica como usuários e desenvolvedores de tecnologia.
Para a primeira edição da premiação, foram selecionados líderes de 11 categorias: Multinacional; Nacional; Indústria; Energia, Óleo e Gás; Saúde e Vida; Serviços Financeiros; Tecnologia e Telecomunicações; Alimentos e Bebidas; Agronegócio; Bens de Consumo e Comércio e Logística. Ao todo foram reconhecidos 35 finalistas e os premiados, nas respectivas categorias, foram: Augusto Flores; Joyce Felisberto de Oliveira; Bárbara Neves; Elisabete de Jesus Gonçalves; Daniella Aguiar; Rafael Lima dos Santos; Fernanda Naomi Kataoka Nakamura; Carmem Elizabeth Degenhardt; Andressa Mazzafera; Andrea Serra e André de Souza Pacheco.