Jornada ESG

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Estadão Blue Studio

Empresas terão novas normas para divulgar informações de sustentabilidade e clima; entenda o cenário

Organizações brasileiras devem se preparar para adequação às normas IFRS S1 (Sustentabilidade) e IFRS S2 (Fatores Climáticos), que vão padronizar e melhorar a confiabilidade dos dados relacionados à sustentabilidade dos negócios e definir como fatores climáticos impactam suas operações

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16 de novembro de 2023

Novas formas de reportar ao mercado financeiro os dados e resultados relativos à sustentabilidade dos negócios e à influência do clima nas operações estão perto de entrar em vigor no Brasil, representando um desafio para as empresas de todas as áreas e tamanhos, em especial as de capital aberto.

Desde já, para se adequar, as empresas devem entender seus níveis de maturidade em relação aos requerimentos e, se necessário, alterar processos, ajustar a captura de dados e capacitar seus profissionais para cumprir as novas normas, denominadas IFRS S1 e IFRS S2. A primeira, referente à divulgação de informações para dar transparência aos riscos e oportunidades relacionados à sustentabilidade que afetam as empresas no mercado de capitais, de forma a contribuir para o desenvolvimento de uma economia sustentável, e a segunda, com foco nas divulgações das políticas e dos procedimentos adotados pelas empresas para enfrentamento e mitigação dos impactos das mudanças climáticas. Tais normas são internacionais e entram em vigor a partir de 1º de janeiro de 2024.

Essas normas foram emitidas em junho de 2023 pelo International Sustainability Standards Board (ISSB) e aprovadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em outubro de 2023. O Brasil é o 1º país no mundo a adotar essas normas em âmbito nacional, onde as companhias de capital aberto, fundos de investimento e securitizadoras deverão divulgar de forma voluntária a partir de 1º de janeiro de 2024. A partir de 1º de janeiro de 2026, as companhias de capital aberto deverão divulgar obrigatoriamente o relatório de informações relacionadas à sustentabilidade e ao clima na mesma data de arquivamento do Formulário de Referência. A partir do segundo ano de adoção, o relatório deverá ser divulgado na mesma data de emissão de suas demonstrações financeiras.

A IFRS S1 e a IFRS S2 têm como objetivo melhorar a padronização e a confiabilidade das informações relacionadas à sustentabilidade e aos impactos climáticos, além de incentivar a discussão sobre esses temas nas empresas. No mercado – investidores, bancos, fornecedores, entidades governamentais – e nas próprias empresas, por sua vez, há uma expectativa de que a normatização ajude nos processos de tomada de decisão e na identificação dos principais riscos e oportunidades relacionados à sustentabilidade e aos fatores climáticos.

“Essas normas não apenas facilitam o comércio internacional e o acesso a investimentos, mas também viabilizam linhas de crédito às empresas que atendem a determinados critérios de sustentabilidade e ESG (ambiental, social e de governança) ou àquelas que têm uma maturidade mais avançada nesses temas. Elas também são vantajosas para a sociedade como um todo, permitindo que as informações financeiras ligadas à sustentabilidade e ao clima sejam apresentadas de forma mais clara e confiável”, explica Reinaldo Oliari, sócio de Audit & Assurance da Deloitte. Ele lembra que, atualmente, há inúmeras maneiras de apresentar essas informações, “sem uma norma que propusesse uma padronização global”.

Assim, de acordo com a gerente de Audit & Assurance da Deloitte e especialista em ESG, Daniele Soares, naturalmente surgem desafios no ambiente corporativo, no sentido de “acertar os ponteiros” no processo de preparação para o tema, justamente por se tratar de uma forma totalmente nova de apresentar os dados.

“O período antes do início de vigência das normas é de extrema importância para as empresas definirem os próximos passos, entendendo o nível de maturidade atual e o que é necessário fazer para que se cumpram as novas regras”, afirma a executiva. “É fundamental compreender, por exemplo, se a empresa conta com profissionais especializados para ajudar nessa jornada. Afinal, disso dependerá não apenas a implementação das normas, mas as próprias ações internas que serão, posteriormente, relatadas ao público.”

De acordo com os especialistas da Deloitte, a recomendação é que, nesse primeiro momento, seja feito um diagnóstico detalhado para avaliar o nível de maturidade da empresa e planejar ações para implementação de maneira estratégica. O quadro de especialistas nos temas pertinentes – Contabilidade, Controladoria, Riscos, Sustentabilidade & ESG e Relação com Investidores – deve ser minuciosamente mapeado. Além disso, a empresa deve procurar realizar sessões e programas de Perguntas & Respostas com seus colaboradores, para que as estratégias de implementação sejam apropriadamente definidas e executadas.

A empresa deverá, ainda, fazer uma avaliação dos projetos relacionados ao tema – riscos de transição, pesquisa e desenvolvimento, resiliência de seus negócios, entre outros pontos –, buscando inclusive adequar seus relatórios atuais às novas normas.

Na prática, isso significa levantar, por exemplo, quais serão os impactos no fluxo de caixa da empresa, se algum ativo necessita de uma provisão de impairment, se haverá alguma provisão de riscos a ser contabilizada e os potenciais ajustes em sua despesa de capital, que afetarão os resultados presentes e futuros da organização.

 

Pesquisa da Deloitte revela avanços sobre temática ESG no Brasil

Recentemente, a Deloitte divulgou um estudo em parceria com o Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri) com detalhes sobre a jornada ESG nas organizações brasileiras, tema diretamente ligado às novas normas.

A pesquisa revelou avanços: 30% dos entrevistados afirmaram ter um especialista em ESG em sua equipe de RI (relações com investidores), enquanto 17% têm planos de contratar um ainda em 2023.

O levantamento também mostrou que existe um crescente envolvimento dos profissionais de RI com temas ESG – o que foi apontado por 88% dos entrevistados. Isso reflete uma mudança na abordagem das empresas em relação aos conhecimentos e às habilidades necessários para a implementação de práticas e indicadores ambientais, sociais e de governança.

Enquanto isso, 78% das empresas respondentes também afirmaram já discutir questões ligadas à prática de responsabilidade ambiental nas reuniões de seus Conselhos de Administração. Todos esses indicadores, de acordo com a pesquisa, devem registrar grandes avanços até 2030.

Um dos pontos levantados foi o de que existe, hoje, o desenvolvimento de uma série de modelos variados de relatórios de sustentabilidade, para comunicação dos dados ao mercado financeiro. É justamente para padronizar esses relatórios que, agora, chegam as normas IFRS S1 e IFRS S2, pois diversos stakeholders (investidores, bancos, entidades governamentais e demais partes interessadas) já apontavam dificuldades em lidar com a multiplicidade de dados e modelos.

“A convergência dos frameworks atuais para as IFRS S1 e IFRS S2 irá facilitar a análise e a compreensão do desempenho financeiro e a estratégia futura da organização, por meio de métricas e metas referentes aos assuntos relacionados à sustentabilidade e ao clima, em empresas de diversos países”, afirma Oliari.

Para Daniele Soares, outros ganhos ocorrem em relação à melhoria da governança corporativa, pois essas normas incentivam a adoção de práticas contábeis mais transparentes e responsáveis sobre os riscos, e às oportunidades atreladas às mudanças climáticas e à resiliência operacional de cada organização.

“Ao aumentar o rigor sobre as divulgações e a estrutura de governança, essas normas irão proporcionar aos investidores atuais, bem como aos potenciais investidores, maior poder de decisão, com a possibilidade de comparar indicadores e práticas de sustentabilidade e ESG de cada empresa”, afirma a especialista.

 

Próximos passos das normas

No momento, portanto, as empresas devem se planejar em usar os próximos meses para buscar apoio na preparação e na adequação dos seus relatórios de sustentabilidade e ESG, relatórios integrados e, principalmente, para identificar quais serão os potenciais impactos em suas demonstrações financeiras.

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