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22 de dezembro de 2020
Com as empresas planejando cuidadosamente seus próximos passos para a retomada pós-crise, a atuação das áreas de Auditoria Interna ganhará ainda mais importância dentro das organizações. Isso se dará com um movimento em direção a uma atuação mais consultiva e preditiva, que possibilite às lideranças obterem insights estratégicos para os negócios, de modo a apoiar as empresas a atravessar essa fase desafiadora da melhor forma possível.
Esse foi um dos destaques da pesquisa Auditoria Interna no Brasil 2020: Percepções e Expectativas dos Membros de Comitê de Auditoria, realizada pela Deloitte em parceria com o Instituto dos Auditores Internos do Brasil (IIA). O levantamento contou com a participação de 140 Comitês de Auditoria de 20 países, incluindo o Brasil. A conclusão mais importante: dentro de qualquer organização, a área de Auditoria Interna precisa se reestruturar para endereçar as pautas mais urgentes, em vez de evitá-las.
Definição de papéis e habilidades
A maioria dos entrevistados (92%) apontou que a Auditoria Interna deve assumir definitivamente o papel de fornecer informações que apoiem as organizações, em especial os gestores, a se preparar melhor para o momento atual. “No atual cenário, e considerando os desafios existentes, a Auditoria Interna ganha ainda mais relevância para atender às crescentes demandas dos níveis executivos e dos Comitês de Auditoria. Isso exige uma atuação abrangente, com foco nos riscos prioritários e alinhada às diretrizes estratégicas de cada organização”, aponta Paulo Vitale, sócio de Risk Advisory da Deloitte.
Paulo Gomes, diretor executivo do IIA Brasil, tem uma visão semelhante e reforça as oportunidades criadas pela crise. “A Auditoria Interna vem sendo acionada para contribuir na solução dos grandes desafios que aparecem a todo o tempo”, explica. “As oportunidades trazidas com o contexto vigente têm contribuído para consolidar a importância do auditor interno e de sua capacidade de enxergar, de forma abrangente, como a organização pode ser mais eficiente, maximizando suas receitas e otimizando seus custos”.
Ampliar o leque de habilidades e talentos destas equipes – sejam os conhecimentos técnicos, ou ainda os pessoais e de negócios – é uma prioridade apontada por 96% dos entrevistados. O objetivo é contar com um time qualificado, que possa contribuir de forma efetiva na retomada das atividades das empresas, priorizando o conceito de equipes em vez de talentos individuais, sempre com olhar atento às particularidades dos negócios e às características e exigências de seu segmento de atuação.
Contexto brasileiro
A pesquisa da Deloitte aponta que, no âmbito local, é fundamental que as equipes desenvolvam capacidades para atender a assuntos de governança, sobretudo para endereçar questões ligadas à adoção de tecnologias digitais e às preocupações com riscos cibernéticos, ambientais e de proteção de informações.
“Não basta ao auditor interno ter o desenvolvimento técnico: aspectos comportamentais e de postura profissional tornam-se cada vez mais importantes dentro do novo escopo que se espera desses profissionais”, diz Marcos Peccin, auditor, consultor e diretor de Treinamento e Eventos do IIA Brasil.
Ainda sobre o momento do País, a expectativa é que as demandas a serem atendidas pela Auditoria Interna continuem crescendo, apesar de que o orçamento dessas equipes não tenderá a crescer. Com base nas perspectivas dos participantes da pesquisa, os auditores internos passarão a ter apoio de tecnologias digitais, inclusive no desenvolvimento de novas formas de executar seus trabalhos e no reporte dos seus resultados. “A evolução da tecnologia está transformando o perfil e a atuação dos auditores internos, que devem se tornar mais preditivos, analíticos e orientados aos negócios”, diz Heloisa Santos, diretora da área de Auditoria Interna da Deloitte.
Comunicação é fundamental
A importância de uma comunicação eficiente, assertiva e direta foi outro aspecto destacado por 86% dos entrevistados para aproximar a Auditoria Interna da gestão e auxiliar as suas organizações a atender os desafios do novo ambiente de trabalho digital. Um dos tópicos de atenção é a incorporação crescente de robotização e inteligência artificial em diversos segmentos de negócios, o que pode gerar novas demandas e desafios.
Os entrevistados apontaram que em muitas organizações os gestores das áreas auditadas são incentivados a apresentar de modo proativo eventuais problemas e ameaças aos auditores internos e aos Comitês de Auditoria, e que isso deve ser reconhecido como algo positivo. No entanto, algumas barreiras institucionais e aspectos culturais das organizações acabam dificultando essa atitude. Neste sentido, é esperado das áreas de Auditoria Interna uma postura mais proativa e colaborativa, com foco na resolução dos problemas e visão de futuro. “A capacidade de se desenvolver continuamente e de estar alinhado aos objetivos estratégicos da organização ajudará o auditor interno a reforçar o valor de sua área para a alta administração”, comenta Rene Andrich, presidente do Conselho de Administração do IIA Brasil.
O estudo evidenciou que a Auditoria Interna precisará cada vez mais ter rapidez na divulgação de seus resultados, o que irá demandar a adoção de métodos ágeis e de tecnologia nas etapas de planejamento e execução de seus trabalhos. A totalidade dos entrevistados na amostra do Brasil concorda que a inovação na forma de executar e reportar seus trabalhos pode contribuir para elevar a percepção de qualidade da Auditoria Interna, e que é preciso ter protocolos bem definidos para rapidamente levar ao conhecimento dos níveis executivos e Comitês de Auditoria os temas mais críticos e imediatos ao negócio.
Por fim, ficou claro que a Auditoria Interna está em uma posição privilegiada para ajudar as organizações a navegar por esses tempos turbulentos e apoiá-las em suas iniciativas de retomada dos negócios. E para isso a função deve evoluir tão rapidamente quanto as ameaças enfrentadas, o que exigirá disposição para deixar de lado métodos antigos, eliminar ineficiências, abraçar a inovação e priorizar atividades de maior valor agregado, com foco em temas mais relevantes.
Somente dessa forma a área de Auditoria Interna poderá atingir seus objetivos, não apenas para manter as organizações “no ar”, mas também para orientá-las a uma nova era pautada por resiliência, capacidade de resposta e, mesmo em tempos difíceis, lucratividade.