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2 de maio de 2019
O mundo está cada vez mais conectado, gerando uma infinidade de dados e elevando a complexidade dos cenários de riscos. Um pequeno incidente pode trazer fortes implicações e ameaças, mas também grandes oportunidades para as organizações que estiverem preparadas e com capacidade para capturar e monitorar essas informações.
Ambiente externo
Trata-se, antes de mais nada, de uma tecnologia avançada, utilizada para monitorar informações externas, como por exemplo, o humor do mercado e a percepção do ambiente externo em relação à empresa. “Neste caso, são analisadas notícias, comentários em redes sociais, informações setoriais, entre outros, cujo propósito é captar o clima e identificar eventuais situações adversas, antes que elas ocorram ou que ganhem força. O objetivo principal é apurar o que está sendo mencionado sobre a empresa, de bom ou de ruim, ou aquilo que não esteja diretamente relacionado a ela, mas que pode impactá-la”, explica Anselmo Bonservizzi, sócio da área de Risk Advisory e líder da prática de Riscos Estratégicos da Deloitte.
As tecnologias utilizadas nesses instrumentos, como inteligência artificial embarcada, permitem projetar eventos que ainda não se materializaram. “Essas ferramentas realizam análises avançadas que utilizam informações da empresa, ou correlacionadas a ela, para estabelecer e projetar tendências de riscos. É um estudo continuo e avançado de todo o seu ecossistema”, completa Bonservizzi.
Ambiente interno
Muitas vezes, a exposição ao risco operacional não é relacionada apenas a algo palpável, sua materialização pode depender de fatores que não estejam tão claros aos gestores. Por isso a importância de ter instrumentos que auxiliem a empresa a determinar e entender essas causas (análise preditiva), para então assumir uma postura preventiva. “A partir da identificação das causas e padrões desconhecidos que potencializam a materialização dos riscos operacionais, é possível criar medidas que inibam novas ocorrências”, explica Marcelo Machado, sócio da área de Risk Advisory e líder da prática de Riscos Operacionais da Deloitte.
Citando um exemplo prático é possível mencionar o risco de acidente de trabalho. Há todo um processo para evitá-los nas empresas (monitoramento, treinamento, regras de segurança e uso de equipamentos de segurança). Mas quais são realmente as causas não tangíveis ou claramente visíveis que contribuem para um acidente acontecer? Ao aplicar técnicas avançadas de análise de dados, é possível identificar correlações que potencializam a materialização desse risco. Um acidente pode ter como causa o cansaço do colaborador, devido a um excesso de horas extras, por exemplo, ou ainda por falta de manutenção de algum equipamento. “É preciso identificar as correlações, entender as variáveis que potencializam os riscos e definir ações para que elas sejam anuladas”, pontua Machado.
A análise profunda desses dados permite inclusive que as organizações identifiquem razões de uma rotatividade excessiva de seus colaboradores – uma problemática real em muitos setores – e, a partir dessas informações, aplique iniciativas práticas para reduzir essa taxa.
O principal desafio na implementação dessa abordagem, é ter um processo eficiente e automático para coleta, tratamento, gerenciamento e análise dos dados. Ainda há muitas empresas que não reúnem, ou simplesmente descartam dados extremamente importantes para o seu negócio. Muitas vezes esses dados já estão presentes em documentos existentes, é preciso o esforço de compilá-los. Com o avanço e redução de custos de tecnologias como Internet das Coisas (IoT), a tendência é que essa limitação evolua.
Muito além da tecnologia
O programa de gerenciamento de risco das empresas deve ter algumas características fundamentais para alcançar seus objetivos. É preciso, em primeiro lugar, envolver os altos executivos e integrar o tema na pauta do conselho de administração e do comitê executivo, para que ele possa ser difundido por toda a organização.
Para Anselmo Bonservizzi, o grande desafio hoje é cultural. “Nos últimos três anos, grandes empresas que atuam no Brasil falharam gravemente na gestão de riscos estratégicos, operacionais e de compliance”, pondera. As organizações hoje documentam seus riscos e seus controles, mas tendem a fazer verificações muito superficiais, simplesmente porque a regulamentação exige, ou porque o mercado espera que o façam e não como um instrumento de proteção dos seus valores, ativos e marcas.
Esse tema ainda é tratado como algo burocrático, como um custo a mais, ao contrário de uma atividade que pode evitar grandes perdas. “Quando tudo está calmo, significa que o trabalho de gestão de riscos está funcionando. As empresas devem focar em gestão de risco para evitar a gestão de crise, já que os valores para remediar crises são extremamente mais relevantes e impactantes para o seu negócio”, complementa Anselmo.
Próximos passos
Diante de situações que surgem em uma velocidade surpreendente, é necessário utilizar novas ferramentas tecnológicas e novos recursos para avançar, acompanhar as mudanças e desenvolver maturidade.
As inovações tecnológicas oferecem novas formas de gerenciar riscos e não há como fugir dessa realidade futura, porém, elas são apenas instrumentos a mais para lidar com a questão – não a solução completa. “Os profissionais da área devem assumir uma postura muito mais analítica e estratégica, do que operacional. Isso promove um grande ganho para efetividade do gerenciamento dos riscos”, finaliza Anselmo Bonservizzi.