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24 de maio de 2016
O noticiário mostra, quase que diariamente, ações mais efetivas e maior rigor dos órgãos de fiscalização e investigação no País em relação a situações de não aderência a padrões esperados de boa conduta corporativa, bem como recentes acordos selados de leniência e delações envolvendo empresas.
“O mercado tem visto uma aplicação clara das penalidades. Em contrapartida, as empresas têm trabalhado fortemente na prevenção à fraude e na investigação de denúncias. Há uma cobrança efetiva, por parte dos administradores, para evitar que esses riscos se perpetuem. Esse movimento é positivo para o Brasil e, superado este momento de crise econômica e política, certamente o cenário será ainda melhor”, esclarece Ronaldo Fragoso, sócio-líder da área de Consultoria em Gestão de Riscos da Deloitte.
José Paulo Rocha, sócio da área de Financial Advisory e à frente da linha de serviços forenses da Deloitte, destaca o bom trabalho dos órgãos responsáveis em conduzir processos investigativos, envolvendo tanto pessoas físicas quanto jurídicas, e reforça a importância de continuidade, olhando para o longo prazo.
Segurança ao investidor
O compliance existe para assegurar que as regras estão sendo cumpridas e garantir a aderência às regulamentações. É uma importante medida de prevenção: a companhia mostra ao mercado que está cumprindo o seu papel, o que gera segurança. “A ausência do compliance aumentaria o risco, do ponto de vista de quem investe. Este amadurecimento do compliance assegura um pagamento mais favorável aos investimentos feitos no Brasil”, pondera Rocha.
O grande desafio do compliance hoje, na opinião dos dois executivos, é conciliar a urgência da necessidade de correção – em função do cenário atual –, e o fator cultural. Existe o questionamento: como mudar, rapidamente, práticas utilizadas por anos dentro das empresas?
A legislação vem mostrar justamente o que é permitido ou não, obrigando a rápida revisão de processos. Os consultores orientam que, em função deste rigor, as empresas, em processos investigativos, devem ter a postura de acatar a investigação, reconhecer suas limitações e cooperar com o processo.
“As boas práticas de governança nos dizem hoje que, quanto mais transparente, colaborativa, franca e aberta for a empresa, melhor. Isso tem, do ponto de vista do legislador e do investigador, uma resposta muito positiva”, argumenta Rocha.
Imagem e reputação
Fragoso explica que a maioria das empresas no Brasil vem atuando bem, em menor ou maior grau, no momento da crise, ou seja, quando os riscos de imagem e reputação já se materializaram. Porém, precisam se comprometer em estruturar e corrigir processos, antes que seja tarde demais. . “Há uma preocupação muito grande, principalmente entre as empresas de maior projeção, quanto a eventuais danos à sua reputação. Quanto maior a exposição, maiores os reflexos de uma eventual crise em relação ao mercado. Trata-se, hoje, de uma questão de sobrevivência”, finaliza Fragoso.
Crise de confiança
A pesquisa “A Crisis of Confidence”, realizada pela Forbes Insights em nome da Deloitte, ouviu 317 executivos de todo o mundo, no final de 2015, para captar como eles têm reagido às ameaças e trabalhado na prevenção de riscos, destacando, sobretudo, o papel do compliance. Conforme as respostas, 76% deles acreditam que a sua empresa tem as capacidades necessárias para lidar com uma crise instalada, mas apenas 49% dizem que elas estão efetivamente preparadas para situações como esta, com monitoramento e processos eficazes para detectar problemas.