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11 de abril de 2016
Faz algum tempo, dois termos que guardavam pouca relação entre si passaram a ser ouvidos lado a lado com frequência no ambiente de negócios: ativismo e mercado de capitais. A crise internacional, que, desde 2008, provoca turbulência e frequentes quedas nos mercados acionários, vem estimulando uma nova postura por parte dos investidores.
Mais assertivos e atuantes, eles agora não se contentam só em acompanhar os números, o desempenho e as estratégias já definidas das empresas nas quais aplicam recursos financeiros. Querem também – além de dados e informações para monitorar e fiscalizar a operação – participação efetiva e capacidade de influenciar os rumos do negócio.
O maior engajamento é visto como um movimento natural e positivo, acompanhado de uma tendência internacional de aperfeiçoamento das práticas de governança corporativa, mas, pelo lado das empresas, é preciso muito preparo para se adequar a essa nova realidade. As áreas de relações com investidores (RI) e os conselhos de administração – interlocutores naturais de acionistas sedentos por maior protagonismo – são as estruturas mais expostas dentro desse cenário e precisam estar bem ajustadas para fazer frente às novidades.
Bruce Mescher, sócio da área de Auditoria da Deloitte, avalia que os profissionais de RI e dos conselhos de administração devem puxar a fila na hora de desenvolver ações, formas e instrumentos adequados de atendimento a um público cada vez mais exigente e sofisticado em suas demandas.
“Esse ainda é um fenômeno relativamente novo no Brasil”, afirma Mescher. “Para lidar bem com o ativismo, é preciso construir estratégias que levem em conta os diferentes níveis de engajamento, os objetivos e a atuação dos investidores, assim como é importante saber se eles têm horizontes de longo ou curto prazo. Esse trabalho cobra uma permanente interação entre o RI e os componentes do conselho de administração.”
Maior participação
Ativistas não vêm com manual de instruções. Existem, no entanto, aspectos da governança corporativa que precisam ser aprimorados para que o diálogo e a relação com eles sejam saudáveis e construtivos. Nesse sentido, há a necessidade de entender profundamente a base acionária da empresa. Conhecendo os investidores que compõem essa estrutura – quem são eles, seu histórico de atuação nas organizações e o que pretendem –, as empresas podem montar estratégias e respostas preventivas a possíveis investidas ativistas.
O ativismo, considerado aqui no sentido da busca por maior participação na vida da empresa – algo que pode ser praticado quando se indica, por exemplo, componentes para os conselhos fiscal e de administração –, ainda é visto com uma dose de estranhamento por muitas organizações.
O recomendável, no entanto, é que se altere essa percepção. Com inúmeros investidores possuindo suas ações, as companhias de capital aberto podem, se souberem interpretar adequadamente o que pretendem seus acionistas, aprender muito, avançando em governança e, com isso, no tratamento a ativistas.