A era da experiência também está impactando a área de seguros. Nesse ponto, já não falamos mais em novas ferramentas digitais. A conversa é sobre novas relações entre empresas e mercados e, claro, entre companhias e pessoas. Os clientes não irão mais se adaptar às novas tecnologias. Agora, elas é que precisam se adaptar a eles.
Uma pitada desse relacionamento promissor: atualmente, empresas de tecnologia estão se unindo a fabricantes de veículos para tornar viáveis planos de seguros para carros autônomos, para entender o motorista em sua individualidade e ajudá-lo a dirigir melhor e, assim, mudar seu perfil de risco. Por outro lado, empresas de seguro residencial colaboram com players da área de automação para criar casas conectadas e protegidas. Seguros de vida criam sistemas que ensinam as pessoas a terem rotinas mais saudáveis. E o avanço em Internet das Coisas monitora as taxas de sucesso por meio do uso de gadgets no dia a dia.
“Gosto de dizer que o seguro é um remédio para um problema que já aconteceu, como uma casa alagada. A tecnologia tem potencial para mudar esse papel. Em vez de remédio, vira ferramenta de proteção”, avalia Raphael Araújo, diretor executivo da área de Financial Services da Accenture no Brasil.
Esse novo estilo de atuar traz relevância às seguradoras e permite que elas sobrevivam em um novo contexto. “Muitas pessoas provavelmente nem se lembram qual é o nome da empresa que usam se nunca precisaram acionar o seguro. Mas se ela está todo o dia lembrando o cliente da manutenção do carro ou de ingerir mais água ou um remédio, por exemplo, ela ganha valor.”
Novos mercados, novas tecnologias, novas relações: ganha-ganha para todos os envolvidos
Duas empresas francesas, chamadas Groupama e Europ Assistance, já oferecem serviços assim a seus públicos de idade avançada. Esta última criou o Connect et Moi, uma plataforma que aprende sobre a rotina dos clientes usando detectores de movimento e outros sensores. Assim, pode enviar alertas quando nota mudanças repentinas – por exemplo, um tempo maior no banheiro sem se mover ou idas menos constantes à cozinha, o que pode ser indicativo de um quadro futuro de desnutrição.
As novidades alcançam até mesmo seguros para lavouras. A empresa global Swiss Re fechou parceria com a província chinesa de Heilongjiang e com a Sunlight, companhia de seguros focados em agricultura, para oferecer produtos que protegem fazendeiros contra riscos de catástrofes naturais. Juntas, elas oferecem soluções de alta tecnologia baseadas no monitoramento do clima e das enchentes.
Para que isso vire realidade no Brasil, é preciso fortalecer a confiança entre todos os envolvidos na cadeia de seguros, principalmente nos corretores. Hoje eles realizam boa parte das demandas, como cotações de apólices, aberturas de sinistros e detecção de fraudes. Existe a perspectiva de que no futuro essas tarefas sejam realizadas, pelo menos em parte, por robôs. As seguradoras devem focar no treinamento para que sua força de trabalho funcione junto com as máquinas, supervisione seus resultados e alcance, assim, patamares mais elevados de excelência.
“Vemos esses limites como um campo importante de análise para construir uma visão de longo prazo. É possível investir de modo comedido, plantar sementes e testar algumas ideias. Num momento econômico mais propício, quem fizer isso poderá sair na frente”, afirma o executivo.
Veja a seguir as cinco principais tendências mapeadas pela Accenture no estudo chamado “Technology Vision for Insurance 2017”, uma pesquisa conduzida com mais de 500 executivos em 31 países, incluindo o Brasil. Elas ajudam a entender o novo momento e a traçar metas condizentes com ele.