No último dia 20 de setembro, empresários, cachaciers e agentes do governo se reuniram em São Paulo para debater os desafios para o crescimento da cachaça no Brasil e no mundo. Palestrantes do evento “Cachaça: Símbolo Nacional” afirmaram que o segmento teve avanços significativos nos últimos vinte anos. No entanto, há obstáculos a serem vencidos para que a cachaça alcance seu merecido lugar de destaque entre outros destilados do mundo.

Para Carlos Lima, diretor executivo do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), é preciso revisar a carga tributária incidente sobre a bebida. “Dificilmente, haverá crescimento sem mudança nos impostos”, diz ele. De acordo com cálculos do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), a cachaça é um dos produtos campeões de tributos do País: as taxas representam 81,87% do preço do líquido.

Além de atrapalhar a progressão do setor, os tributos fomentam a informalidade – um problema de saúde pública. Dados preliminares do Censo Agropecuário 2017 revelam a existência de 11 mil produtores de aguardente de cana-de-açúcar no País.  Porém, somente 1,5 mil são registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Segundo Helder Moreira Borges, coordenador do Departamento de Vinhos e Bebidas do Mapa, o ministério tem somente um fiscal para cada 97 estabelecimentos. Como os agentes trabalham em dupla, a proporção sobe para 194 produtores por fiscal. É pouco.

Outra barreira a ser ultrapassada, na opinião de Vicente Bastos Ribeiro, produtor da Fazenda Soledade, em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, é o preconceito nacional contra o líquido. “Muitos brasileiros amam tequila, pisco e grapa, mas não a cachaça. Nós precisamos ter orgulho da nossa bebida. Se não nos fortalecermos internamente, chegaremos ao exterior sem força”, diz.

Em favor do segmento, explica Bastos, pesa o fato de as cachaças hoje terem muito mais qualidade. “Há um aprimoramento nas embalagens e nos líquidos. Muitos consumidores brasileiros estão aprendendo a apreciar cachaças de qualidade. Bares e restaurantes finos oferecem carta de cachaça, o que não existia há 20 anos”, afirma.

Nesse sentido, o setor está em sintonia com a tendência mundial de beber menos quantidade e mais qualidade. No chamado mercado premium, há lugar para a bebida brasileira entre pessoas que tomam gin, uísque e tequila, por exemplo. “A cachaça não deixa nada a desejar a nenhum outro destilado e para coquetéis é tão versátil quanto o rum, sua bebida ‘irmã’, também feita a partir da cana-de-açúcar”, afirma a bartender Adriana Pino, de São Paulo, vencedora da etapa brasileira do World Class Competition 2018, concurso de coquetelaria promovido pela Diageo, líder mundial na produção de destilados.

Uma das medidas mais importantes para o fortalecimento da indústria, e o IBRAC foi um ator importante neste processo, é o reconhecimento da indicação geográfica da bebida. Estados Unidos, Colômbia e México consideram a cachaça, por lei, um produto brasileiro. Nesses lugares, somente o líquido fabricado no Brasil pode ser comercializado como cachaça. Camila Sande, assessora da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), afirma que a prioridade, no momento, é obter o reconhecimento por parte da União Europeia. “A União Europeia é o principal mercado da cachaça, enquanto bloco, e referência para outros mercados, por isso a importância da cachaça ser protegida neste mercado.”